4 - Um assassino depressivo

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Duas semanas depois...

Desnorteado. Ferido. Alcoolizado.

Dirigia meu carro sem rumo e acima da velocidade, a pista estava molhada.
100Km por hora numa pista vazia, o carro derrapou, saio da pista e...

- droga. - acordei com o coração apertado, os sentimentos daquela noite a dois anos atrás afloraram, lembrei um pouco mais...

2015

Sentei no balcão e já pedi algo forte para me animar, ou derrubar mais ainda.
Uma garota se sentou ao meu lado sorrindo, a música alta não me permitia que prestasse tanta atenção em suas palavras.

- beber pra esquecer os problemas, típico. - disse a garota loura de cabelos nos ombros.

- esquecer é bom, quero que meus fantasmas sumam - ponderei

- não vão sumir, você tem que enfrentá-los. - dei um gole na bebida, desceu rasgando e quente. - e então com sua coragem, eles fugiram de você.

Então comecei a chorar, nada mais natural que um bêbado chorando, paguei a conta.

- não desista de você. - ela apertou minha mão enquanto eu levantava e a deixava lá, sozinha.

Fui até o banheiro para lavar o rosto e ir pra casa, porém quando vi meu reflexo no espelho, não vi nada além de um assassino, a raiva me deixou descontrolado e cheio de coragem, dei um murro no espelho com força e sai correndo pro meu carro.

2017

- Lhou vai se atrasar de novo - a voz da minha irmã ecoou pelo corredor.

Eu tinha esquecido dessa conversa com a tal menina, nem lembro o nome dela, mas agora tudo veio a tona.

Ela tentou me animar, porém eu apenas lembrei que sou um assassino.

Foi terrível. Eu quis morrer igual meu pai.

(...)

Me sentei ao lado de Thalia na sua sala, onde ela estudava alguma matéria do seu curso de jornalismo, minha sala era no quarto andar e eu estava atrasado.

- vai pra sala Lorham - murmurou

-Esta me expulsando? - ela sorriu

- estou, tchau Lorham. - eu sorri, estava disposto a perturbá-la

- então eu não vou te dar oque Nick lhe mandou. - ela arqueou as sobrancelhas

- Me dá logo Lorham- eu estendi o envelope, o convite de aniversário dos 15 anos da Nickola. - que fofo meu Deus. - eu sorri

- Ela disse que amaria que você fosse, é semana que vem no sábado a noite. - levantei devagar e sai andando, sendo observado por um professor que acabará de entrar e havia me expulsado com o olhar.

Sai da faculdade, já havia batido o segundo sino, porém meu pulso ardia, e o meu corpo ansiava por ar puro, me sentei numa pracinha perto do meu prédio e olhei a paisagem, era manhã, uma manhã fria e húmida.
Tinha umas pessoas fardadas passeando em volta, pareciam ser de uma igreja. Quando menos esperei tinha uma garota bem bonita na minha frente, sorri me sentindo até meio importante. Porém ela encostou no meu calo.

- temos reuniões especificas para solucionar esse problema, porque depressão não é uma doença como dizem por ai, mas eu faço um desafio com as pessoas que se disponibilizarem, porque elas não vão sair da mesma forma.- ela falava com tanta convicção que até senti uma ponta de vontade de correr pra essa igreja, mas Jesus deve estar enjoado de mim, oque fazer? - Então se você conhece alguém que está nessa situação, esse domingo vai ser voltado para esse problema em específico. - ela não parava de me encarar, porém eu desviava os olhos. Quando nossos olhares se encontraram ela sorrio pra mim. - vou te esperar...

Eu sorri também, pela primeira vez em anos não foi forçado.

- Deus te abençoe- finalizou.
- obrigado - ela era jovem, queria ter sua disposição, a sua alegria de viver que era evidente em seu olhar.

O dia seguiu normalmente, cheguei do trabalho exausto, lembrando da garota da praia, eu desabafei com ela, nem lembro oque falei, mas quando ela apareceu no mercado hoje com a avó euf fugi.
Ninguém nunca me viu tão mal, além da garota do acidente, que diga - se de passagem, nunca mais vi na vida.
Só espero não ter dito que me cortava, droga eu não sou doente, eu só tenho uma alma em caquinhos e um milk shake da Starbucks que comprei no caminho.

Quando coloquei a cabeça no travesseiro comecei a me lembrar, as lembranças são terríveis. Mas fui forte, não me mutilar não bebi, chega um determinado momento na vida de um depressivo, que ele precisa controlar sua dor, e continuar vivendo com ela.

Pedaços de um coração partidoOnde histórias criam vida. Descubra agora