Capítulo 4

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     Syrena passou o resto da tarde estudando o livro misterioso, aprendendo cada vez mais sobre quem era e o que poderia fazer. A cada palavra que o livro lhe revelava ela ficava mais espantada e admirada. Haviam coisas ali que ela jamais sonharia em fazer, mas segundo o livro, era perfeitamente capaz de executar tais artifícios. Rituais de poder, o significado de cada símbolo no seu corpo, a importância da lua de outono...

     Ela levou a mão ao centro da sua testa e acariciou com a ponta dos dedos a pequena lua azul ali presente. Sempre pensou que suas marcas eram uma anormalidades, mas na verdade eram dons. E quanto mais marcas, mais poder.

     Erguendo uma palma ela observou os símbolos negros nas costas da sua mão. Não era possível que pudesse fazer todas as coisas que estavam escritas ali. Porém acreditavam que também não era possível uma pessoa ver as coisas que ela via.

     Um calor sobre as suas coxas chamou sua atenção e ela voltou o olhar para o livro. A capa e as folhas se enrugavam como se o objeto estivesse com raiva da sua dúvida. Franzindo a testa ela acariciou a capa preta e sentiu as vibrações. A vida. Realmente era como se o livro fosse um ser vivo.

     -Não é que eu não acredite em você. –Sussurrou percorrendo a ponta dos dedos pelo material antigo. –Eu só não acredito que eu consiga fazer todas essas coisas.

     O livro tremulou e se folheou sozinho. Quando pareceu que ele iria revelar mais palavras uma voz a fez pular de susto e o livro se fechou com um baque surdo.

     -Syrena! –Era Darius que se aproximava pelo jardim.

     Mais que depressa ela se levantou e escondeu o livro entre o tecido pesado de seu manto negro. Wilslley o havia entregado a ela em segredo, e ela o manteria daquele jeito para não causar problemas a ambos.

     -Sim? –Tentou parecer casual, mas sabia que sua expressão provavelmente a denunciava.

     Darius parou a uma certa distância dela e franziu a testa a analisando dos pés à cabeça. Por fim deu de ombros quase imperceptivelmente e acenou com a cabeça em direção á uma das saídas do jardim, ficando de lado para lhe conceder passagem.

     -O rei requere a sua presença.

     Ela soltou a respiração aliviada e seguiu na frente com as mãos entrelaçadas na frente do corpo, tomando cuidado para manter o livro bem escondido no lugar sob o seu ventre.

     Essa foi por pouco. Muito pouco.

~*~

     O pequeno Septimus estava deitado calmamente em seu berço observando Syrena com demasiada curiosidade. A jovem estava concentrada demais para prestar atenção nas reações da criança, caso contrário teria se encantado com aqueles olhinhos lindos a fitando tão fixamente.

     Murmurando as palavras do que ela descobriu ser um feitiço de proteção, Syrena desejava com o fundo do seu coração que funcionasse. Havia prometido a sua mahny que cuidaria dele, e o faria do melhor modo. Quando o que pareceu ser um campo de força de cor verde envolveu o corpo do menino ela exalou impressionada. Agora só precisaria testar.

      No meio das camadas de tecido do seu manto havia uma faca que ela tinha surrupiado da cozinha. Não pretendia fazer nada dramático como ergue-la no ar e depois tentar mergulha-la na carne da criança. Isso seria arriscado demais. Ao invés disso ela aproximou o objeto cortante com o máximo de cautela possível do jovem herdeiro, e como consequência o aço se pulverizou até não passar de um monte de pó cinza.

     Syrena recuou espantada. Realmente havia funcionado. E muito bem. Pensou sorrindo e recebendo um sorriso banguela do bebê que a encarava com tanta atenção. Dessa vez ela não pôde evitar sentir o coração se aquecer. Erguendo os braços para ele ela o pegou e limpou suavemente os restos de poeira que ainda estavam sob suas impecáveis vestimentas reais.

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora