Capítulo 22 - SYRENA

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Assim que atravessei o portal e me vi na entrada de Bloodworth eu soltei o ar que estava prendendo nos meus pulmões. Não chore. Era o que eu dizia a mim mesma enquanto tentava manter a calma. O que mais me deixava frustrava era que Markus não entendia que eu estava fazendo por nós... por ele. Não queria condena-lo a estar para sempre ao meu lado, por isso o libertei para que vivesse a sua própria vida, mesmo que estivesse ligada a minha.

Eu sabia que ele estaria saindo do palácio naquele momento. O senti se aproximar do meu quarto por isso me apressei em fazer o portal e atravessa-lo. Depois de praticar eu já fazia aquilo com a facilidade de abrir uma porta.

Quatro dias.

Eu tinha quatro dias antes de ser obrigada a encara-lo e explicar meus motivos. Mas por enquanto eu me concentraria na principal razão de eu estar ali.

Quando atravessei o arco que marcava a entrada da cidade não senti mais aquele clima pesado de ódio e vingança. Apenas dor e aflição corriam soltos pelo ambiente deserto.

Pelo visto eu consegui matar tudo de ruim desse lugar.

Engoli em seco com esse pensamento. Como contaria para aquelas pessoas que havia matado seus familiares? Como eles me receberiam depois de saber daquilo?

Mal comecei a processar esses pensamentos quando vi uma figura pequena sair correndo de dentro de uma das casas vindo na minha direção.

-Ela voltou! -Berrou o garoto abraçando as minhas pernas.

Uma a uma, as mulheres e crianças saíram dos seus esconderijos e vieram na minha direção, algumas sorriam, outras pareciam hesitantes e extremamente tristes.

-Você voltou. -Uma mulher com o semblante abatido sorriu para mim. A reconheci de imediato pela cicatriz que cortava o seu rosto.

Desviei o olhar para as outras ali e juntei as mãos em súplica na frente do corpo.

-Eu sinto muito. Eu precisei... Eu não queria... -Passei a língua por entre os lábios ressecados tentando controlar o choro.

Infelizmente as minhas tentativas se mostraram inúteis quando fui envolvida em um abraço acalentador. Deixei minhas lágrimas rolarem livremente enquanto era amparada por aquela estranha que não hesitou em me confortar.

-Shhh... Tudo bem. -Ela se afastou e acariciou meus cabelos sorrindo docemente. -O ódio deles os levou para esse destino, não você. Eles fizeram as suas escolhas. Não se culpe por não conseguir impedir o inevitável.

Aquelas palavras amorosas levaram um sorriso até os meus lábios trêmulos. Ela estava certa, não que aquilo diminuísse a culpa que eu carregava por ter causado tantas mortes, mas levava paz ao meu coração saber que elas estavam lidando bem com o ocorrido. Com certeza estavam lidando melhor que eu, afinal, foram elas quem sofreram todos aqueles anos nas mãos daqueles homens horríveis.

Uma adolescente passou pela multidão e se aproximou de mim segurando a manga do meu vestido. Seus grandes olhos castanhos estavam assustados.

-Mas agora sem pais e maridos, como vamos nos sustentar? Os poucos meninos que sobraram são muito jovens e... -Sua voz falhou quando eu segurei sua mão e a apertei de leve.

Voltei a olhar para todos ali. Em sua maioria eram todas mulheres e crianças, com exceção de alguns poucos meninos na faixa dos seus quinze anos e algumas adolescentes mais velhas. Eram um povo indefeso, mas não fraco. Eu podia sentir aquilo. Eles só precisavam de um pequeno empurrão.

-Vocês sobreviveram a esses homens durante anos. Acham mesmo que não conseguem sobreviver sem eles? Vou repetir as palavras que me disseram na última vez que eu estive aqui: vocês são mais fortes do que imaginam. E eu estou aqui para ajuda-los.

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora