Capítulo 10 - MARKUS

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     Eu fingia que estava dormindo enquanto ela banhava a minha testa com água quente e murmurava palavras desconexas. Algumas era compreensíveis (algo como bastardo ingrato, maldito masoquista... essas coisas), outras não passavam de sussurros que chegavam ocos aos meus ouvidos.

     O fato era que eu estava impressionado com aquela garota. Eu não esperava que ela fizesse a burrice de nos seguir e tentar me ajudar. Muito menos que conseguisse.

     Ela era uma bruxa? Sim. Mas saber fazer truques não salvou seu povo quando Marklon ordenou aquela chacina. Sim, eu sabia o que tinha acontecido, mas fiquei tão surpreso quanto o resto do povo quando descobri que havia uma sobrevivente do povo dizimado de Cyrin.

     Seus dedos finos contornaram o meu rosto enquanto ouvia mais palavras incompreensíveis. Poderia dizer que aquilo era gastação de saliva se não estivesse realmente me sentindo melhor a medida que ela continuava com o que quer que estivesse fazendo. Podia sentir o inchaço do meu rosto diminuir e as minhas entranhas voltando para o seu devido lugar e contive um suspiro de alívio.

     Quando sua mão pequena pousou sobre o meu coração os pelos dos meus braços se arrepiaram conforme um calor me consumia de dentro pra fora, porém permaneci imóvel.

     -Já terminei. Pode parar de fingir. –Sua voz falou acima de mim.

     Que seja! Pensei irritado.

     Abri os olhos e me surpreendi com a facilidade com a qual eu conseguir realizar a ação. Antes meus olhos estavam tão inchados que eu mal podia enxergar.

     Encarei Syrena enquanto ela torcia o pano que usara para limpar o meu sangue. E pela força que colocava nas mãos eu não me surpreenderia em nada se descobrisse que nos seus pensamentos eu estava no lugar do trapo.

     Limpei a garganta para chamar a sua atenção e me apoiei pelos cotovelos.

     -Errr... obrigada... por me ajudar.

     -Esqueça. –Falou indiferente.

     Mulheres!

     Rolei os olhos bufando. Se ela achava que eu ia ficar adulando-a, estava muito enganada. Nunca fui do tipo puxa-saco e não começaria naquela noite.

     -Certo então. –Falei dando de ombros e voltando a me deitar.

     Foi o tempo de eu entrelaçar os dedos atrás da cabeça e fechar os olhos para sentir algo molhado acertar minha barriga com força. Abri os olhos e encontrei o pano que outrora estava sofrendo nas pequenas mãos da minha salvadora. Syrena me encarava com ódio e seu rosto tatuado estava tingido de vermelho.

     -Quer saber, não. Não esqueça. –Apontou para mim. –Guarde nessa sua cabecinha dura que fui EU quem o ajudei. EU quem salvei a sua vida. Quem sabe assim pensará duas vezes antes de me tratar como um fardo. Uma garotinha assustada.

     -Eu já havia a salvado antes. –Rebati erguendo uma sobrancelha.

     -Então estamos quites. –Ergueu a cabeça para falar. –Isso nos faz iguais.

     Tive que rir. Porque ela estava certa. Estávamos quites no quesito "salvar vidas". Ela só não precisava dar aquele ataque todo só para me falar aquilo.

     -Ok. –Falei ainda rindo.

     -Ok. –Ela falou emburrada. Se fizeram alguns minutos de silêncio antes de voltar a falar, só que sem me olhar dessa vez: –Então, vai me dizer por que eles estavam com tanta raiva de você?

     -Você não faz mesmo nenhuma ideia?

     -Sei que você roubou o ouro deles. –Me encarou debochadamente.

     Ergui uma sobrancelha porque certamente aquela não era a educação que ela tinha recebido dentro do castelo. Parece que alguém estava ficando rebelde.

     -Na verdade eu ganhei. Aqueles dois cabeças ocas eram tão ruins em jogar quanto eram em perder. –Expliquei a encarando fixamente. –E você?

     -O que tem eu? –Perguntou indiferente desviando o olhar.

     Ela não me enganava. Sabia exatamente do que eu estava falando. A garota que ficou em um semi estado de choque quando me viu matar dois homens, agora tinha matado duas pessoas e queria que eu acreditasse que estava bem? Não pra cima de mim bruxinha.

     -Está bem? Com tudo o que aconteceu? –Insisti.

     A sombra de um sorriso dançou pelos seus lábios, porém ela continuou sem me olhar. A luz da fogueira deixando seu rosto ainda mais misterioso á noite.

     -Cuidado guerreiro. Assim eu vou pensar que se preocupa comigo.

     Dei de ombros. Se ela queria me provocar, não ia conseguir. Eu por outro lado...

     -Eu só quero garantir que quando precisar, vai usar seus truques de novo sem problemas.

     No mesmo instante seu sorriso desapareceu e uma expressão fria tomou conta do seu rosto. Acabei constatando como ela ficava bonita sorrindo, e assustadora séria. Sendo assim ela estava constantemente assustadora, visto que desde que nos conhecemos foram raras as vezes em que peguei um sorriso nos seus lábios, e aquela era a primeira vez que um deles era direcionado a mim.

     -Estou ótima. Obrigada. –Falou secamente e deitou de costas para mim.

     Sorri sacudindo a cabeça e voltei a posição inicial deitado de costas com os dedos entrelaçados atrás da cabeça. Estava cansado e antes que deixasse o sono me levar eu murmurei para a noite:

     -Boa noite bruxinha.

DESCULPEM O ATRASO! VOLTA ÁS AULAS, PÓS CARNAVAL, HORÁRIO DE VERÃO INDO EMBORA... FIQUEI MEIO PERDIDA.
ESPERO QUE TENHAM GOSTADO

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora