-Onde está o humano? –Grasnou a voz da anciã atrás de mim. Respirei fundo tentando não demonstrar o quão mal estava.
-Eu o despachei. –Falei casualmente. –Não era mais necessário. Enviará um relatório para Marklon.
A mulher velha anuiu sorrindo em aprovação mediante minhas palavras.
-Sábia decisão Clareza. Agora, sobre a visão de ontem...
-Jamais se deve contar o futuro de alguém. –A cortei fechando o semblante. –Coisas ruins acontecem.
-Ah claro, claro. Não vou importuna-la mais.
Acenei com a cabeça e voltei ao meu passeio. Não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, mas me sentia mais fraca. Nada grave, mas algo em mim mudara, e eu não sabia ao certo se aquilo era bom ou ruim. Meu plano funcionara, mas a que preço?
Markus...
Suspirei levando inconscientemente a mão ao peito, bem em cima do cristal do meu colar. De certa forma me senti melhor ao fazer aquilo. Imagens dele sendo empalado pelo guerreiro que havíamos visto nu (senti minhas bochechas esquentarem) outro dia me causavam arrepios. Daquela vez não houveram palavras nem códigos a serem decifrados. Apenas imagens nítidas de momentos isolados. A visão de um campo de batalha dizimado se repetira, e com ela voltara a sensação de que aquilo era minha culpa. Também vira os guerreiros de Bloodworth se preparado para a batalha, e o mesmo acontecia com os de Ilíria. Por fim veio a morte de Markus. Juro que sentia sua dor só com a lembrança das imagens da visão.
Por um momento eu precisei me sentar em um banco de madeira pois estava atordoada demais com a velocidade com a qual meus pensamentos corriam. Não queria pensar em Markus, mas ele sempre acabava voltando. Os momentos eu passamos juntos, isso é, quando não estávamos discutindo, me pareceram ter acontecido há anos e eu me peguei sentindo falta deles. Também da sua voz grossa dizendo palavras duras e raras vezes gentis, do seu olhar flamejante e de sua presença notável ao meu redor. Sim, Markus não era um homem que passava despercebido na vida de alguém. Era do tipo que deixava sua marca na alma da pessoa, fosse de um jeito bom ou ruim.
Estava tão perdida nos meus pensamentos que não percebi a mulher velha que nos recebeu na entrada da vila (não me esforcei para lembrar seu nome) vir na minha direção com uma aparência nada boa. Antes que eu pudesse sequer pensar no que fazer, fui cumprimentada com uma bofetada tão forte que me fez virar o rosto. Voltei a olha-la lentamente tendo a certeza de que ela, de alguma forma, tinha descoberto o que eu havia feito.
-O que você fez?! –Grasnou.
Como não respondi ela acenou para o homem que me acompanhava, esse agarrou meu antebraço com força e me forçou a acompanha-los.
-Garota insolente, tem ideia do que fez? –Perguntou a mulher enquanto andávamos. Sua voz parecia ácido.
-Vocês jamais terão meus poderes. –Respondi tranquilamente, embora a ardência na lateral do meu rosto me desse vontade de chorar. Eu não daria a eles aquele gosto.
-Ela entregou sua magia ao humano! –Cuspiu. –Está fraca! Inútil!
-Estou plena. –Sorri verdadeiramente, causando-lhe ainda mais raiva.
Aquela mulher queria, com todas as suas forças, me matar. O que só comprovava o quanto a minha intuição estava errada, e minhas visões estavam certas. Eles não queriam a mim. Queriam a minha magia. De alguma forma sabiam que a partir do momento em que eu resolvesse compartilhar meu corpo e minha alma com outro alguém, ele também seria abençoado com parte da minha magia, assim como meus filhos e os filhos dos seus filhos...
Sacudi a cabeça. Por que diabos eu estava pensando em filhos em um momento como aquele?
Fui levada para o interior da vila, onde havia uma espécie de poço. O homenzarrão me arrastou até a borda e começou a amarrar meus braços e minhas pernas com a corda que me levaria até o fundo. Tudo debaixo do olhar cortante daquela mulher asquerosa.
-Prefere aqueles ratos aos seus semelhantes! Traidora!
-Acham que eu não sei o que pretendia fazer assim que eu me deitasse com um de seus guerreiros? –A fitei friamente sorrindo de lado. –Acharam mesmo que por um segundo eu caí em toda essa ladainha de "Clareza" e "Seja feita a sua vontade"?
Vi ela fechar as mãos em punho e eu sabia que queria me bater novamente, porém não o fez. Apenas rosnou como uma cadela raivosa.
-Sua... isso não vai ficar assim. –Falou fazendo sinal para que o homem me descesse. –Você vai se arrepender dessa escolha.
Enquanto eu era descida, tentava em vão encontrar uma saída dali. Infelizmente eu temia que se queimasse as cordas a queda seria muito profunda (aquele poço parecia não ter fim) e eu não me sentia forte. Não como antes. Com a distância de Markus eu minguava aos poucos, mas ele estava a salvo por hora, e aquilo era o que importava.
Porém dentro do meu peito eu sabia, sabia que ele jamais me perdoaria. Mas antes ele vivo e magoado do que próximo e morto.
Sim, eu estava fazendo a coisa certa.
MINI CAPÍTULO, SORRY
ra b,ř=
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A Bruxa - EM REVISÃO
FantastikPLÁGIO É CRIME °Postagens toda Segunda-Feira °Prólogo já disponível °Capa feita por @FernandaRaquel3 18/06/2018 - 3° lugar em #vidente 18/06/2018 - 2° lugar em #vidente Syrena é uma refugiada de um povo completamente dizimado. Vivendo escond...