Capítulo 15

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     Syrena não sabia ao certo quanto tempo ficara presa naquele poço seco (talvez um dia ou dois), mas de uma coisa sabia: eles estavam se preparando para a batalha. Ela podia estar ligeiramente fraca, mas sentia a hostilidade escorrendo pelas paredes do poço. Felizmente se sentia um pouco melhor, menos tonta, então já tinha a capacidade de canalizar suas forças. Precisava sair daquele buraco ou não sobreviveria por muito mais tempo.

Um barulho chamou sua atenção e a fez olhar para cima. Sua única fonte de luz, a boca do poço, estava sendo vedada por uma pedra. A garota começou a sentir o desespero deixar seu corpo totalmente rígido.

-Para garantir que não cause problemas. –Uma voz masculina que ela desconhecida ecoou pelas paredes estreitas. Ela podia não estar vendo precisamente, mas sabia que havia um rosto a olhando de cima com desdém. –Não vai conseguir sair daqui. Se fosse mais esperta não teria dado sua magia ao humano.

Syrena não respondeu, apenas observou enquanto era enclausurada nas sombras. Quando tudo ficou escuro e o único som que ela podia ouvir era o da sua respiração, Syrena abraçou seus joelhos e pela primeira vez no meio de todo aquele caos ela se permitiu chorar. Temia pelo povo de Ilíria, o rei, os cavaleiros, o jovem Septimus, Markus... Tamanha era sua dor só em pensar que todos que amava corriam perigo.

-Me desculpe mahny. –Sussurrou em meio aos soluços. –Eu falhei com você.

Enquanto chorava e ouvia seus soluços ecoarem no vazio do poço, Syrena rezava para qualquer um que estivesse ouvindo pedindo forças. Ela queria sair daquele buraco, queria ajudar, mas estava fraca e faminta, de forma que escalar não era uma opção, ainda mais se considerasse a profundidade do poço.

De repente ela sentiu algo cair no seu colo e teve um sobressalto pensando que se tratasse de uma cobra. Porém era apenas uma corda muito grossa.

-Moça! Segure-se! –Bradou uma estridente voz infantil.

Mesmo confusa, Syrena se agarrou a corda e informou ao seu salvador, quem quer que fosse. Imediatamente ela foi puxada para cima com um solavanco, de forma que precisou se agarrar com mais força ou cairia.

Quando chegou à beira do poço havia uma pequena fresta por onde haviam jogado a corda, e ela não teve outra opção senão empurrar a pedra para que pudesse ficar livre. De início a luz do sol incomodou seus olhos, mas quando se acostumou com a claridade Syrena exclamou surpresa ao ver seus salvadores. Eram todos... crianças. De fato, as mais velhas não pareciam ter mais de quinze ou dezesseis. Haviam também algumas poucas mulheres mas a população infantil predominava.

-Vocês... me ajudaram? –Perguntou ofegante pelo esforço.

Dois garotos a ajudaram a sair e ela cambaleou antes de conseguir firmar seus pés. Uma menininha de mais ou menos nove anos lhe sorriu com compaixão.

-Sabemos como é ruim ficar de castigo.

Syrena estremeceu. Usavam aquele poço como castigo até mesmo para as crianças. Seres inocentes e sem um pingo de maldade no coração. Realmente, as pessoas dali eram monstros.

~*~

-Está fraca.

Erguendo os olhos para a bela mulher de pele morena e cabelos castanhos, Syrena sorriu enquanto tomava sua sopa. Eles a haviam levado para uma das casas e cuidaram dela, banhando-a e lhe alimentando. Aparentemente toda a vila havia saído para a guerra, sobrando apenas os inúteis em batalha. Ela sabia que muitas mães ali haviam visto seus filhos e maridos partirem, assim como as crianças viram seus pais e irmãos irem para a guerra.

-Sim. Meu corpo não está acostumado a lidar com metade da capacidade.

-Mas você é a moça da profecia não é? –Um menino sentado aos pés da cama onde ela estava perguntou com os olhos brilhando de curiosidade.

Ela franziu a testa pois não estava muito a par de profecia alguma. O que sabia era que Bloodworth a esperara durante anos, planejando sua chegada à vila para que ela lhes fornecesse guerreiros e feiticeiras, e os liderasse na guerra contra a cidade que dizimou seu povo. Na verdade aquilo era tão perturbador que ela evitava pensar no assunto.

-Acho que sim...

-Você é mais poderosa do que imagina Syrena. –Uma mulher que aparentava estar na casa dos trinta anos lhe afagou a mão. –Esses símbolos pelo seu corpo não são meros adornos.

-Mas minha magia...

-Ainda está com aí. –Tocou seu peito com o indicador. –Você apenas deu ao humano uma pequena porcentagem do que está em você. Se concentrada você pode fazer grandes coisas.

Ela falara aquilo com tanta certeza que Syrena não pôde fazer outra coisa senão acreditar. Talvez estivesse se iludindo em vão, mas precisava levar em conta o fato de que aquele povo sabia mais sobre seus dons do que ela mesma. Então se eles estavam dizendo, ela realmente podia fazer aquilo.

Deixando a tigela de sopa de lado ela olhou para todos naquele cômodo apertado. Alguns meninos mais velhos montavam guarda na porta enquanto os outros estavam espalhados pelo chão ou sentados em cadeiras e nas janelas. Naquele momento mesmo havia uma garotinha trançando seus cabelos. Eles foram tão bons com ela, sendo que tinham todos os motivos para odiá-la. Era a causadora daquela guerra, escolheu traí-los e ficar ao lado de Ilíria e havia lhes negado seus tão aclamados herdeiros mágicos.

-Por que estão me ajudando? –Perguntou com os olhos marejados.

Uma mulher mais jovem que estava no chão cercada por crianças menores lhe sorriu compreensiva. Nela havia uma cicatriz que começava abaixo da sua orelha e cortava seu pescoço até desaparecer debaixo das roupas. Syrena leu sua aura e teve alguns flashes do seu passado. Imagens violentas dela sento arrancada do seu lar para dar crianças á Bloodworth, e ainda assim era uma mulher doce. Triste, mas doce. Lhe lembrava um pouco sua mahny.

-Detestamos a guerra. Vivemos em um constante infernos graças a essa vingança sem sentido. Pedimos apenas que você acabe com isso, custe o que custar.

Syrena entendeu as entrelinhas. Eles a apoiavam, mesmo que ela precisasse matar aqueles que eles amavam para trazer paz a todos. Aquilo só a deixou ainda mais comovida.

Quando a garotinha que trançava seus cabelos avisou que tinha acabado, ela se levantou e sorriu para todos ali.

-Obrigada a todos. Não me esquecerei de vocês.

Eles se despediram e escoltaram Syrena para perto da fronteira da vila. Ali ela se ajoelhou, tocou a terra sentindo-a entre os dedos e respirou fundo.

Certo, você tem o poder dentro de si. Apenas evoque-o.

A princípio nada aconteceu. Mas com o passar dos segundos ela sentiu uma queimação no peito e olhou para o seu cristal. Esse brilhava como a maior das estrelas do céu e ela se concentrou naquela sensação. Visualizando seu quarto no palácio, ela abriu um portal com facilidade e o atravessou.

Ao se ver de novo no seu quarto, Syrena se impressionou com o quanto o ambiente parecia familiar ao mesmo tempo em que lhe era estranho. Talvez algo ali tenha mudado, ou talvez ela tenha mudado.

De qualquer forma ela não ficou ali para descobrir. Saindo do seu quarto ela caminhou apressadamente pelo corredor até o salão de audiências.

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A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora