Capítulo 20

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Markus observava Syrena andando de um lado para o outro no quarto enquanto sacudia Septimus e cantarolava o que devia ser alguma canção de ninar. A criança a olhava com a adoração de quem vê um anjo diante dos seus olhos e de certa forma ele a entendia. Syrena tinha beleza e simpatia o suficiente para cativar até mesmo a pessoa mais difícil.

-Sabe, você deveria segura-lo. -Ela falou parando e se virando na sua direção.

É claro que ela sabia que ele estava observando. Se antes já era difícil pega-la desprevenida, agora que estavam ligados era impossível. Um sempre sentia o outro se aproximar.

-Não obrigado. Não sou fã de crianças.

Ela bufou e foi até ele, erguendo a criança na sua direção.

-Ele é seu irmão. Pegue-o. -Ordenou.

Markus semicerrou os olhos na direção dela e os dois ficaram se encarando até ele bufar e ceder. Estendendo os braços ele pôs as mãos uma em cada axila do bebê e o ergueu um pouco para poder olha-lo melhor. Desde que tinha pisado no palácio aquela era a primeira vez que parava para realmente observar o seu irmão. Os cabelos fartos demais para uma criança de poucos meses eram escuros e o rosto era corado e gorducho como o de qualquer bebê saudável.

-Você é uma coisinha feia. -Ele concluiu sua inspeção e a risada de Syrena chamou a sua atenção. -Qual é a graça?

Ela tentou sem sucesso esconder o seu sorriso.

-É que... Bom, ele lembra você.

Franzindo a testa ele voltou a olhar para o menino.

-Pobre criança.

Syrena abriu a boca para o contradizer mas resolveu se calar. Não valeria de nada começar uma discussão inútil, tudo que lhe restava era lamentar que Markus tivesse a si mesmo em tão baixa estima. Ele, como todas as pessoas de bem, via muito pouco as coisas boas em si.

-Como a rainha era? -Ele perguntou subitamente.

As lembranças da sua mahny a acertaram como uma pancada. Syrena puxou a sua trança para cima do ombro e começou a brincar com as pontas dos seus cabelos enquanto tentava controlar as próprias emoções. Não queria desmoronar quando fosse falar.

-Eu sou suspeita para dizer isso, mas ela era a criatura mais pura que eu já vi. E muito forte também. Muitas vezes eu a vi guardar o luto e a autopiedade para si mesma, porque deveria ser forte para o seu rei e o seu povo. -Deixou escapar um sorriso triste com as lembranças. -Sabe, ela teria gostado de você. Ela adorava cuidar das pessoas, especialmente as quebradas.

Incomodado com essas palavras Markus mudou o irmão de posição e o segurou apenas com um braço, mantendo-o com as costas coladas ao seu peito.

-Não acho que eu precise de cuidados.

-Todos precisamos de cuidados Markus. Seja você um bebê ou um adulto teimoso. No fundo, bem no fundo, é isso que as pessoas procuram: alguém para cuidar delas.

Ele ponderou o assunto. Sabia que não era aquilo que ele queria, mas de certa forma fazia sentido. As pessoas se casavam para cuidarem umas das outras, e tinham filhos para ter alguém que cuidassem delas quando elas estivessem velhas demais. O ser humano é totalmente dependente. Ele concluiu por fim. Tudo girava em torno de não ficar só.

-Mas por que essa súbita curiosidade em relação a minha mahny?

-Não é importante. -Titubeou.

Ele não podia dizer os seus reais motivos. Já se sentia patético o suficiente tendo aquela conversa com ela.

Percebendo a sua inquietação, Syrena se aproximou e segurou a sua mão livre, lhe lançado um olhar afetivo.

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora