Capítulo 9

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   -Hora de levantar bruxinha.

     Syrena pensou estar sonhando quando ouviu aquela voz grossa, porém ela podia sentir a presença imponente ali próxima a ela. Sonolenta, a garota levantou bocejando e teve um pequeno sobressalto quando uma trouxa surrada foi jogada ao seu lado no chão. Olhou do objeto para Markus com as sobrancelhas franzidas em total confusão.

     -O que é isso?

     -Roupas novas. –Ele falou se sentando em um tronco próximo e amolando a sua faca em uma pedra qualquer.

     -Eu já tenho roupas... –Syrena olhou na direção da sua égua e suspirou impaciente ao perceber que sua bolsa de roupas já não estava mais ali. –Markus.

     -Ãnh? –Ele respondeu despreocupado com a atenção na sua lâmina.

     -Onde estão as minhas roupas?

     -Eu as vendi em um mercado aqui perto. –Finalmente a olhou. –Usando roupas reais você chama tanta atenção quanto um pavão. É como pedir para ser roubada. Essas devem servir.

     Markus sorriu quando viu a cara de indignação da moça. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes antes de bufar e agarrar a trouxa de roupas com impaciência. As sobrancelhas perfeitas se ergueram surpresas quando viu o conteúdo na trouxa.

     -Você disse "novas"? –Ergueu uma peça encardida. –Não passam de trapos.

     -É o que uma pessoa normal é capaz de bancar. Agora vista-se ou vá nua.

     Ela quis discutir, mas então percebeu que ele estava certo. Agarrou a peça de roupa com raiva e marchou para próximo ás árvores onde poderia ter mais privacidade.

     -Grosso.

     Markus riu da sua reação e continuou afiando tranquilamente sua lâmina. Quando escutou os resmungos ficarem mais altos, voltou a erguer o olhar e se deparou com uma Syrena vestindo uma saia cumprida e gasta, uma blusa de amarrar na frente e um lenço sobre a cabeça e pescoço, escondendo as marcas da sua pele. Olhando daquele jeito ela quase parecia uma pessoa normal, mas os olhos não deixavam dúvidas de que ela era diferente.

     -O que foi? –Ela perguntou, e foi quando ele se deu conta de que estava encarando demais.

     -Nada. Vamos indo.

     Depois de arrumarem suas coisas para voltarem para a estrada, ambos montaram em seus cavalos e seguiram viagem. Com uma olhadela de canto para Syrena, Markus sacudiu a cabeça e riu sem humor quando um pensamento passou pela sua cabeça.

     -Qual é a graça? –Syrena ergueu uma sobrancelha questionadora para ele.

     -Já vi muitos reinos lutarem entre si por vários motivos. Território, poder, terras, influência... mas nunca por uma mulher.

     Syrena tentou não ficar ofendida com suas palavras, mas falhou miseravelmente. Em resposta ela fixou o olhar no caminho à sua frente falou secamente:

     -Suponho que suas viagens pelos reinos tenham sido bastante animadas. Por que não ficou por lá?

     -Palavras tão afiadas quanto uma espada. Me pergunto que tipo de criação a rainha lhe deu todos esses anos. –Ele zombou e ela riu sem humor.

     -A melhor possível, isso eu te garanto. Eu apenas aprendi a direciona-la ás pessoas certas.

     E dito isso eles não trocaram mais uma palavra até chegarem na fronteira de um vilarejo quando o sol já estava se pondo. Markus não julgou inteligente entrar na cidade como Syrena queria, apenas ficaram aos arredores para o caso de precisarem de algo.

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora