Capítulo 19 - MARKUS

706 102 13
                                    

" -Mamãe por favor não me deixa aqui.

Eu agarrei a barra do seu vestido. Não conhecia aquele lugar. Eu só queria ir embora com a minha mãe.

Ela se abaixou até estar mais ou menos da minha altura e me segurou pelos ombros. Seus olhos eram tão claros quanto o céu em um dia de verão, porém sua pele era escura em contraste com a claridade dos olhos. Minha mãe era tão linda, e eu odiava vê-la chorando como ela estava.

-Mamãe não pode mais cuidar de você querido. -Acariciou o meu rosto. -Agora a sua casa é aqui. Você vai treinar e se transformar em um guerreiro grande e forte como eles.

Olhei por cima do meu ombro e vi alguns homens circulando por ali. Eles eram tão grandes... Me perguntava se o meu pai era como eles. Eu gostaria de ser daquele jeito. Talvez assim ele me chamasse para morar com ele no seu castelo.

-Jura?

-Sim. -Ela sorriu derramando mais algumas lágrimas. -Eu te amo tudo bem? Não se esqueça disso.

Assenti com a cabeça e observei ela partir, me deixando ali na companhia de um homem que eu nunca havia visto. Ele colocou a mão sob o meu ombro e quando eu ergui a cabeça para olha-lo eu soube na hora que a minha vida seria um inferno dali para frente.

****

Eu estava caído no chão. Havia apanhado muito mas conservava o pedaço de coxa de galinha junto ao meu peito. Valeu a pena a surra, eu estava há dois dias sem comer e aquela pouca comida cairia bem naquele momento. Ali se não lutássemos morreríamos de fome.

Ergui a cabeça e através do meu olho bom eu vi um dos guerreiros dando tampinhas nas costas e parabenizando o garoto que havia me surrado. Me enchi de raiva e enquanto comia o mais rápido possível para não ser roubado eu jurei a mim mesmo que eu seria o próximo a ser parabenizado.

Me tornaria o melhor guerreiro daquele lugar. Deixaria a minha mãe orgulhosa quando ela me visse de novo.

****

O garoto no chão se engasgava com o seu próprio sangue enquanto eu mantinha o pé na sua garganta, sufocando-o lentamente.

Fazia quatorze anos.

Quatorze anos que a minha mãe havia me largado para apodrecer naquele ninho de ratos a mando do meu progenitor. Quando eu descobri, passei a ver todos como inimigos e a treinar como um louco. Conforme eu fui melhorando as pessoas passaram a me deixar quieto no meu canto.

Naquela tarde eu havia recebido uma carta informando que a minha mãe havia falecido. Não deveria, mas aquela notícia mexeu comigo mais do que eu gostaria de admitir na época, por isso quando todos se juntaram para o treinamento de luta naquela tarde eu fui voluntário. Precisava descarregar toda aquela energia que não me deixava ficar parado.

Ergui a cabeça para o professor que se mantinha impassível observando a cena. Ele fez um sinal indiferente na direção do garoto no chão.

-Termine. -Ordenou.

Sem pensar duas vezes eu ergui o pé que estava sufocando-o, só para deixa-lo voltar a cair no mesmo lugar com toda a minha força."

Eu estava completamente consciente do meu corpo embora não conseguisse move-lo. Eu não estava sozinho.

Esse som... Se parece muito com música. Ou uma voz?

Alguém está cantando.

Senti dedos se entrelaçarem nos meus e relaxei instantaneamente. Eu estava bem. E ficaria bem enquanto quem quer que estivesse segurando a minha mão não a soltasse. Suspirando eu me permiti voltar à minha inconsciência, mesmo que aquilo significasse mais da lembranças que eu lutava para mater no fundo da minha mente.

A Bruxa - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora