A história de uma cidade

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O grupo desceu, do carro. Henry abriu o porta malas do carro, enquanto Julie foi andando andando até a entrada da casa onde pararam. Ela bateu na porta.

Julie: Vovó?

  Eles ouviram uma voz feminina, de uma pessoa idosa, respondendo.

???: Já vai, já vai.

  Em poucos segundos, a porta da casa se abriu, revelando uma lontra idosa, com longos cabelos grisalhos e óculos no rosto. Ela era só um pouquinho mais alta que Julie, e usava uma camisa de lã multicolorida, juntamente de uma saia preta.

Julie: Vovó!

???: Julieta!

  Elas se abraçaram, fortemente.

Julie: Senti saudades.

???: Eu também! Você cresceu um bocado, jája você fica mais alta do que eu.

  Henry gritou lá do carro.

Henry: Oi, Mãe! Julie, venha aqui ajudar a tirar as coisas do carro.

Julie: Certo, certo.

  Ela desceu e ajudou a levar as coisas. Dande, assim como cada um dos outros jovens, pegou sua mochila e algumas sacolas.

???: Cadê a Joana? E os meus outros netos?

  A velha lontra parecia preocupada.

Henry: Não puderam vir, mas a Julie trouxe uns amigos.

Marina: Olá!

  Marina cumprimentou com um sorriso no rosto.

???: Olá! Essas flores no seu cabelo estão lindas, mocinha. As na juba do rapaz também.

  Dande ficou corado ao ouvir isso.

Dande: Obrigado.

Ryan: Podemos entrar?

???: Claro, entrem! Minha casa também é a casa de vocês, por esse fim de semana.

  Eles entraram. A casa não era muito grande, mas era relativamente organizada. Dois sofás estavam no meio dela, um com um pouco menos de espaço que outro. A TV era um modelo bem antigo.
  O piso era de madeira, e rangia um pouco, mas não era um incômodo. Eles deixaram as sacolas com comida num canto da cozinha, e as mochilas/malas num canto da sala.
  A avó de Julie os convidou para se sentar um pouco, e Dande se sentou no menor sofá, ao lado de Marina. As molas fizeram um barulho engraçado. Julie se sentou com seu pai e Ryan no outro sofá, entre ambos. A velha lontra puxou uma cadeira de balanço, e se sentou no outro lado da sala, de uma forma que conseguisse olhar no rosto de cada um deles. Dande finalmente tomou coragem para perguntar:

Dande: O que houve com essa cidade?

Sra. Santos: "Progresso."

  Ela falou isso num tom muito sério. Henry havia dito a mesma coisa quando entraram na cidade.

Ryan: Mas... O progresso é algo bom.

Sra. Santos: Deveria ser, mas não é assim pra todo mundo. Muita gente acaba ficando para trás. Gostariam de saber a história dessa cidade?

Marina: Sim!

Dande: Com toda certeza.

Ryan: Estou interessado.

Julie: Já ouvi, mas adoro quando a senhora conta.

Sra. Santos: Então vamos lá. Bem, tudo começou no final do século XIX. Um grupo de mineiros descobriu que nessa região havia uma quantidade enorme de riquezas: Ouro, esmeraldas, até carvão. Eles construíram uma pequena vila, que logo se tornou uma cidade. O nome "Harmoniosa" veio do fato da população da cidade ser muito amigável uns com os outros. Naquela época, quase não existia roubo, até porque era muito fácil ficar rico por aqui.

Dande: Pareciam ser bons tempos.

Sra. Santos: E eram, mas isso foi há mais de um século. Meus avós foram alguns dos primeiros habitantes desse lugar. O solo dessa cidade nunca foi fértil, exceto por um lugar: Aqui, nessa casa, e eles conseguiram se manter através da agricultura, sem correr riscos nas minas. Mas isso não durou pra sempre.

Ryan: Por que?

Sra. Santos: Jajá chego nessa parte. Bem, quando eu nasci, e vivi minha infância, na década de 1940, foi na mesma época em que descobriram mais uma das riquezas dessa terra: Petróleo. Nos anos 50, essa cidade estava no seu auge, tanto que já tinhamos até uma pequena fábrica de carros.

Henry: Foi lá onde meu pai conseguiu o primeiro emprego dele.

Sra. Santos: Sim, aqueles eram tempos de ouro. Mas como diz aquele velho ditado, quanto mais alto, maior a queda. Achávamos que a cidade iria prosperar para sempre, mas logo percebemos que estávamos enganados. No começo da década de 70, os minérios começaram a ficar cada vez mais escassos, e no começo dos anos 80, a fábrica de carros fechou suas portas. A essa altura do campeonato, meu marido já havia aberto uma pequena oficina mecânica, mas teve que deixar esse trabalho para um de nossos filhos, o Henry aqui.

Henry: É...

Marina: Mas por que?

Sra. Santos: Por que ele queria tentar ver se conseguia melhorar nossa situação financeira trabalhando nas minas. Mas isso não durou muito tempo... Ele morreu em um acidente nas minas no final da década de 1980. Nunca conseguiram achar o corpo dele. Eles selaram as minas pouco depois disso.

  Dande notou uma lágrima escorrendo pelo rosto dela, e viu Henry chorando baixinho. Demorou um momento até que ela continuasse.

Sra. Santos: A vida seguiu normalmente depois disso. No ano seguinte, o petróleo acabou, e a última riqueza que havia restado nessa cidade se foi junto. Mas a cidade conseguiu sobreviver por um tempo.

  Henry havia parado de chorar, e continuou a história a partir desse ponto.

Henry: Foi nessa época que conheci a Joana. Noivamos, casamos e tivemos nossos primeiros filhos na década de 90. Passamos anos juntando dinheiro, para dar um bom futuro a nossos filhos. O fato da cidade ser isolada não ajudou, e a falta de viajantes fez a população lentamente ir embora. Os que ficavam eram ou os que não tinham dinheiro para sair, ou acreditavam firmemente que haveria uma salvação para a cidade.

Dande: Então... Foi por isso que vocês saíram?

Henry: Tentamos resistir no começo, mas no final de 2010, fomos forçados a tomar uma atitude. Eu não tinha mais nenhum cliente na minha oficina, e a última escola da cidade havia encerrado suas atividades. Então pegamos todo o dinheiro que havíamos juntado, e saímos da cidade.

Ryan: Nossa...

Julie: Pra vocês terem noção, nem internet tínhamos nessa cidade (e ainda não tem) e eu nem sabia o que era um DVD até sair daqui.

  Dande encarou a Sra. Santos.

Dande: Por que a senhora ficou?

Sra. Santos: Não fui a única que não quis abandonar o lugar onde viveu sua vida inteira. Ainda tenho esperança de que em algum dia, de alguma forma, essa cidade voltará para o mapa.

Marina: Assim espero.

  A Sra. Santos se levantou de sua cadeira, com um pequeno sorriso no rosto.

Sra. Santos: Bem, chega de histórias por enquanto. Vocês devem estar com fome depois dessa viajem. Vou começar a preparar o almoço.

Seasons of an Young LionOnde histórias criam vida. Descubra agora