Pessoas esperançosas

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Dande não sabia para onde ir a seguir, então ele cuidou de perguntar.

Dande: Tem algum outro terreno desse tipo por aqui?

Samantha: Sim, eu acho que tem mais dois na rua aqui de trás.

Dande: Ótimo! Vocês vem comigo? Eu não conheço quase nada desse lugar.

Carmen: Claro! Venham logo.

  Ela foi andando na frente, e Dande a acompanhou, ainda segurando a mão de Andy. Cláudio e Samantha vieram logo atrás.
  Ao chegarem na esquina, do fim da rua em que estavam, Cláudio apontou para uma construção grande que estava caindo aos pedaços. Ela tinha um enorme pátio na entrada.

Cláudio: Essa era a escola daqui.

Dande: É triste ver ela nesse estado.

Carmen: O Andy poderia estar estudando aqui, se ainda estivesse funcionando.

Cláudio: Eu lembro como se fosse ontem, o dia em que abriram essa escola. Eu tinha acabado de voltar pra cá depois de terminar meu mestrado em matemática. Eu fui um dos professores que estava lá desde o começo...

Samantha: Quando a escola encerrou suas atividades, isso indicou o fim definitivo dessa cidade. As pessoas saíram em massa da cidade... Até que só restou a gente.

  Nesse momento, todo mundo pareceu um pouco triste, desanimado. Dande tentou dizer algo pra ajudar.

Dande: Hey, a culpa não foi de vocês.

Carmen: Sabemos, a culpa foi do tempo, do cruel e implacável tempo.

Cláudio: Eu sinto saudades dos tempos que eu lecionava... Saber que eu estava ajudando a formar o futuro dessa cidade... E olha o que aconteceu.

Andy: Hey, você ainda pode me ensinar. Tem muita coisa que preciso aprender ainda.

  Os olhos de Cláudio emitiram um brilho, um pequeno lampejo de alegria.

Cláudio: Então eu vou fazer desta a oportunidade de fazer algo bom.

  Depois disso, eles continuaram a caminhada, dobrando a esquina, e seguiram por alguns metros até dobrarem em outra esquina para entrar em outra rua. Dande pôde ver logo de cara um terreno vazio há alguns metros.

Dande: É alí, certo?

Samantha: Sim.

  Dande se aproximou, juntamente dos outros que estavam com ele. Ele se posicionou em frente ao terreno.

Dande: Andy, venha aqui pro meu lado.

  O garoto pareceu surpreso, mas obedeceu.

Andy: O-ok!

  Ele se posicionou ao lado de Dande.

Dande: Quero que você faça como eu vou fazer.

  Dande estendeu os braços, na direção do terreno. Andy fez o mesmo.

Dande: Agora se concentre, pense em coisas boas, feche os olhos, e deixe a energia fluir pelo seu corpo.

  Andy fez isso, e pela  expressão facial dele, ele estava fazendo força.

Dande: Ei, calma! Você pode relaxar um pouco mais!

  A expressão dele suavizou. Dande começou a fazer o mesmo, e então, fechou os olhos, canalizando sua energia para o solo.
  E mais uma vez, mato brotou do chão.

Dande: Pode abrir os olhos Andy.

O leãozinho abriu os olhos, e ficou maravilhado com o que viu.

Andy: E-eu fiz isso?

Dande: Sim, com uma ajudinha minha.

  Os olhos do leãozinho estavam brilhando de animação.

Andy: Que demais! Aonde está o outro terreno?

Samantha: Por aqui, sigam-me.

  E dessa vez, foi ela quem liderou o grupo. Dande continuou segurando a mão de Andy, enquanto andava ao lado dos outros idosos.

Andy: Qual é mesmo o seu nome?

Dande: Pode me chamar de Dande.

Andy: Nome legal.

Dande: Versão curta de Dandelion.

Andy: Legal!

Dande: Obrigado, seu nome também é bonito. Quem foi que escolheu?

Carmen: Fui eu.

Dande: Ótima escolha.

Carmen: Era o nome do filho que eu perdi.

  As palavras tiveram um impacto grande em Dande, era como se uma faca penetrasse metaforicamente o seu coração.

Dande: Nossa... Poderia me contar mais sobre isso?

Carmen: Não. É difícil pra uma mãe falar de um assunto desses. Ao menos eu tenho quatro filhas mundo afora, e o Andy pra cuidar.

  Dande não tocou mais no assunto, nem disse mais nada. Ele apenas continuou a andar, junto dos idosos, até perto do final daquela rua, onde acharam os outros terrenos.

Samantha: Bem, chegamos.

  Dande se dirigiu até a frente desse terreno, levando Andy consigo. Ao chegar lá, ele se ajoelhou, e encarou o leãozinho, colocando gentilmente a sua mão no ombro dele.

Dande: Andy, vou deixar que você arrume este sozinho.

Andy: Mas...

Dande: Eu sei que você consegue.

  Dande se levantou, e Andy o olhou, buscando alguma ajuda. Dande o encarou de volta, com um sorriso, e então, o leãozinho se posicionou do jeito que o Dande havia lhe ensinado, e começou a se concentrar.
  Se passaram segundos, quase um minuto, e nada. Andy continuava concentrado, mas sem resultados. Dande então colocou novamente a sua mão sob o ombro dele, e conseguiu sentir a energia fluindo pelo corpo da criança. Ele pareceu relaxar um pouco ao sentir um peso familiar em seus ombros. O mato mais uma vez começou a crescer, indicando a fertilidade do solo.
  Depois disso, o leãozinho caiu de bunda no chão, cansado.

Andy: Eu... Consegui!

Dande: Muito bem Andy!

Carmen: Parabéns meu leãozinho!

  Carmen se aproximou e ajudou Andy a se levantar, carinhosamente.

Cláudio: Acho que os outros já devem estar voltando essa hora, vamos!

Carmen: Vamos.

  E ela foi andando na frente, dessa vez levando Andy pelo braço. Cláudio foi logo depois, e Dande foi andando ao lado de Samantha. A capivara tinha um lindo sorriso no rosto.

Dande: Notei que a senhora é muito alegre.

Samantha: Pareço? Hahaha, eu tento.

Dande: E com sucesso.

Samantha: Eu tenho minha casa, meus amigos, meus filmes, um filho que me visita sempre que pode...

Dande: A senhora já foi casada?

Samantha: Não, só alguns relacionamentos que terminaram tão rápido quanto começaram. Um deles me rendeu meu filho.

Dande: Oh, entendi.

Samantha: Enquanto eu puder fazer as coisas que eu gosto, não há razão em ficar triste.

Dande: Esse é o espírito.

  E eles seguiram andando, pelas velhas ruas empoeiradas daquela cidade.

Seasons of an Young LionOnde histórias criam vida. Descubra agora