O Assassino Dos Contos De Fadas

Alice

E lá vai ele.
Sempre que o assunto é ela, o cara foge como o diabo foge da cruz.
Quer confirmação maior do que essa que o assunto não foi encerrado?
Tudo precisa ser tão complicado assim?
Olho para meu irmão e ele está com os olhos cansados. O dia anterior foi um inferno. 
Para todos.
Hoje então nem se fala.
Encontrar a Rosa daquele jeito...
Vou ter problema pra dormir essa noite.
Tenho tido muito isso, ultimamente. Preciso de um terapeuta.
- Como você está mana?
- Melhor que os pais dela. - afirmo para Alex. Ele olha na direção deles.
Estão de mãos dadas. Não conseguem mais chorar. O choro parou há algum tempo. Seus olhos estão vermelhos e inchados.  Tudo o que conseguem  fazer agora é se apoiarem um no outro e rezar para que a filha consiga viver.
A incerteza é algo que corrói sem piedade.
Mas do jeito que a vimos...
Fecho os olhos e me arrependo no mesmo instante.
A garota estava deitada no banco.
Seu rosto estava cortado. Com cortes bem finos.
Feitos meticulosamente, como se a pessoa quisesse que a  perfeição imaginada, se transformasse em realidade.
A imaginação do assassino era cheia de detalhes.
As pernas e o braço esquerdo estavam quebrados. Percebi logo pelo ângulo em que estavam. Parecia uma boneca de pano.
Daquelas que você para de brincar e joga num canto até alguém lembrar de jogar fora.
As roupas cheias de sangue.
E como havia sangue.
Não sei se pelos cortes ou a boca. Meu Deus, a boca dela...
Me arrepio só de lembrar.
Estava costurada.  Cuidadosamente costurada.
Não sabemos, mas ela não deve falar.
A hipótese é  o assassino ter  cortado a língua fora.
Porquê ele não a matou?
Que droga de pessoa faz isso a um semelhante?
Como pode infligir um sofrimento desses e seguir em frente?

Ela bate com a descrição das vítimas anteriores.
A garota tem um anel de castidade e estudou num colégio interno só de garotas!
As notas são excelentes. 
Uma garota brilhante, segundo as pessoas que a conheciam.

Não tem ficha na polícia, só elogios por parte de suas professoras e a diretora do colégio a venera praticamente.
Os pais então...pelo amor de Deus.
Eles exibem os troféus e as conquistas da Rosa na sala! O que aconteceu?
O que ela tem de diferente? Ele não pensou que ao deixar Rosa viva, poderia ter nos dado a chance que precisávamos para prende-lo e jogar a chave fora?
O assassino está tão certo que vai sair ileso, que deixa a vítima viva?

Rosa levará um bom tempo para se recuperar.
Não só fisicamente mas psicologicamente.
Ainda tem o problema de que os pais das outras vítimas souberam que Rosa está viva, e estão querendo saber o porquê.
Afinal, ela seguia o mesmo padrão das outras, mas ao contrário de suas filhas que estão  enterradas, Rosa estava viva.

Quebrada, mas viva.
Essa investigação está começando a atrair a imprensa, que já soltou algumas reportagens sobre as meninas mortas.
Hugo está trazendo Eduarda justamente para agilizar a investigação.

A pressão para resolvermos esse caso está aparecendo por todos os lados e os superiores querem resultados, de preferência o mais rápido possível.
O mais rápido possível mesmo.
Olho novamente para o casal em meio às suas preces.
Talvez eu também devesse rezar para que a situação não piore ou ao menos para que consigamos qualquer pista que nos leve ao assassino.
Estava com saudade de Eduarda. Faz tempo desde que a vi. Não deve ter mudado muito.
Talvez devesse rezar por ela também.