XXII - Tatuagem.

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-Onde iremos?-Eu perguntei.

Ele não respondeu.

-Você é bipolar.

-E você irritante,não reclama.-Ele disse,emburrado.

Eu estava mais concentrada no meu pirulito de cereja.

-Tá demorando.-Eu disse.

Por mais que a voz dele fosse inconveniente em certos momentos,o silêncio era pior em outros.

-Cala a boca.-Ele disse,puxando seus cabelos.

Ele parou o carro,pegou meu pirulito e saiu.

-Ei, meu pirulito.-Eu disse indignada.

-Preço da passagem tá caro.-Ele disse,pondo as mãos no bolso e andando até um bar.

-Você me tirou,da minha festa de aniversário,pra vir num bar?-Eu perguntei,ainda mais indignada.

-Seu pai nunca me deixaria sair sozinho.

-Você é patético.

-E você é chata.Eu não vim beber cacete.

-Verdade,veio comprar carne.-Eu disse irônica.

Ele revirou os olhos e pegou minha mão.Entrou numa sala na parte de trás do bar.Soltou minha mão assim que fechou a porta.

-Leonardo,quanto tempo.-Uma garota estranha disse.

Magra,loira,cheia de tatuagens e piercings,porém muito bonita.

-Oi Mary,pois é faz tempo que eu não venho pra esses lados.

-E a garota?-Ela perguntou como se eu não estivesse ali.

Leonardo me encarou por um tempo,pegou minha mão novamente.

-Minha noiva.-E lá vamos nós de novo.

Eu já tinha aprendido a fingir a muito tempo.

-Espera,Leonardo preso a uma garota?-A menina,Mary,perguntou.-Prazer eu sou Mariane.-Ela disse sorridente.

-Kiera.-Eu disse com um sorriso amarelo.

-Vejo que já ganharam um presente.-Ela disse olhando pra saliência na minha barriga.

5 meses,barriga enorme.

-Pois é,nós não poderíamos estar mais felizes.-Leonardo disse,com o sorriso mais falso do mundo,mas só eu percebi.

Quase soltei uma gargalhada ao ouvir.Ele sabia que nem ele e nem mesmo eu estávamos felizes com isso.Nós ainda não queríamos a criança.Muito menos cuidar dela.

-Fico feliz por vocês.Mas então o que vai ser hoje?-A garota perguntou.

Olhei pro Leonardo confusa,já com receio de onde eu fui me meter.

-Eu quero fazer uma tatuagem.E ela também vai.-Leonardo disse,com uma calma quase contagiante.

O olhei,perpétua pelo que eu acabei de ouvir.

-Eu? Tatuagem?-Perguntei,com uma sobrancelha arqueada.

-Você vai fazer comigo.-Ele disse,já se sentando na cadeira macia.

-Leonardo,Carl nunca deixaria...-Eu disse.

Carl me mataria se me visse com o corpo manchado com tinta.Marina nunca me perdoaria.

-Tudo bem.Eu converso com ele depois.-Ele disse.-Senta aí amor.-ele completou.Sorrindo.

Isso com certeza é patético.

Me sentei na cadeira,ainda contrariada,e fiquei olhando as opções.Procurei,procurei,procurei e nada.

Escolhi escrever algo,escrevi Carl e Marina em um lado do ombro e do outro escrevi Beatriz.

Leonardo fez uma bola de futebol.Mano,isso foi demais pra mim.

-Leonardo,que porcaria.-Eu disse,encarando a tatuagem que ele fez.

A agulha me perfurava cada vez mais,era como uma lâmina.A dor era extâsiante por um momento,e dolorosa em outro.

-Faltou escrever meu nome aí.-Ele disse,encarando meus ombros nus agora rabiscados.

-Até parece.Isso faria mal ao bebê.-Eu disse rindo alto.

-Você pinta o cabelo.Isso faz mal ao bebê.-Ele disse cínico.-Escreve meu nome aí.

-Tanto faz,eu já to toda rabiscada mesmo.-Eu disse,dando de ombros.

Ela escreveu os quatro nomes,e fiquei feliz quando finalmente acabou.

Olhei o resultado,ficou muito bom.Ela escreveu os nomes em um símbolo do infinito.

Quando olhei Leonardo de novo,sua tatuagem já havia terminado.Não era uma bola de futebol,era uma criança jogando futebol.

-Porque?-Eu perguntei,confusa.

Nunca tinha visto ele jogar futebol antes,nem mesmo comentar sobre o esporte.

-Quando eu era mais novo,jogava futebol todos os dias com meu avô.Ele era a única pessoa que eu tinha,mas morreu.-Ele disse,cabeça baixa e mãos no bolso.

Parei de andar e esperei que ele parasse também,quando ele parou eu o abracei.

Eram raros os momentos em que Leonardo demonstrava compaixão ou qualquer tipo de afeto por alguma pessoa.Leonardo é uma pessoa fechada pro mundo,e eu só o vejo todo carinhoso quando se trata de mim.Ou até mesmo Gabriela.

Entramos no carro depois que nos desvincilhamos e voltamos pra casa.A festa já havia acabado e agora só estavam Carl,Marina,Beatriz,Gabriela e Theo.

-Vocês demoraram.-Carl disse,nos olhando desconfiados.

Eu intercalei meu olhar entre o Leonardo,que me olhava aflito e Carl,que ainda mantinha seu olhar firme sobre mim.

No fim,tirei os fios azuis do ombro e os segurei como em rabo de cavalo.Quando me virei de costas,percebi o pequeno soluço que todos deram.

-Kiera.-Marina disse,meio assustada,meio emocionada.

Carl se manteve firme,não por muito tempo.

-Minha menina.-Ele disse,me puxando pra um abraço.

Eu pensei que ele me mataria,mas se emocionou por eu ter escrito o nome dele.Surreal.

Leonardo observava calado,postura rija e olhar calmo.

Marina já se juntara a nós no Abraço e Gabriela segurava Beatriz,junto com Theo que a fazia rir,uma risadinha gostosa.

-Eu te amo.-Marina disse,é percebi uma lagrima solitária escorrer.

Puxei os outros quatro parados ali pro abraço,já tô na chuva mesmo né.

-Eu amo todos vocês.-Eu disse,tentando soar fofa,o que pra mim é particularmente difícil.

Olá meus bolinhos.

Eu amo esses dois.

Beijos da tia Adrienne.

Grávida do Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora