XXIV - Serena.

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Enfim,o nono mês chegou.

Minha barriga parecia explodir,as cólicas mais uma vez aumentaram,meu humor mudava ainda mais repentinamente,eu mudava ainda mais.

Todos os sentimentos misturados,tudo á flor da pele.Meu apetite ainda mais rigoroso,não podia comer quase nada que me fizesse vomitar.

Tudo isso se juntou ainda mais quando eu estava deitada,Leonardo ao meu lado numa cadeira,lendo.

-Porra,Leonardo,a bolsa estourou.-Eu gritei,sentindo o líquido frio escorrer por entre as minhas pernas.

-O que eu faço?-Leonardo perguntou,coçando a nuca,totalmente atordoado.

-Me põe no carro,idiota.-Eu estava insuportável nos últimos dias,era notável.

Ele me pegou no colo,com certa dificuldade,e me colocou no carro.Pegou a bolsa,minha e do bebê,que eu ja havia preparado,e dirigiu o mais rápido que pode até o hospital.

Já no hospital,me colocaram na emergência,já que pela minha idade,era um caso de risco.O tempo parecia estar em câmera lenta,e eu só sabia gemer em desespero.

Carl,Marina,Gabriela e Theo chegaram minutos depois de serem avisados.Ficaram do lado de fora da sala,e foi quando a operação começou que eu cai na real.

Meu médico foi o Filipe,ele estava de plantão aqui no hospital hoje,lembram dele?

Estava finalmente acontecendo,o que eu desejei tanto adiar.O que me tornaria totalmente diferente do que eu era,o que me faria amadurecer precocemente.

A maca dura e fria quase não foi suficiente para suportar cada tranco que eu dava.

-Respira fundo,por favor.-Leonardo pedia,em sussurros.Ele estava longe,sentado em uma poltrona no canto.Ele parecia não querer ver o fim da liberdade dele.

As enfermeiras me olhavam com desgosto,como se eu fosse desprezível simplesmente por ser uma adolescente grávida.Uma garota que já havia passado algumas vezes ali por falta de nutrientes ou por cortes profundos,agora estava finalmente tendo um filho.

-Precisa forçar,querida.-A enfermeira disse,quando eu gritei de dor.Era insuportável.

Sua mão já ficava roxa de tanto que eu apertava,então Leonardo se levantou e me estendeu sua mão,para que eu apertasse.

-Pode machucar,não me importo.-Ele disse,quando eu a peguei.A apertei com veemência,como se dependesse daquilo.

Eu estava exausta,quase não tinha mais forças,mas queria aquilo fora de mim,independente do meu cansaço.

-Conseguiu.É uma ótima criança.-O doutor disse,quando finalmente consegui finalizar.

Mas então eu já não ouvia mais nada.Eu descansei as pernas sobre a maca e dormi um sono pesado.

                       ***

Acordei,quando ouvi a porta sendo aberta.Era Leonardo,com um embrulho no colo.Ele se sentou na maca ao meu lado,sem direcionar seu olhar á mim.Passamos um bom tempo em silêncio.

-Uma garota.-Ele disse calmo e sereno.Não desviou seu olhar terno da criança nenhuma só vez.

-Senhor,não poderia estar aqui.-Uma enfermeira alertou.

-Só alguns minutos,tudo bem eu sou o pai.-Ele disse,confiante.

O pai.

A enfermeira assentiu e saiu da sala,dizendo que só alguns minutos e ele teria que sair.

-Pegue.-ele pediu,com cuidado colocando ela em minha frente.

Ponderei se deveria ou não a pegar.Eu nunca quis essa criança,mas sei que se a pegar no colo e olhar para seu rosto tão sereno,eu seria pega num encanto,assim como aconteceu com Leonardo.Ele nunca havia aceitado a paternidade,mas foi só pegar o pequeno embrulho e agora não quer nem soltar a criança.

Medo.Um arrepio se passou pela minha pele quando ele ofereceu novamente.Medo de segurar em meus braços algo tão indefeso.Não estou pronta,não ainda.

Enfim a peguei.Ela estava limpa e coberta com uma roupinha que provavelmente Marina havia trazido.

Ela tinha os cabelos negros e olhos na mesma tonalidade,assim como a pai,mas as bochechas rosadas e o nariz pequeno,como eu.

Ela segurou um de meus dedos,e se aninhou mais em meu peito,como se sentisse meu calor e meu cheiro.Como se nunca mais quisesse sair de perto de mim,da mãe dela.

-Serena.Será o nome dela.-Eu disse.

Respiração controlada,hormônios controlados.Eu sentia paz em te-la comigo.Eu sentia serenidade.

-É um ótimo nome.Mas preciso ir.-Ele disse,pegando com cuidado o embrulho.Ele a olhou terno mais uma vez.Era um novo Leonardo.Uma nova Kiera.

Fiquei triste por ter que deixa-la ir.Mas Feliz por saber que talvez não fosse tão ruim assim.

Me agradeci por não ter cedido ao aborto,eu seria ainda mais infeliz se essa tivesse sido a ocasião.

Talvez fosse isso que faltava.Talvez eu culpasse  falta de pais,mas eu precisava apenas de alguém para amar.Alguém para amar ainda mais do que a mim mesma.

Não que fosse normal pra mim,não que fosse confortável,saber que agora eu não sou mais uma adolescente irrelevante.Agora tenho prioridades,de devo segui-las.

Leonardo voltou ao quarto,mãos atrás das costas,novamente se sentou na maca ao meu lado.

-Gostou? Digo,da sensação?-perguntou,hesitante.

-Sim.Precisava disso,precisava amadurecer.-Eu disse,cansada.

-Não está mais tão irritante.-Ele comentou,sorridente.Uma nova reação.

-Não sou assim só porque amo você ou coisa do tipo,é só porque acho que nasci assim.-Eu disse,dando de ombros.

Só me dei conta do que disse quando ele me olhou,surpreso.

-O que você disse?-Ele perguntou,se ajeitando melhor na cama.

Fiquei uns minutos o encarando,sem saber se era o momento certo.

-Preciso de você.Eu acho que eu te amo.-Eu disse,se demorasse mais eu desistiria.

-Espera,você me ama?-Ele perguntou,como se precisasse de uma confirmação.

-Foi o que disse.-Respondi, olhando diretamente pra ele.

Ele se levantou,colocou a mão na testa e começou a andar em círculos.

-Nunca imaginou isso?-perguntei a ele.

-É melhor do que eu podia imaginar.-Ele respondeu.

Se sentou na cama novamente e me beijou desajeitado.

Sorrisos entre o beijo era a melhor prova de que isso também faltava.Éramos felizes separados,somos extraordinariamente felizes juntos.

Oi meus bolinhos.

Finalmente aconteceu, tão feliz.

Chega de sofrer ele de chorar,eu quero esse casal junto.

Quem apoia?

Beijos da tia Adrienne.

Grávida do Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora