10: Mãe, vamos destruir um carro?

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Nosso chalé alugado ficava na margem sul, lá na ponta de Long Island. Era uma pequena cabana de cor clara com cortinas desbotadas, quase enterrada nas dunas. Havia sempre areia nos lençóis e aranhas nos armários, e na maior parte do tempo o mar estava gelado demais para nadar. Eu adorava o lugar.

Íamos lá desde que eu era bebê. Minha mãe ia ainda há mais tempo. Ela nunca disse exatamente, mas seu sabia que era porque a praia era especial. Era o lugar onde conhecera meu pai.

À medida que nos aproximávamos da praia, ela parecia ir ficando mais jovem, os anos de preocupação e trabalho desaparecendo do rosto. Os olhos ficavam da cor do mar. Chegamos lá ao pôr-do-sol, abrimos todas as janelas do chalé e passamos por nossa rotina de limpeza. Caminhamos pela praia, demos salgadinhos de milho às gaivotas e mascamos jujubas azuis, caramelos azuis e todas as outras amostras grátis que minha mãe levara do trabalho.

Quando escureceu, acendemos uma fogueira. Assamos os cachorros-quentes e marshmallows. Minha mãe contou histórias sobre quando ela era criança, antes de os pais morrerem em um acidente de avião.

Finalmente, reuni coragem para perguntar sobre o que sempre me vinha à cabeça quando íamos a praia – meu pai. Os olhos dela ficaram cheios d'água. Imaginei que iria me contar as mesmas coisas de sempre, mas nunca me cansava de ouví-las.

— Ele era gentil, Percy — disse ela. — Alto, bonito e forte, mas gentil também. — Mamãe pegou uma jujuba azul do saco de doces. — Gostaria que ele pudesse vê-lo, Percy. Ficaria muito orgulhoso.

Eu me perguntei como ela podia dizer aquilo. O que havia de tão bom a meu respeito? Um menino hiperativo, com um boletim C-.

— Queria tê-lo conhecido — pensei em voz alta — queria poder vê-lo de perto, quer dizer, eu nem tenho uma foto dele!

— Você sabe porque..

— Eu sei, mãe. — Queria gritar, berrar, surtar mas minha mãe não merecia — Eu só queria ter um pai.

Senti os olhos da minha mãe amarelarem, ela começou a chorar baixinho. Me senti um idiota por falar aquilo para ela. Ela não tinha culpa da morte do meu pai. Não tinha culpa de ter queimado as fotos — talvez isso sim mas foi só um ataque de raiva —, e eu a estava culpando, lembrando-a de seus erros.

— Desculpe mãe — comecei chegando perto e a abraçando, ela se acalmou — não queria machucá-la.

— Meu bebê, eu que tenho que me desculpar. — Ela começou limpando suas lágrimas e as minhas que estavam a acumular — Tentei te dar uma família, eu juro que tentei. Mas não consegui. Desculpe!

A abracei bem forte a olhando nos olhos.

— Mãe, eu sei — declarei.

— Sabe o que?

— Eu ouvi. — Duas pequenas palavras que a faziam delirar — Mãe, larga ele.

— Não posso.

— Tenho um amigo, ele tem um pai policial — comecei — Pedi para ele colocar processo, se você deixar eu ligo para ele, Gabe vai preso. Assim Gabe nunca mais mexerá com você.

— Ele vai me achar — Minha mãe estava com medo. Não importa quanto em todos esses anos ela dizia que o tinha no controle. Ela não tinha. Ele tocou nela, bateu nela e ela tem medo dele matá-la se ela denunciar. Ela dizia a si mesma que ele era só um bebum inofensivo. Mas ele não era, nunca foi.

— Não vai — assegurei — Medida provisória, eles ainda vão fazer negócio: ele deixa a gente em paz e, em troca, ele não vai para a cadeia. Por favor mãe! Deixe-me ajudá-la antes que isso se torne uma tragédia.

—... sim — Demorou pensando, depois se derramou em choro. A consolei, cuidei dela até ela dormir. Liguei para Grover. Ele me disse que já estava tudo encaminhado eu só precisava deixá-la aqui por uma semana por segurança. Me senti um adulto cuidando dessa situação, mas só faltava uma coisa.

Acordei bem de leve minha mãe. Quando ela levantou-se um pouco travada por dormir em meu colo.

— Vem tenho algo para você. — Fomos para a entrada onde perto da mata que se formara a alguns metros. — Onde estacionou o carro?

— Ali! — apontou para um lugar afastado, entrei no carro. Era um Camaro, mas não era um Camaro; era o Camaro. O carro era idolatrado por Gabe cheiroso, o símbolo de sua falta de amor pela minha mãe, já que ele a mataria se ela o aranhasse pelo menos um pouco.

Entrei no carro e o liguei, eu não sabia dirigir mas não era preciso.

— O que está fazendo?

— Entra aí e deixa a porta aberta.

Ela entrou, nem eu nem ela fechamos nenhuma porta.

— Quando eu disser "já", você pula — avisei, ela arreganhou os olhos mas não se mexeu. Pisei no acelerador em direção a floresta e quando ele ia bater numa árvore gritei: — Já!

Caímos rindo alto com o carro todo destruído. Peguei fósforo e álcool e joguei no carro vendo-opegar fogo. Caímos novamente no chão rolando por causa do impacto do fogo e da explosão.

Minha mãe riu, gritou, sorriu. Ela havia morrido e renascido como uma nova mulher. Sem Gabe cheiroso para bater nela, sem amarras, sem monstros que destroem seus sonhos.

Éramos novas pessoas, e agora livres. Não era só um carro destruído, era uma marca. Uma marca viva de uma nova vida. 

*** 

Não mudei uma única palavra desse capítulo, pois ele é meu bebê, não consigo não ama-lo, pois sei que é difícil passar pelo o que Percy e Sally passaram e realmente é triste. Mas não é o fim, podemos enfrentar se formos fortes e corajosos.

Espero que tenham gostado! A música é maravilhosa, espero que tenham gostado. 

Acho que depois desse capítulo nós estaremos com 1k bonitinho :) Tão orgulhosa, mas vou deixar as comemorações para depois, quando vier o prêmio tanto de vocês quanto meu. Porque aqui todo mundo ganha! 

A primeira a comentar essa semana foi a @lelynha-chan, adoro você tá? Sempre aqui comigo linda, muitos chocolates, cookies e panquecas azuis para você esse ano!

É isso pessoal, boa semana! Comentem, curtam ou somente leiam, em qualquer um dos três eu vou agradecer. Amo vocês. 



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