Capitulo dezenove

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Ele se senta na sua cadeira e olha pra mim. Fecha as mãos em cima da mesa e fica a espera.

— Então vai me dizer seu nome?— ele corre os olhos por meu corpo.

— É Eliza Becker.— digo seca.

— Hmm...— ele olha um pequeno papel que eu trouxe comigo.— Dormiu nas três primeiras aulas?

— Sim, aconteceu sem querer. Eu não ando dormindo muito bem só isso.— digo apressada pra sair dali.

— Eu soube que suas notas são um pouco baixas. E dormir assim nas aulas é frequente, alguns professores tem reclamado. O comportamento isolado, dormir nas aulas, sair no meio da explicação. Algo a dizer sobre isso, Eliza?

— Estou passando por uma fase um pouco ruim só isso, eu prometo melhorar.— começo a ficar impaciente para ir embora.

— Fase ruim?— ele arqueia as sobrancelhas.

— Sim.

— Só isso que tem a dizer?

— Eu receio que sim. Isso é tudo senhor?

— Não, quero que você converse com a Aura, nossa coordenadora pedagógica.

— Eu não preciso de ajuda. Muito obrigada.— me levanto da cadeira.

— Não foi um pedido.

Eu suspiro e ele sai na porta e chama uma mulher que me leva até a sala dessa tal de Aura. Entro na sala e me sento na cadeira. Ela me olha e se apresenta.

— Olá, meu nome é Aura e eu sou a coordenadora pedagógica da escola. — ela diz sorrindo.

— É eu já sabia. Eliza, meu nome é Eliza.— olho pra ela esperando a próxima pergunta.

— Soube que está passando por alguns problemas, quer me contar sobre eles?

— Não.— respondo seca.

— Tudo bem, olha eu só quero te ajudar, então não precisa ter medo de falar comigo. — ela fecha o semblante e continua a me olhar esperando uma resposta.

— E se eu não quiser dizer nada?

— Nesse caso as coisas se tornam mais difíceis. — eu analiso seu rosto e não acho nenhuma expressão.

— Eu já disse é só uma fase ruim, vai passar.

— Não vai mesmo me contar o que aconteceu?— eu assinto com a cabeça.— então terei que adivinhar. Os pais se separaram, problemas com drogas, terminou o namoro de muito tempo, sofreu algum trauma recente, bullying, talvez?— antes que ela continue a interrompo.

— Tá bom, você venceu. Um amigo meu morreu há pouco tempo.

— Estamos progredindo, eram bem próximos?— ela vai anotando tudo.

— Melhores amigos. Faz 3 meses que ele se foi, eu só...— engulo em seco— Seu nome era Dylan e nos conhecíamos a quase 10 anos.

— Hmm... pode continuar.— ela realmente se interessa e isso me desperta um sentimento bom.

— Bom... ele era tudo pra mim, meu mundo, minha vida, tudo pra mim. Se você me dissesse há 3 meses atrás que eu perderia ele, te acharia louca e não acreditaria.

— Defina tudo.— ela continua a anotar.

— Nós não fazíamos nada separados. Eu demorei muito para entender o que ele realmente significava pra mim. O que sempre significou e sempre significará.— algumas lágrimas já descem pelo meu rosto.

— Continue.

— Nós fomos inseparáveis ano após ano. Foi tanto tempo que eu não fui capaz de entender e deixei que ele escapasse por entre meus dedos.— começo a falar rápido e paro para enxugar algumas lágrimas.—  Eu tive a chance de fazer diferente e desperdicei ela. A culpa é toda minha.— os soluços vieram disparados.

— Se acalme, você não tem culpa de nada.— ela me entrega um copo com água.

— Tenho sim, quando ele morreu estávamos brigados.— falo ainda soluçando.

— Fique calma, isso não é motivo para pensar assim. É só isso que vem a perturbando ou tem algo mais?— ela pergunta como se já soubesse tudo que eu tenho pra dizer.

— Não...na verdade tem sim. Eu só...só não sei como começar a dizer.— enxugo uma lágrima solitária e firmo a voz.

— Que tal fazermos assim, amanhã você volta mais calma e me conta mais. Certo?— ela me observa paciente.

— Está certo. Até amanhã!— me levanto apressada, pego minha mochila e saio dali o mais rápido possível.

Vou andando até a porta da escola e lá na frente vejo um carro prata e lá está ele encostado no carro. Paro e no momento dou um sorriso fraco. Ele me vê e sorri.

— A aula só acaba em 15 minutos.— digo me aproximando do carro e apontando para trás.

— Eu sei. Eu queria chegar mais cedo para não correr o risco de você ir embora.— ele sorri.— entra aí.

Entro no carro e decido deixar dentro da escola todos os problemas, durante esse dia. Hoje quero ser apenas eu, apenas uma menina sem passado.

— Aonde vamos?— Edward pergunta ao dar partida no carro.

— Pra qualquer lugar longe o bastante, seja criativo.— ele ri e eu ponho o cinto.

— Ja sei para onde vamos!

O caminho é longo mas com trechos bem bonitos, árvores floridas e algumas paisagens escondidas. Chegamos a uma praia distante e solitária. Ele estaciona o carro e nós descemos. Vamos andando em silêncio até a areia. Tiro meus sapatos e ele também.

— Que lugar lindo!— digo rodando e sentindo o vento bater em meu rosto.

— Meu pai costumava me trazer aqui quando criança, nós íamos pescar lá.— ele aponta para um cais bem ao longe.

— O ar daqui é tão...tão...— respiro fundo e ele me interrompe.

— Limpo. Fresco.

— Isso.— nós dois rimos. Nesse momento tiro meu casaco e o jogo na areia junto com meus sapatos.

— Liza.— me viro e vejo seus olhos cinza me observarem de uma forma diferente.

— O que foi?

— Você... é uma menina incrível. Tão diferente das outras. Liza.— eu o interrompo pondo o dedo em seus lábios.

— Hoje não por favor. Eu deixei todos os problemas lá na cidade faça o mesmo.— na mesma hora ele me beija e me envolve pela cintura.

Amores Inventados( concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora