Capitulo 5

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Audrey

Minha pele queima quando passo a esponja pela milésima vez em um dos locais que Jonathan tocou. Ainda sinto seus dedos em mim e odeio isso. Me alivia saber que me defendi e sai ilesa. Mas seus dedos... Seu cheiro... Isso não me deixou. Ainda.

Quando me vi totalmente só no quarto com meus pensamentos, notei como a sensação do Chateza perto demais ainda estava comigo. Eu precisava acabar com isso e por isso, segui para mais um banho.

A água quente escorre por minha pele avermelhada, cogito passar mais sabonete, mas me detenho. Por ora, já foi o suficiente. No estado em que estou, se passar mais uma vez a esponja, arrancarei minha pele. O que não seria má ideia se isso significasse tirar a sensação imunda de Jonathan me tocando.

Respiro profundamente quando cesso a água, que escorre levando marcas invisíveis para o ralo. Me embrulho na toalha, tentando a todo custo evitar pensar no jantar e o quase fim horrendo que teve. Apago o brilho perverso daqueles olhos opacos e o cheiro enjoativo do álcool e suor.

Me concentro naquilo que me colocará em segurança. Há quilômetros de distância das garras da monarquia. Longe de seus caprichos que podem destruir minha vida em míseros segundos. Ando pelo curto espaço do quarto, pensando e repensando no plano que me salvará. Vejo de longe os ponteiros chegarem no doze e sei que me sentirei horrível se não deitar em minha cama, mas temo fechar os olhos agora. Sigo caminhando e afastando Jonathan e suas garras.

******

Meus pés novamente tocam a grama verde e o céu está cheio de estrelas. Estrelas estás que iluminam o meu percurso acelerado. Escuto gritos me perseguindo e sei que estão perto de me alcançar. Minha respiração está ofegante e meu coração a mil, o temor e a euforia me consomem e me fazem correr mais rápido. Quando agarram meus ombros, dou um salto na... minha cama.

Um sonho. Eu estava sonhando com a minha fuga. De novo.

O quarto está escuro e frio, levo segundos para ver três figuras à minha frente. Meu coração erra uma batida, mas logo se comporta. Provavelmente, a mão que me agarrou no sonho era na verdade, a mão de uma das três.

Procuro o relógio que há no meu quarto e vejo que ele marca exatamente duas da manhã. Eu dormi muito pouco, a ansiedade e o medo são inimigos do sono. Estico meu dedo para acender o abajur e levo um tapa da Lúcia.

— Ei! — reclamo, massageando o local.

— Nada de luz. Agora levante essa bunda daí — ela manda, enquanto puxa minhas cobertas.

O frio da noite outonal me toma e faz com que todos os meus pelos fiquem eriçados. Passo a mão por cima da minha blusa de frio, esfrego meus braços, levantando-me da cama. Meus dedos dos pés se contraem pelo contato com o chão gelado e um arrepio violento me toma.

— Vem Audrey — Milly sussurra, me chamando com os dedos. — Trouxemos algumas roupas.

A sigo até o banheiro e sou obrigada a forçar meus olhos no escuro. A regra delas é bem simples, nada de luz no meu quarto. Uma pilha indistinta é passada para minhas mãos e resolvo apoiá-las na pequena pia do banheiro.

— Vista, vai se sentir mais quente com elas.

— Obrigada, Milly — agradeço, me livrando de minhas roupas.

Elas trouxeram peças básicas para os meus primeiros dias na rua. Uma blusa de manga curta, uma blusa de manga comprida de moletom fino e uma calça justa, mas maleável. Todas as peças na cor preta.

Ao terminar de me vestir, ainda sinto o frio em meus ossos e meu corpo involuntariamente treme um pouco. Volto a esfregar minhas mãos em meus braços, para gerar o mínimo de calor possível.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora