Capítulo 32

91 27 5
                                    

Audrey


O mundo amanhece cinza e o inverno não é o culpado por isso. O mundo alvorece sem cor graças a todos os acontecimentos. Quando os soldados marcharam pela Cidade do Rei, as cores do mundo se foram junto.

Nunca havia visto o Abrigo tão cheio durante o dia como hoje. Todos parecem ter decidido que sair é uma péssima ideia e concordo totalmente com eles, apesar de odiar ficar presa aqui, só de pensar em sair sinto o medo me tomar.

Por pouco não fomos levados. Por pouco não voltei para uma prisão. Por pouco não fui afastada de todos que amo.

José se encontraparado no centro galpão, seus olhos estão sem brilho e ele finge ouvir o rapazao seu lado. Sua tristeza me atrai e quando vejo, estou ao alcance do relato doseu acompanhante. Pela aparência, deve ter a mesma idade que Lucas e Marcos.

— Audrey — José exclama ao me notar, quebrando a narrativa do outro. — Como está hoje? — sua ternura e preocupação me trazem um sorriso ao rosto.

— Muito bem — digo, forçando um tom positivo. — E o senhor?

Suas feições adotam um sorriso triste.

— Faça essa pergunta de novo daqui um ano, a resposta será melhor. — Meu coração se aperta e procuro palavras de conforto, mas não as encontro. — Audrey, já conheceu o Pedro? — Aponta para o rapaz de cabelos negros e fartos.

A repentina citação de seu nome o deixa sem jeito e seus olhos passam pelas pessoas ao nosso redor, procurando algo ou alguém.

— Apenas de vista — respondo. — Muito prazer, Pedro — repito aquilo que li em alguns livros. "Muito prazer em te conhecer" foi uma frase que decorei para quando estivesse livre.

Analisando bem, achoque não a usei muito no último mês sendo que conheci várias pessoas.

— O prazer é meu, Audrey — fala sem graça, interrompendo minha linha de raciocínio em relação a frase decorada e ativando minha curiosidade. Quem ele tanto procura? — José, voltando...

— Já entendi — o mais velho interrompe. — Já era para estarem de volta. — Quase escuto o coração de José estraçalhar quando ele suspira profundamente. Capto o que pode ter acontecido e reprimo minha vontade de chorar. — Agora temos que saber exatamente quem falta.

O silêncio entre nós três é pesado e um pouco sufocante. Pedro passa a mão por seus cabelos curtos e repousa um olhar em mim, seu desconforto é aparente e vez ou outra, seus olhos divagam pelos moradores do Abrigo.

— Posso fazer uma lista se quiser — me ofereço. O olhar que me é direcionado, recorda os olhos cor de mel de Lúcia. A semelhança é tanta que meu coração se aperta. A saudade é capaz de alterar nossa percepção, única explicação para achar semelhanças entre José e Lúcia, duas pessoas que nunca se conhecerão, não enquanto Carlos for rei.

— Mas a senhorita não conhece todos ainda — rebate gentilmente.

— A melhor forma de saber quem falta é perguntando. — Dou de ombros. — De cabeça, nem vocês lembrariam quem falta. Posso sair questionando quem ainda não retornou.

Dois sorrisos mínimos surgem a minha frente. Sorrisos que expressam sua gratidão pela ajuda que ofereço.

— Muito obrigada, Audrey. Seria perfeito se fizesse isso. — José coloca sua mão sobre meu ombro e o aperta levemente, da mesma forma que já o vi fazer com Lettie. — Mas, primeiro — seu tom se torna autoritário e... paternal? —, quero que tome seu café da manhã.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora