Audrey
Termino meu segundo pão sob o olhar de Lettie. Tento pensar em que momento será apropriado perguntar por Lucas sem parecer suspeito, já que toda vez que pronuncio o nome dele Lettie me lança um olhar e um sorriso estranho.
— O que você quer fazer hoje? — Letícia pergunta, no momento que abro a boca.
— Eu... — Penso nas possibilidades dos dias, sinceramente, não aguento mais ficar aqui, passei anos dentro de um quarto, agora que conheço o mundo, não consigo ficar sem ver o céu e não sentir um aperto em meu coração. — Quero ir na 25. Preciso aprender os nomes das ruas paralelas e como voltar para cá.
— Por que? — o questionamento, cheio de desconfiança, me faz engolir em seco.
Como explicar que em breve minhas amigas me esperarão na 25? Como explicar que acho aqui muito seguro e quero trazer as três pessoas que impediram que eu enlouquecesse no inferno?
— É que... — começo, mas preciso parar para umedecer os lábios. — ocorre muitos ataques e da última vez, quase fui pega por um guarda.
Ela arregala os olhos e bate em sua própria testa.
— Eu fiz uma pergunta idiota — suspira. — É tão óbvio! Esqueço que você nem sempre esteve aqui e livre. Sinto que te conheço há anos — sua última frase soa suave e gentil.
— Eu também sinto isso — confesso sorrindo.
— Certo, vamos então?
Levanto-me da mesa, limpo os farelos de pão do meu moletom azul escuro e estendo a mão para ela. Juntas saímos pelas ruas da cidade.
— Vou te levar através de algumas vielas, é menos confuso do que pelas ruas.
— Tem certeza disso? — indago em dúvida.
A Região Leste é um emaranhado de ruas, vielas e becos sem saída. Acho impossível não ser confuso.
— Nenhuma — a exclamação sincera dela me arranca uma gargalhada.
Andamos por vielas estreitas e mesmo com ela apontando pontos de referência, tudo me parece igual e da mesma forma, me sinto perdida. Eu deveria ter perguntado pelo Lucas e ter pedido a ele que me mostrasse os pontos importantes. Lettie é confusa e mais perdida que eu.
— Por que paramos? — pergunto a ela, depois de umas cinco vielas diferentes.
— Estou em dúvida de onde estamos — ela confessa, analisando a bifurcação a nossa frente.
— Estamos perdidas? — Temo a resposta dela.
Suas esmeraldas brilham em animação.
— Nunca! Conheço a cidade como a palma de minhas mãos.
— Mas você disse que está em dúvida — rebato.
— Isso é momentâneo, agora vamos.
Lettie me arrasta pela viela à esquerda e depois de algumas voltas, saímos diretamente na 25.
— Viu!? Chegamos!
Ela saltita no lugar e segue contente entre as pessoas. Não consigo impedir meu riso e sigo atrás da maluca da minha amiga. No fim, não adiantou muito eu vir para cá se ainda não faço ideia de como chegar aqui e voltar para casa.
— Olha que cor linda! — a escuto falar, quando me aproximo mais.
— O que é isso?
— Batom — ela explica, me mostrando o pequeno rolo de cor preta. — Olha essa cor. — Ela passa a rosquear e um cilindro vermelho surge. — Você passa na boca e pronto! Quero esse!
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Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1
Ficção Geral•2º lugar em Romance no Concurso Young Writters •3º lugar em Ficção Geral no Projeto Realizando •Honraria de Melhor Protagonista na categoria Jane Austen - Romance e Literatura Feminina no Prêmio Imaginadores 2019 Um casamento arranjado. Um rei tira...