Capítulo 36

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Audrey


A falta de agito do Abrigo me causa estranhamento. Não sei dizer exatamente o que fez o número de pessoas aqui dentro caírem, mas sei apontar um culpado, o mesmo que anda tirando meu sono e paz nos últimos dias. Mesmo após mais de um mês Carlos é capaz de me atormentar.

Uma movimentação mais ao fundo atiça a minha curiosidade e resolvo seguir até o local para ter o que fazer. Marcos carrega um objeto retangular que aparenta ser pesado graças ao tamanho. Ao me aproximar, o tal objeto me lembra os telões espalhados pela cidade, só que em uma versão menor.

— Maninha, pronta para ver uma relíquia funcionar? — indaga assim que chego ao seu lado.

— E o que seria essa relíquia?

— Uma televisão — responde como se fosse algo óbvio. Transpareço não reconhecer o termo e um sorrisinho surge em seus lábios. — Também chamamos de TV. É basicamente a mesma coisa que os telões onde você teve o desprazer de ver o rei, a diferença é que é menor.

— E antigamente havias programas, filmes e outras coisas para o entretenimento — completa José, que se achegou sem que eu visse. — Olá, senhorita Audrey — me cumprimenta sorridente. — Infelizmente hoje em dia a TV só serve para as mentiras do Rei.

— Por isso acho um desperdício de energia elétrica — Marcos resmunga.

José bufa e apenas balança a cabeça em negativa. A TV é colocada no alto da parede e um fio é conectado na tomada.

— Terminou com a TV,Marcos? — Lucas questiona ao sair por uma porta próxima a nós.

Assim que seus olhos repousam em mim, meu coração se atrapalha por completo. Seu corpo segue em minha direção automaticamente, mas antes que eu fique ao alcance de suas mãos, Marcos lança um olhar enviesado para ele.

— Cara feia para mim é fome — é a resposta do meu namorado.

Namorado. Esse termo faz meu coração se aquecer, mas Carlos invade a minha mente e faz meu coração mudar para uma versão apertada e preocupada.

Estou longe das garras do monstro, mas ainda não posso me dar ao luxo de dizer que estou livre. Carlos ainda me quer e ainda tem planos para um casamento com seu filho asqueroso. Um relacionamento com Lucas é traição ao Príncipe e eu posso estar colocando a vida dele em risco.

Tudo o que eu escuto é que as coisas estão difíceis do lado de fora. Que o exército está nas ruas e que as pessoas são presas simplesmente por estarem andando na rua. Se déssemos o azar... Eu condenaria Lucas simplesmente por estar apaixonada por ele.

Ele deposita um beijo em minha testa e rodeia meu corpo com os seus braços.

Marcos nos encara com uma carranca, mas quando seus olhos encontram os meus, um sorriso fácil vem aos seus lábios e ele volta a mexer na TV. Quando a tela preta ganha vida, me deparo com o brasão do país. A silhueta de nosso mapa com a coroa de louros ao redor sempre me dá a sensação de familiaridade. Crescer no palácio pode ser a causa real disso.

— Por que estão instalando essa televisão? — indago quando percebo que a imagem na tela permanece inalterada por longos segundos.

— Porque o rei anda falando demais — Marcos diz. A simples menção de Carlos faz com que meu corpo se arrepie de medo.

Lucas não entende dessa forma e me abraça mais, com a intenção de me aquecer na noite fria de inverno.

— O Rei Carlos passou a se pronunciar quase todos os dias, senhorita Audrey — José me explica atenciosamente. — E, me disseram que de tempos em tempos o canal Real começa a transmitir informes, lista de baixas e coisas do tipo.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora