Capítulo 31

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VALIENTE


Ainda sinto as mãos trêmulas e o coração apertado. Tiros. Alguém disparou uma arma de fogo a poucos metros de Audrey. Mais uma vez ela esteve em perigo... Por minha culpa.

Passo a mão entre meus cabelos e expiro com força. Tropas estão aqui. Centenas, talvez milhares, de soldados chegaram na capital no mesmo dia que explodimos um de seus prédios. Não teria dado tempo de tantos homens serem movidos para cá.

Carlos os movimentou por outra razão.

Adentro a sala de José após bater levemente na porta. O senhor de cabelos grisalhos se encontra debruçado sobre sua mesa, seus ombros encurvados e expressão esgotada me mostram como esse dia foi exaustivo para ele.

— Até que enfim — suspira. — Já estava entrando em desespero. — Ele massageia os olhos e encurva mais os ombros.

— As coisas não estão boas lá fora — tento caçoar, mas não sou bem-sucedido.

— E Audrey? — indaga, com a expressão aflita.

— Bem, nesse momento deve estar sendo paparicada por Letícia. Não foram horas fáceis — suspiro.

Puxo a cadeira equando descanso nela, o idiota do Marcos passa pela porta, sem anunciar sua entrada.Dedico apenas um olhar enviesado. Sua expressão era transparente. Ele realmenteachou que havíamos demorado porque estávamos ficando. Vivendo em um paísde merda, após um ataque e diversas notícias de blitzes ele realmente imaginouque eu levaria Audrey para algum canto para beijá-la.

Marcos está comigo há menos tempo que Lettie, mas ele me conhece o suficiente para saber que eu nunca faria uma besteira dessas, arriscando a vida dela. E para completar, ele sabe que entre Audrey e eu, não existe nada. Ainda. Não me sinto tão confuso quanto antes, mas, inseguro. Audrey não é qualquer garota e mesmo se gostasse de mim, não sei dizer se ela perceberia, afinal, não ter tido vivência com outras pessoas ao longo da vida pode deixá-la confusa quanto aos seus sentimentos.

O dia que Verônica pediu para que ela usasse apenas o apelido me mostrou como o mundo é novo demais para ela. Que cada experiência é nova em sua vida. Ela precisa do mundo todo e eu apenas quero que ela o tenha.

— Por que não está com sua irmã? — José questiona, curioso.

— Eu... — Marcos tira um tempo para pensar em uma boa justificativa. — Quero ouvir em detalhes o que aconteceu lá — responde, após a sua pausa.

O senhor a nossa frente concorda com a cabeça e me lança um olhar que transmite que devo relatar tudo.

— Não sei dizer o como e porquê de tudo, mas centenas de soldados atravessaram a cidade em direção ao palácio, levando com eles todos os civis que estavam no caminho. — As sobrancelhas claras de José se juntam aos seus cabelos.

— Como assim centenas de soldados? — Marcos exclama, se colocando ao lado de seu sogro.

— Estávamos entrando oficialmente na Região Leste, poucas ruas de distância do território de Miranda quando ouvimos um som parecido com a marcha dos militares. — A testa de José fica cheia de vincos, e as sobrancelhas de Marcos se juntam em confusão. — Também achei estranho, deixei a Audrey parada na calçada e corri atrás da fonte do barulho. Eu acho que em toda a minha vida, eu nunca vi tanto homem fardado. — Só de recordar a cena, sinto meu coração entrar em pânico. — Entrei em desespero porque estava com Audrey e como ia fugir com ela por uma rota segura? Sabia que tinha blitzes rolando e ir para outro lugar poderia nos colocar nas mãos da Guarda.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora