Capítulo 13

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Audrey


Encaro o teto acinzentado acima de mim e tento me recordar onde estou dormindo. Meus músculos doem, principalmente os das minhas pernas. Sento-me no colchão e literalmente todo o meu corpo protesta. Estou moída. Gemo involuntariamente e coloco meus pés no chão.

Olho o cômodo pequeno onde estou e me recordo que é o quarto de Lucas. Não o vejo, mas noto seu saco de dormir enrolado em um canto ao lado de uma cômoda pequena. Percebo que exagerei um pouco em relação ao quarto ou estava cansada demais, ontem ele parecia ter um tamanho, porém ele é bem menor que o quarto onde passei minha vida toda, entretanto, não me sinto sufocada aqui, não como eu me sentia naquele lugar.

Sorrio ao contemplar que amanheço em liberdade pela segunda vez. Duas manhãs longe da dupla Cavalcanti. Duas manhãs onde sou dona do meu destino. Finalmente posso dizer que escolho como passarei o dia — e a vida toda.

Levanto-me, dou dois passos e percebo que estou descalça. Crescer sem ter sapatos ou chinelos lhe acostuma a andar descalço sempre, o que é péssimo quando se tem um útero. Olho ao redor, procurando meus coturnos e os vejo embaixo da cama. Não me recordo de tê-los tirados, estava tão cansada que não consigo me lembrar de uma atividade básica. Volto a sentar na cama e os calços, agradecida mentalmente as meninas pelo sapato quente e confortável.

A janela ao meu lado chama a minha atenção e me aproximo dela. Os raios solares passam através de frestas pequenas trazendo um pouco de luz para o quarto, não sei dizer se posso ou não abri-la. Arrisco que sim, mas abro um espaço bem pequeno, o suficiente para um olho observar. Há um terreno cheio de mato e lixo e, não vejo casas ao redor. Deve ser por isso que eles conseguem manter o anonimato.

Sinto a brisa gelada tocar meu rosto e fecho meus olhos por alguns segundos, absorvendo o frio do vento e o fraco calor do sol. O inverno está cada vez mais próximo e sinto-me animada por finalmente ver como o mundo fica nos dias dessa estação. E nos de verão. E na tão sonhada primavera. Volto a sorrir e me afasto da janela. Dobro a coberta — que não lembro de ter pego — e arrumo o lençol da cama. Me dirijo até a porta e saio do quarto de Lucas.

O corredor está vazio, da mesma maneira que estava ontem e não sei bem para onde ir. Sigo na mesma direção de onde vim e me sinto um pouco insegura. Gostaria de ter acordado ao mesmo tempo que Lucas, facilitaria as coisas para mim. Sinto um pouco de frio e percebo que não coloquei a minha capa antes de sair do quarto. Quando piso no primeiro degrau, avisto os fios vermelhos de Lettie. Ela está na ponta oposta da escada e estampa um sorriso enorme.

— Estava indo ao quarto ver se você já tinha acordado — seu tom é alegre, e seus olhos verdes brilham em minha direção. — Bom dia! — ela finalmente exclama quando chego no mesmo degrau que ela.

— Bom dia — devolvo a saudação, com um sorriso inseguro.

— Dormiu bem? — indaga, passando um braço pelos meus ombros e me abraçando de lado.

— Perfeitamente bem — digo, sorrindo verdadeiramente.

— Fico feliz em ouvir isso. Agora vamos! — Ela começa a me arrastar vigorosamente. Para alguém tão magrinha, ela é bem forte.

— Vamos?

— Sim! Separei algumas roupas para você. — Ela me lança um olhar entusiasmado e volta a olhar para frente. — Tem um horário vago nos banhos então também separei uma toalha e algumas coisas que você pode precisar.

A olho agradecida, passo meu braço por sua cintura e a abraço.

— Muito obrigada! — Ela ri meio sem graça e faz um gesto de dispensa com a mão. — É sério, muito obrigada.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora