Capítulo 18

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VALIENTE


Sinto a inquietação de todos no ar. Após o julgamento de ontem, o exército levou mais pessoas sob custódia e mais uma vez, não houve resposta por parte do rei. Alguma coisa está o mantendo em silêncio e me preocupo. O cara é desequilibrado e sua falta de fala é estranho demais. Ele teria pelo menos se gabado da morte de "rebeldes".

Ainda por cima estragou o dia de comemoração da Audrey...

A noite se aproxima e as janelas no alto já lançam sobras pelo Abrigo. As pessoas já estão se amontoando para compartilhar do calor humano e realizarem a última refeição do dia.

Marcos e Audrey estão sentados no chão encarando o teto enquanto conversam sobre algo. O brilho do rosto dela me alegra e espalha um calor pelo meu peito. Ela sorri para algo que Marcos lhe diz e isso me instiga a ir até eles.

Marcos me nota antes, fecha o semblante momentaneamente e logo volta a sorrir. Eu preciso mesmo conversar com ele e descobrir o motivo do descontentamento dele. Marcos nunca foi de ficar irritado e não compartilhar o motivo comigo.

— Lucas! — Audrey exclama ao me ver, ela dá algumas batidinhas no chão ao seu lado. — Sente aqui.

— Claro — respondo, sinto o meu sorriso surgir involuntariamente.

Os olhos de Marcos se mantêm em mim e eu o ignoro completamente.

— O que estão fazendo? — pergunto a ela.

— Nada — Marcos me responde secamente de imediato.

Audrey lança um olhar confuso e zangado a ele.

— Como nada? Estávamos repassando as ruas no entorno — ela explica me olhando, e seus lábios se repuxam para um lado.

— Por que?

— Caso ela esteja na rua quando algo ruim acontecer e nenhum de nós três estivermos com ela...

— Ela acha o caminho de casa — o corto completando sua frase.

Ele faz uma cara de "óbvio" e não consigo não revirar os olhos em resposta.

— Exatamente — Audrey diz feliz. — Isso é muito bom, não me sinto tão perdida agora — ela confessa a nós dois.

Issoquebra o ar irritadiço de meu amigo e ele volta a ser o velho Marcos de sempre.

—Ficamos feliz em ouvir isso — responde, com os olhos cheios de ternura.

— Já está na hora do jantar? — indaga, com os olhos em forma de fenda voltados para a cozinha. 

Ambos rimos dela e recebemos um olhar longo de reprimenda.

— Vou buscar algo — Marcos se voluntaria. — Descobri que se você fala que a comida é para a Audrey, dona Berenice capricha.

Ele se levanta com um salto e segue na direção da cozinha. Audrey recosta a cabeça na parede atrás de nós e suspira desanimada.

— O que foi? — pergunto olhando seu rosto.

— Marcos disse que terei que ficar aqui dentro por alguns dias. Nada de passeios. — O desânimo dela não me agrada.

— É pela sua segurança. — Ela inclina a cabeça para o lado e foca seus olhos escuros em mim. — Já tem anos que o país está vivendo um pesadelo, o último ano tem sido o pior. Não queremos que ninguém aqui saia ferido.

— Por que o últimoano tem sido pior? — ela questiona, se endireitando e me olhando diretamente.

Verifico se Marcos está voltando, mas ele ainda está na porta da cozinha batendo papo.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora