Audrey
18 de junho
Eu estou correndo.
Tão rápido que mal noto meus pés tocarem o chão. Entretanto, a mudança do áspero para o pinicar da grama verde — que exala um cheiro delicioso — fazem com que eu passe a sentir cada passo dado. A sensação é de flutuar para longe ao mesmo tempo que sinto a aderência dos meus pés ao verde que sonhava sentir.
Não percebo o cansaço — apesar da correria — e a visão das estrelas me enchem de esperança. Estou quase lá! Mais um pouco e terei o mundo todo para mim. Mais um pouco... Braços me rodeiam, retirando a liberdade de mim e as estrelas somem, sendo substituídas pela semiescuridão de meu quarto. Apenas um sonho. Fecho fortemente meus olhos, mantendo em mente a imagem das estrelas.
Eu odeio o dia dezoito.
Sempre achei o ódio algo forte demais, porém, não consigo pensar em algo que seja o suficiente para esse dia odioso. Que se repete mês a mês. Sem falta.
Nem sempre odiei o dia dezoito, antes era apenas mais um dia do mês — exceto em janeiro, quando esse dia me acrescentava um ano de vida —, até que descobri o que ele significava na minha vida, algo além da minha idade.
Alguns até gostam da ideia de estar completando um mês ou um ano a mais de vida, outros não gostam por lembrar que estão se tornando mais velhos. O dia dezoito me recorda o segundo. Envelhecimento. Conto cada um dos meses que passam.
Eles sempre passam voando, fazendo meus dias escorrerem de minhas mãos como areia. Ou como imagino que seja a areia escorrendo entre meus dedos, já que nunca tive a oportunidade de me afastar mais que cinco metros dessa prisão.
Cada mês que passa, mais perto do meu pesadelo me encontro. Tenho que viver dia a dia com a certeza do que me aguarda.
Os dias? Monótonos e sem graça. Escapam mais rápido do que consigo notar. Repito as mesmas atividades, sem cessar. Raramente mudo ou quebro a rotina. Raramente existo de uma forma diferente.
Um ciclo interminável.
Existir pode ser exaustivo demais as vezes. Para mim, existir já me exauriu por completo.
Desde pequena, observo as pessoas — ou como o rei denomina, os criados — ao meu redor. Todos em suas rotinas maçantes e extenuantes. Existindo nas sombras para não atrair a atenção de um rei tirano. No entanto, falhando em esconder os sentimentos, demonstrando através de suas feições o quanto estão cansados dessa forma de viver.
Não sou a única que cansou.
Quando eu era criança, possuía a esperança na existência de fadas madrinhas ou lâmpadas magicas habitadas por gênios. Seres que eu tinha certeza que me libertariam da prisão onde vivo e do meu destino traçado antes que eu entendesse o significado das coisas.
Sonhava que escolheria como iria viver a partir daquele momento mágico. Sonhava que iria escolher onde morar. Que iria escolher como viver. Que faria amigos de verdade e que eles se importariam comigo. E, o que sempre importou para mim, escolheria com quem passaria o resto da minha vida. Escolheria eu mesma o meu marido.
Mas, aparentemente, fadas e gênios não costumam resgatar garotinhas órfãs com tantos sonhos. Pelo menos, nenhum apareceu em meu quarto até hoje e eu esperei por dezessete anos.
Dezessete anos que passaram como um borrão...
Ao longo do tempo, descartei as fantasias e passei a focar no que poderia me salvar. Planejei com esperança e determinação a minha fuga. E, até tentei executar meus planos algumas vezes. Nunca resultou em muita coisa além de castigos, porém, sempre valeu a pena por saber que eu estava lutando pela minha liberdade.
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Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1
Fiksi Umum•2º lugar em Romance no Concurso Young Writters •3º lugar em Ficção Geral no Projeto Realizando •Honraria de Melhor Protagonista na categoria Jane Austen - Romance e Literatura Feminina no Prêmio Imaginadores 2019 Um casamento arranjado. Um rei tira...