Capítulo 25

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VALIENTE


Ajusto as luvas de lã em minhas mãos e caminho pelo corredor escuro. Todos no Abrigo dormem tranquilamente em seus cantos, inclusive Audrey, que acabou adormecendo encostada em mim e teve que ser carregada para o nosso quarto, como vem acontecendo com frequência.

Não consigo evitar o sorriso que me vem aos lábios ao lembrar de suas reclamações enquanto eu a carregava. Deixar o céu estrelado não parecia uma coisa positiva, apesar de estar frio lá fora e ela possuir alguns pontos em seu corpo.

— Pronto? — Marcos indaga, arrumando o moletom que pegou em minhas coisas e desviando meus pensamentos da garota.

Garota que anda presente demais em minha mente, me fazendo andar em uma corda bamba, se eu perder o equilíbrio, jogo tudo para o ar e ignoro o fato dela ainda ser menor de idade. Menor de idade, protegida do meu melhor amigo e que não conheceu o mundo como deveria.

Suspiro, levemente irritado — comigo e com quem quer que a tenha criado.

Marcos e eu vestimos preto para camuflar melhor na noite. Iremos na direção da base que em breve destruiremos. Um grande carregamento foi visto nas fronteiras do distrito e está se dirigindo para lá. Uma ótima oportunidade de abastecermos a despensa do Abrigo antes que tudo naquele prédio vire cinzas e escombros. E, um jeito de já deixarmos tudo pronto para o ataque.

Após o roubo, a segurança será ampliada e será praticamente impossível se aproximar sem ser pego. E não podemos correr um risco desses. Não agora que temos mais alguém para sentir nossa falta. Audrey já perdeu demais nessa vida.

E mais uma vez ela toma meus pensamentos.

Logo avisto os outros que irão conosco, todos com os rostos sérios e decididos. Eles seguirão Caio enquanto Marcos e Pedro virão comigo. Dividir nunca foi a ideia favorita de José, mas nos últimos tempos, grupos menores são mais seguro.

Sem contar que agiliza todo o processo, enquanto metade desvia os suprimentos para os trilhos abandonados que há abaixo da cidade, a outra metade instala pequenos dispositivos explosivos que foram estocados próximos a base do exército.

Um planejamento meticuloso dos últimos dias — dias anteriores ao ferimento da Audrey — que foi alterado na última meia hora graças a um caminhão que possui comida o suficiente para dias e dias no Abrigo. Às vezes é difícil manter um local como esse, mas se essa é uma forma de trabalharmos contra o governo de Carlos, vale a pena.

— Você está sério demais — Marcos comenta, me encarando de soslaio.

— Só iriamos instalar os dispositivos nas próximas semanas por conta do tempo para preparar o equipamento e estamos indo hoje. Muita coisa pode dar errado, não temos nem certeza se quando apertarmos o botão vermelho irá realmente explodir tudo. — Ele balança a cabeça em concordância.

Ele nem desconfia que essa seja apenas parte da verdade. Que eu estou sério por estar pensando em deixar a Audrey em seus primeiros dias de recuperação. Sozinha em um quarto afastado de todos. Eu devia ter pedido para Lettie ficar em meu lugar, o único problema disso seria lidar com suas perguntas de rotina sobre meus interesses amorosos relacionados a Audrey.

— Vai dar tudo certo — ele começa, com a sua confiança e positividade de sempre. — O pessoal do TI sabe o que faz, se falaram que funcionará é porque funcionará.

Afirmo com a cabeça, demonstrando uma confiança que não possuo, mas aprendi a fingir ter. Nesse mundo, não há espaço para dúvidas. Não quando precisamos vencer um inimigo que detém todo o poder do país. Temos que ser confiantes, principalmente se estamos à frente de todos.

Esperança na Liberdade [COMPLETO E EM REVISÃO] - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora