CAPÍTULO DEZ

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Nícolas me levantou do chão e me fez encará-lo, mas eu estava tão trêmula com a situação, que não conseguia me concentrar. Foi tudo muito rápido: a bozina, o freio, o carro vindo na minha direção, o grito dele e ele correndo e me empurrando para o outro lado da rua e caindo em cima de mim.

— Você está bem?

— Eu acho que sim. — Olhei para o motorista do carro que tinha estacionado e agora estava vindo na minha direção.

— A senhorita está bem? Você saiu do nada, eu não consegui freia a tempo. — O homem estava nervoso e eu conseguia ver suas mãos tremerem.

— Você tá maluco? Quase passou em cima dela, seu filho da mãe!

Nicolas empurrou o senhor de meia idade querendo bater nele e precisei intervir, segurando-o.

— Nic, eu estou bem. Não foi culpa dele, tá? Eu que não prestei atençao na rua.

— Isso não importa, você poderia ter morrido se eu não tivesse chegado.

— Para, Nicolas! — O empurrei para longe, irritada! — O senhor pode ir, eu estou bem, de verdade.

— Não está não, olha só... seu braõ está machucado.

Olhei para a parte de trás do meu braço direito, pouco acima do cotovelo e vi que tinha dado uma boa ralada na minha pele.

— Foi só um arranhão, o senhor pode ir. Nada que um pouco de água e sabão não resolvam. — Olhei feio para Nicolas que bufou, depois travou o maxilar.

— Tem certeza? Eu posso levar você ao pronto-socorro.

— Sim, eu estou bem. Nem está doendo, fique tranquilo.

Fiquei olhando o senhor saindo, enquanto Nicolas resmungava incrédulo por eu deixá-lo sair. A culpa realmente era minha, então, ainda que ele tivesse passado por cima de mim, não deveria ser punido.

— Tem certeza que está bem?

— Do que te importa?

— Dulce... — Ele me segurou, impedindo que eu saísse.

— Está esperando um obrigado? Pois bem, obrigado, mas eu preferia que o carro tivesse passado em cima de mim. — seus olhos acinzentados me olharam espantados e sua boca ficou entreaberta. — Agora tchau, Nicolas.

Puxei meu braço, e antes de sair, fiquei olhando para ele. Ele ainda tinha o olhar de decepção, mas desta vez tinha um misto de preocupação enquanto buscava algo em mim.

— Eu... eu... me desculpa.

— Eu já me cansei de desculpar as pessoas.

Falei baixo, mas numa altura suficiente para ele escutar, então eu comecei a caminhar para o mais olonge possível dele. Quem ele pensava que era? Primeiro me destratou e agora simplesmente vem bancar o herói?

Quando vi um taxi se aproximar de onde estava, o chamei e logo em seguida ele parou ao meu lado. Foi só o tempo de colocar a mão na maçaneta do carro, quando ele me puxou para trás, e antes que eu pudesse raciocinar, ele me beijou. Eu não consegui corresponder, então ele se afastou e me olhou, segurando em meu rosto.

— Eu não vou desistir de você, não importa o que você diga.

— Nicolas... eu... eu não...

— Não importa, não importa, tá? — Ele me deu dois selinhos e depois distribuiu beijos pelo meu rosto. — Eu demorei quatrocentos e setenta e três dias para conseguir finalmente sair com a garota mais linda do mundo, e não vou deixar ela escapar tão fácil assim das minhas mãos.

— Nic. — Dei um passo para trás. — Assim não. A minha vida... eu não sei o que pode acontecer amanhã, tá bom? — Olhei para trás e quando vi, o taxi já tinha ido.

— É o seu ex? Ele nem está aqui, está? Ou ele veio pra ficar?

— Eu o amo, sinto muito.

— Ele não está aqui agora, eu estou!

— Olha, eu gosto de você, de verdade, mas não como você gostaria. Eu amo o Christopher desde o maldito dia que o vi e o que a gente teve não acabou, mesmo com o tempo e a distância. É confuso, eu sei, por que nem eu entendo, mas eu não consigo.

— E quanto a nossa noite? Não foi boa?

— Não é sobre sexo, não é sobre você ou a gente, é sobre o que eu sinto e não posso controlar. Eu não pedi isso.

— Então você prefere esperar um cara que nem mesmo está aqui a tentar algo comigo?

— Esse é o problema. Eu não sei se ele vai voltar e se vai, quando, mas eu sinto que eu preciso disso. Ele foi a minha âncora em toda essa história e não posso fazer isso.

— Eu posso ser a sua âncora também. — Ele deu um passo na minha direção e trouxe sua mão ao meu rosto, acariciando-o levemente. — Você só precisa deixar.

— Nic.

— Por favor. — Fechei meus olhos, sentindo novamente seu rosto próximo demais do meu.

— Se você soubesse, talvez entenderia.

— Mas você não me deixa entender, você nunc me deixou saber.

— Você não se apaixonou por mim, Nic, por que essa não sou eu.

— E quem é você então? Me deixe conhecer você, e tenho certeza que me apaixonarei ainda mais.

— É melhor não. — Voltei a abrir meus olhos e então vi que ele já estava chorando. — Eu não quero ver você sofrer, não vale a pena, tá? Nã por mim. Você é bonito, esperto, inteligente, carinhoso... tem qualidade que faz as mulheres caírem aos seus pés e tenho certeza que vai encontrar alguém pra você.

— Eu não vou.

— Você vai sim. — Coloquei minha mão sobre a dele e a tirei de meu rosto. — Não me odeie por isso, mas vai ser melhor assim. Você é bom demais para entrar nessa história comigo. — Soltei-o lentamente e me afastei. — Não vem atrás de mim, por favor. Vai viver sua vida, vai ser feliz com quem merece.

[REVISÃO] Inevitável - RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora