CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

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Acordei tarde e vi que Christopher não estava no quarto. Tomei um banho frio e depois desci para procurar alguma coisa para comer.  Eu não vi sinal nenhum de vida na casa, nem de Floquinho nem de Christopher, então eu provavelmente estava sozinha ali. 

Já na cozinha comecei a procurar pelos armários e geladeira, a fim de encontrar alguma coisa que me desse vontade de colocar pra dentro e depois de muito tempo indecisa eu finalmente achei o que queria, ou o que me deu vontade de comer.

Peguei uma melancia que encontrei picada em pedaços médios e um pote de manteiga. O quanto aquilo poderia ser estranho? Mas para mim parecia ser saboroso. Derreti um pouco de manteiga e a despejei em cima dos pedaços de melancia. Peguei um garfo e fui me sentar no sofá, onde comecei a comer. Estava bom, tão bom que eu com certeza comeria isso mais vezes.

  — Que cheirinho bom de manteiga.

A porta do escritório de Christopher se abriu de repente e eu quase deixei minha vasinha de melancia cair. Arregalei meus olhos e topei com Anahí, sorridente, segurando a porta.

—  O que você...

—  Ah, bom dia, Dulce. Dormiu bem? —  Ela veio na minha direção. —  O que tá comendo? O cheirinho tá bom.

— Melancia com manteiga. —  Ela se jogou ao meu lado no sofá e arregalou seus imensos olhos azuis. 

—  Que nojo! Eca!

—  Não é ruim não, quer provar?

— Não, obrigada. —  Ela fez uma careta. —  Pela cara que você fez, provavelmente o menino Uckermann não contou que eu estaria aqui né?

— Não. — Voltei a atenção à minha comida.

—   Ah, mas ele falou que eu estou trabalhando pra ele né? 

—  Oi?

— Ah, eu estou como assistente pessoal dele, pra poder pagar os estudos. À distância, por que não tenho tempo pra ir até na faculdade, então vou lá só fazer prova, e como ele precisou ir trabalhar, pediu pra eu ficar trabalhando daqui do escritório dele.

  —  Muita informação, Annie. —  Falei com a boca tão cheia que me lambuzei toda.

  — Olha, o negócio é o seguinte. —  Ela cruzou as pernas em cima do sofá e arrumou a postura. —  A partir de hoje sou eu quem irei ficar aqui com você enquanto ele trabalha. O cara tá morrendo de medo de acontecer algo com você e não ter ninguém aqui pra te ajudar. 

— Acho que posso me virar, eu tô grávida, não doente. —  Revirei os olhos. —  Nada contra você ficar aqui, mas eu tô bem.

—  Eu imaginei que diria isso, e ele também, mas, você não tem direito a escolher.

—  Claro! Virei refém agora?

—  Santo drama. Enfim, o Floquinho tá no petshop, ele vai buscar ele no fim do expediente, e eu preciso ir trabalhar, qualquer coisa me chama, tá? Ah, a Mai e o Chris veem aqui almoçar, mas não se preocupem, eles vão trazer a comida.

Ela se levantou e saiu, sem me deixar contestar mais. Ok, aquilo realmente era muita informação para minha cabeça. Agora eu ia ter uma babá? Que se dane, ele que fizesse o que queria, naquele momento eu só queria comer.

  —  Ah! —  Ela voltou, assustando-me novamente. Agora com uma folha branca em mãos, ela só chegou perto, e depois de me entregá-la, voltou a falar. —  Ele mandou eu olhar umas coisas pra você.

Passei o olho no papel e vi que se tratava de uma tabela de afazeres. — Qual é o problema dele?

  —  Vai ser bom pra você. Além do mais, eu vou acompanhar você nas caminhadas no final da tarde.

—  Eu não quero fazer caminhada.

—  Qual é, são só três vezes por semana, tá? É saudável pra você e para os fofuxinhos que estão aí dentro. —  Isso eu precisava concordar. Eu estava uma completa sedentária, que só sabia comer e dormir, principalmente depois da gravidez. 

  —  Pilates? 

— Sim, vai ajudar com as dores e a relaxar você. Vai ser muito bom.

—  E suponho que você vai me levar, né?

— Ele vai buscar você depois do trabalho e te levar. Duas vezes na semana.

—  Tá. Mas pra que alongamento, se já vou fazer esses dois? 

—  Na verdade é uma opção. Alongamento ou pilates, mas eu aconselharia o pilates, dizem que é muito bom.

— Tá. —  Olhei mais em baixo. —  Ele ta zoando né? Eu não vou acordar mais cedo.

—  Achei chato isso também, porque sono é sono, né?

—  Sim. Além do mais, eu não preciso de uma dieta equilibrada, eu como bem.

—  Jura? — Ela olhou para minha melancia e eu revirei os olhos.

 —  A maioria das vezes, não seja chata. E ontem o doutor me passou uma série de vitaminas pra eu tomar, então tá de boa.

  —  Isso você resolve com ele depois. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. 

 — Será que eu posso sair de casa quando eu quiser?

  —  A porta da rua é a serventia da casa, meu bem. Eu to aqui pra te fazer companhia, não pra te prender aqui. Vou trabalhar, tá? Qualquer coisa me chama. Ah, e ele pediu pra lembrar que amanhã você tem dentista. Fui. 

Perdi totalmente o apetite, então deixei a vasilha na mesa de centro, e me deitei no sofá. Precisava daquilo tudo? Eu podia muito bem seguir os próximos meses como uma gestante qualquer. Eu estava saudável, meus filhos estavam saudáveis e não tinha com o que se preocupar. 

 

[REVISÃO] Inevitável - RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora