Eu já senti muitas coisas boas no decorrer da minha vida, mas poder pegar meus filhos pela primeira vez no colo, fora sem sombra de dúvida, a melhor coisa que senti na minha vida.
Foi difícil ter que ir pra casa sem poder leva-los comigo, e, apesar do cansaço, eu ia diariamente no hospital ver como eles estavam e aproveitar para finalmente poder fazer a coleta de leite que, depois que começou a sair, parecia que não iria parar nunca mais. Confesso que nos primeiros dias eu fiquei com medo de não poder produzir o que seria a melhor opção para eles, e como eu estava um poço de lágrimas, quando a primeira gota finalmente saiu, eu chorei feito uma criança, porque, mesmo sem poder amamentá-los diretamente, eu sabia que aquilo realmente ia fazer bem a eles.
Inicialmente eu só pude pegar o Guilherme e o Artur no colo, porque eles foram os primeiros a mostrarem uma recuperação mais avançada. Com dez dias, eles já não precisavam mais da ajuda de oxigênio e estavam crescendo como realmente deviam. Já Victória e Nicole estavam um pouco mais frágeis, e, com uma semana de vida, para meu sofrimento, as duas precisaram de um transplante de sangue, pois realmente elas foram afetadas com o cordão enrolado, mas depois do transplante, graças a Deus e aos médicos, elas não precisaram de mais nada, além do oxigênio.
O maior temor do médico era elas serem afetadas pela falta de oxigenação no cérebro, coisas que só saberíamos futuramente, mas, como mãe, eu não conseguia ver nada errado ali. Apesar do tamanho e de serem mais quietas que os irmãos, elas estavam bem desenvolvidas.
Mais uma vez estávamos lá. Christopher sempre me deixava no hospital, ficava um pouco com os filhos e ía para o trabalho, mas eu podia ver que ele realmente queria ficar ali. Era como se ele tivesse abandonando a gente, mas eu entendia que ele precisava trabalhar.
Nos primeiros quinze dias, ele ficou comigo o tempo todo, mas precisava voltar à rotina, além do mais, ele tinha quatro filhos para manter num hospital caríssimo. Agora, com quase um mês, eu sentia que eles estavam prestes a irem pra casa, ou queria acreditar nisso, porque já não estavam mais na UTI à essa altura.
— Bom dia meus amores. — Falei quando me aproximei deles. Os quatro estavam acordados, mas pareciam sonolentos e relutando contra o sono dentro de uma rede pequenininha na incubadora que se encontrava aberta.
— Eu queria apertar os quatro. — Christopher me abraçou por trás, apoiando o queixo sobre meu ombro. — Olha só pra isso, como podem ser tão lindos e fofinhos?
— Feitos com muito amor. — Disse a enfermeira.
— Amor. — Dei uma risada. — Foi com muita putaria mesmo, moça. — Ela arregalou os olhos e eu dei de ombros.
Aquilo era um fato e Christopher apenas riu de como ela ficou envergonhada. — Queria ficar aqui com vocês.
— Eu sei, mas você tem que ir trabalhar, né? Aliás, são mais de duzentas fraldas por mês.
— É... — Ele deu um beijo na minha bochecha. — Será que posso pegar um pouco neles antes de ir? — Olhei para a enfermeira que assentiu.
Christopher me soltou e foi até os filhos, e eu fiquei de longe olhando. Adorava vê-lo pegar os meninos no colo, por que eles eram pequenos, mas no colo dele pareciam ainda menores, e fazia graça o medo que ele tinha de machucá-los. Era de uma delicadeza sem explicação. Ele segurou cada um, um pouquinho e depois voltou a deixá-los deitados.
— Eu vou indo, tá? Qualquer coisa me liga.
— Tá. — Dei um selinho nele. — Bom trabalho.
Depois que ele saiu eu fui dar atenção aos meus filhos, e, para minha surpresa, pela primeira vez me foi permitido amamenta-los diretamente no meu peito. Fiquei tão surpresa quando a enfermeira me disse que fiquei sem reação. Me preparei tanto para aquele momento, e na hora não soube o que fazer.
— Tudo bem, a gente vai ajudar você.
— Tá, mas e as meninas?
— Elas também vão poder, e serão as primeiras, uma a uma.
— Quando elas vão parar de usar esse negócio?
— Em breve. Já não estamos deixando o tempo todo, ordens do médico.
— Ah... — Acariciei o rostinho de Nicole, que deu um sorrisinho. Como elas ficavam lindas todas vestidas de rosa. Pareciam um bolinho de morango.
— Pronta? Pode se sentar aqui.
Me sentei na poltrona que ela me indicou, e então fiquei olhando ela pegar Nicole. Uma das enfermeiras me ajudou com a roupa e então finalmente eu a peguei nos braços. Tão pequenininha, mas ela se movia tão forte... acho que isso era bom.
— Como foi dito, a gente estava ensinando eles a sugarem, então, vamos ver se eles foram bons alunos?
— Vai doer, né?
— Um pouco, mas é para um bem maior, né? — Assenti. — Lembra como a gente ensinou você?
— Hurrum.
Arrumei-a direitinho em meu colo e então levei o bico do meu seio na boquinha dela. De início ela virou o rosto e começou a resmungar, mas eu insisti. Ela fez um biquinho e então começou a sugar meu seio um pouco fraco.
— Depois, quando for com os meninos, vamos por os dois de uma vez, pra você aprender.
— Nossa! E se um dia não for o suficiente? São quatro mamando, meu corpo vai dar conta?
— O corpo é adepto, mas se não for o suficiente, terá que complementar.
— Entendi. — Passei a mão em cima do narizinho dela e ela fechou os olhinhos enquanto sorria, toda bobinha, fazendo a gente rir. — Dá vontade de apertar mesmo.
— Coitados. Os pais vão querer esmaga-los.
Fiz uma careta quando ela pressionou as gengivas e encostei a cabeça pra trás, aquilo realmente doía. Então ela apertou ainda mais. — Ai, ai, ai. — Pressionei minha unha contra palma da minha mão. Doeu tanto que meus olhos se encheram de água.
— Ela mordeu?
— Sim, já... já tá passando. — Soltei um suspiro lento, tentando acalmar meu corpo. — Putz... como isso dói. Vou ter que pedir perdão pra minha mãe por ela ter passado por isso, nunca pensei que doesse tanto.
Foi realmente doloroso amamentar, mas gratificante. Queria que Christopher tivesse visto os filhos mamarem pela primeira vez, ou que minha mãe tivesse ali, mas ela só chegou depois que os quatro já tinham mamado e estavam dormindo profundamente. Então ela ficou olhando os netos um pouco e depois que eu colhi o leite para o restante do dia, ela me levou pra casa.
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[REVISÃO] Inevitável - Redenção
FanfictionDa saga Inevitável Há um sentimento forte entre eles. Tão forte que facilmente poderia ser confundido com paixão. Há huma atração tão forte que nem mesmo o dinheiro, tempo ou a distância pode interferir. Vidas destruídas, sonhos despedaçados... Não...