Soltei um gemido bem baixo quando senti o gel gelado contra minha pele fazendo um choque térmico devido a alta temperatura. Olhei para a janela, onde a claridade entrava com força e fechei os olhos no momento em que a obstetra pressionou o aparelho contra minha barriga.
— Conta pra mim, como você tem se sentido?
— Fora as dores de cabeça e a chatice de se ficar presa em cima da cama, tudo bem. Aliás, tanto tempo deitada dói a coluna. — Abri meus olhos e olhei para ela. Atrás dela estava minha mãe, com os olhos fixos no monitor.
— Caramba, são quatro mesmo! — Exclamou a médica, dando um sorriso terno em seguida. — Nossa! Eu nunca conheci ninguém nem com trigêmeos, imagina quatro. Sabe que é extremamente raro né?
— E preocupante. — Completou minha mãe. — A barriga dessa menina não cresce, doutora! E olha que ela come como um ogro.
— O corpo dela está se empenhando em sustentar quatro além do dela, isso é normal. Mas os fetos estão realmente abaixo do tamanho desejado. Tem comado alguma medicação?
— Algumas. — Respondi e ela me olhou, esperando dizer quais. — Antidepressivos, todos com receita médica.
— Entendi. Vamos ouvir os batimentos? — Assenti.
Minha mãe colocou a mão no peito e pude ver seus olhos ficarem úmidos quando a doutora liberou o som do monitor e as batidas começaram. Eram tão intensas e rápidas que eu mal podia distinguir o número.
— Dois pares de gêmeos idênticos. Tem caso de gêmeos na família.
— Eu. — Levantei o dedo, um pouco sem graça. — Somos três, idênticas.
— O pai delas demorou muito tempo para aprender a diferenciá-las.
— Três meninas? Que legal!
— Legal mesmo são as brigas na infância. — Respondeu, um pouco irônica. — Dá trabalho que só.
— Imagino. Tenho uma de cinco anos e tenho que deixá-la ocupada o dia todo, senão não dou conta à noite. Elétrica que só. Aconselho colocar na natação, ballet, futebol... sempre ajuda. — Ela pressionou os lábios um contra o outro. — Eu vou ter que passar algumas vitaminas pra você tomar e daqui há quinze dias vamos ver o desenvolvimento deles.
— Tá.
— Há quanto tempo toma os remédios?
— Há pouco mais que dois meses.
— Entendi. Se mesmo com as vitaminas eles não se desenvolverem, vamos ter que parar com os medicamentos.
— Isso faz mal a eles?
— Pode ser que sim, pode ser que não. Cada caso é um caso, por isso vamos acompanhar tudo de perto.
— Eu paro. Não quero prejudicar meus filhos de jeito algum e estou louca pra ver essa barriga crescer.
— Você é tão novinha, não me parece assustada.
— Ela é maluca doutora. — Franzi o cenho sem entender. —Acredita que ela mal completou dezoito anos e já deu a louca de ser mãe? Imagina! Uma criança tendo outra criança.
— Eu quero ser mãe, algum problema? É um direito meu!
— Sim, mas não é assim que as coisas funcionam, Dulce. Ter um filho requer muita coisa que você ainda não tem.
— Tipo o quê? Um emprego? Graças a Deus o pai deles ganha dinheiro pra caralho naquela empresa, né? — Olhei a médica, calada. — Desculpa, você não tem que ouvir isso. Enfim... quando vou poder saber o sexo?
— Seus bebês já têm tudo formado, apesar de estarem menores que o esperado. — Ela virou o monitor na minha direção. — Tá vendo? Aqui são os bracinhos, e as perninhas. Consegui contar oito de cada, então tá tudo certo. Eles deviam estar com quatro centímetros, mas só tem três.
— Estão mexendo muito, é normal?
— É sim, mas ainda não dá pra você sentir. — Engoli um pouco de saliva amarga. Senti um enjoo nada legal, mas consegui me conter.
Eles estavam vindo com frequência desde que descobri da gravidez. O lado bom era que o primeiro trimestre estava acabando e eles provavelmente iriam sumir logo.
— O sexo do bebê talvez na próxima vez que vier, querida. Mas não posso prometer, porque eles podem estar numa posição difícil, um pode tapar o outro e aí já viu né?
— Entendi. Eu estou com sede. — Voltei a fechar meus olhos, descansando a cabeça na maca. Um sono bateu forte em mim e eu só queria voltar pra casa e dormir.
Era o que eu tinha feito na última semana. Dormir feito um panda e comer feito um ogro, palavras de minha querida mãezinha, ah, e reclamar também.
— Você tá bem, filha?
— Muito sono.
— Espera, deixa eu medir sua pressão.
— Eu vou pegar um pouco de água pra você. — Disse minha mãe, já saindo da sala.
— Esse calor tá matando. Precisa se hidratar muito, evitar ficar em ambientes muito quentes.
Minha pressão caiu muito durante a consulta, isso explicava o sono. Depois de me dar algo salgado para comer, de garantir que eu não iria desmaiar e de me passar uma lista do que eu devia e não devia fazer, ela me liberou.
Chegando em casa, ou melhor, na casa da minha madrinha, assim que entrei na casa topei com meu pai e com Christopher. Meu pai parado perto da janela, com as mãos nos bolsos e Christopher sentado no sofá, bebendo um copo gigantesco de água.
— O que estão fazendo aqui?
Arregalei os olhos, sem saber o que dizer. Não estava esperando nenhum dos dois ali, e muito menos estava preparada para dizer naquele instante que estava esperando quatro bebês.
— Desculpa não ter dito, eu liguei para o seu pai e mandei ele trazer o Christopher pra cá. — Disse minha mãe atrás de mim. Tentei me levantar da cadeira de rodas, mas ela me impediu. — Não esqueça o que a médica disse, ainda não está liberada para andar.
— O que tá acontecendo aqui? — Christopher se levantou. Ele estava suado, e nãoe ra pra menos, com aquela camisa social branca infernalmente quente, não tinha como não suar.
— É, Dulce. Conte a ele o que você têm. — Meu pai disse, e parecia irritado. Quando foi que minha mãe contou a ele?
— Eu... eu... — Olhei para minha mãe, suplicando ajuda.
— Ela tá grávida Christopher.
— Oi?
— Isso mesmo, e não foram meus dedos. — Meu pa engasgou com a própria saliva e eu balancei os ombros. — Puta merda, você deixou quatro bebês dentro de mim, tá satisfeito?
Ele piscou algumas vezes, provavelmente tentando associar o que eu tinha acabado de dizer. — Quatro? — Assenti.
Ele parecia atordoado. Terminou de beber a água e deixou o copo cair no chão, partindo-se em mil pedaços, depois ele veio na minha direção, olhou bem pra mim e saiu. Ninguém falou nada, ninguém sequer se mexeu.
Ele voltou um minuto depois e seu semblante era de total espanto, olhou de novo na minha cara e começou a rir. — Isso é verdade?
— Claro, por que eu inventaria isso?
— Não! — Ele coçou a cabeça fazendo uma careta. — Eu preciso... preciso... — Olhou apra trás, buscando algum lugar para segurar, mas foi tarde demais.
Ele caiu com tudo em cima de mim, e por pouco não despejou seu peso na minha barriga, pois minha mãe o empurrou para fora, fazendo-o cair no chão, completamente apagado.
— Isso realmente é muito legal! — Soltei um suspiro, coloquei as mãos nas rodas e as girei até o sofá, vendo meu pai e minha mãe carregarem ele até lá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
[REVISÃO] Inevitável - Redenção
FanfictionDa saga Inevitável Há um sentimento forte entre eles. Tão forte que facilmente poderia ser confundido com paixão. Há huma atração tão forte que nem mesmo o dinheiro, tempo ou a distância pode interferir. Vidas destruídas, sonhos despedaçados... Não...