CAPÍTULO TRINTA E DOIS

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Soltei um gemido bem baixo quando senti o gel gelado contra minha pele fazendo um choque térmico devido a alta temperatura. Olhei para a janela, onde a claridade entrava com força e fechei os olhos no momento em que a obstetra pressionou o aparelho contra minha barriga.

—  Conta pra mim, como você tem se sentido? 

—   Fora as dores de cabeça e a chatice de se ficar presa em cima da cama, tudo bem. Aliás, tanto tempo deitada dói a coluna. —  Abri meus olhos e olhei para ela. Atrás dela estava minha mãe, com os olhos fixos no monitor. 

— Caramba, são quatro mesmo! —  Exclamou a médica, dando um sorriso terno em seguida. —  Nossa! Eu nunca conheci ninguém nem com trigêmeos, imagina quatro. Sabe que é extremamente raro né?

—  E preocupante. —  Completou minha mãe. —  A barriga dessa menina não cresce, doutora! E olha que ela come como um ogro.

—   O corpo dela está se empenhando em sustentar quatro além do dela, isso é normal. Mas os fetos estão realmente abaixo do tamanho desejado. Tem comado alguma medicação?

— Algumas. —  Respondi e ela me olhou, esperando dizer quais. —  Antidepressivos, todos com receita médica.

— Entendi. Vamos ouvir os batimentos? —  Assenti.  

Minha mãe colocou a mão no peito e pude ver seus olhos ficarem úmidos quando a doutora liberou o som do monitor e as batidas começaram. Eram tão intensas e rápidas que eu mal podia distinguir o número. 

  — Dois pares de gêmeos idênticos. Tem caso de gêmeos na família.

— Eu. —  Levantei o dedo, um pouco sem graça. —  Somos três, idênticas.

—   O pai delas demorou muito tempo para aprender a diferenciá-las.

—  Três meninas? Que legal!

— Legal mesmo são as brigas na infância. —  Respondeu, um pouco irônica. —  Dá trabalho que só.

—  Imagino. Tenho uma de cinco anos e tenho que deixá-la ocupada o dia todo, senão não dou conta à noite. Elétrica que só. Aconselho colocar na natação, ballet, futebol... sempre ajuda. — Ela pressionou os lábios um contra o outro. — Eu vou ter que passar algumas vitaminas pra você tomar e daqui há quinze dias vamos ver o desenvolvimento deles.

  — Tá.

— Há quanto tempo toma os remédios?

—  Há pouco mais que dois meses.

—  Entendi. Se mesmo com as vitaminas eles não se desenvolverem, vamos ter que parar com os medicamentos. 

— Isso faz mal a eles?

— Pode ser que sim, pode ser que não. Cada caso é um caso, por isso vamos acompanhar tudo de perto.

— Eu paro. Não quero prejudicar meus filhos de jeito algum e estou louca pra ver essa barriga crescer.

—  Você é tão novinha, não me parece assustada.

—  Ela é maluca doutora. —  Franzi o cenho sem entender. —Acredita que ela mal completou dezoito anos e já deu a louca de ser mãe? Imagina! Uma criança tendo outra criança.

  — Eu quero ser mãe, algum problema? É um direito meu!

—  Sim, mas não é assim que as coisas funcionam, Dulce. Ter um filho requer muita coisa que você ainda não tem.

—  Tipo o quê? Um emprego? Graças a Deus o pai deles ganha dinheiro pra caralho naquela empresa, né? —  Olhei a médica, calada. —  Desculpa, você não tem que ouvir isso. Enfim... quando vou poder saber o sexo?

— Seus bebês já têm tudo formado, apesar de estarem menores que o esperado. —  Ela virou o monitor na minha direção. —  Tá vendo? Aqui são os bracinhos, e as perninhas. Consegui contar oito de cada, então tá tudo certo. Eles deviam estar com quatro centímetros, mas só tem três. 

— Estão mexendo muito, é normal?

—  É sim, mas ainda não dá pra você sentir. —  Engoli um pouco de saliva amarga. Senti um enjoo nada legal, mas consegui me conter.

Eles estavam vindo com frequência desde que descobri da gravidez. O lado bom era que o primeiro trimestre estava acabando e eles provavelmente iriam sumir logo. 

— O sexo do bebê talvez na próxima vez que vier, querida. Mas não posso prometer, porque eles podem estar numa posição difícil, um pode tapar o outro e aí já viu né? 

—  Entendi. Eu estou com sede. — Voltei a fechar meus olhos, descansando a cabeça na maca. Um sono bateu forte em mim e eu só queria voltar pra casa e dormir.

Era o que eu tinha feito na última semana. Dormir feito um panda e comer feito um ogro, palavras de minha querida mãezinha, ah, e reclamar também.

—   Você tá bem, filha?

— Muito sono.

— Espera, deixa eu medir sua pressão.

— Eu vou pegar um pouco de água pra você. —  Disse minha mãe, já saindo da sala.

—  Esse calor tá matando. Precisa se hidratar muito, evitar ficar em ambientes muito quentes.

Minha pressão caiu muito durante a consulta, isso explicava o sono. Depois de me dar algo salgado para comer, de garantir que eu não iria desmaiar e de me passar uma lista do que eu devia e não devia fazer, ela me liberou. 

Chegando em casa, ou melhor, na casa da minha madrinha, assim que entrei na casa topei com meu pai e com Christopher. Meu pai parado perto da janela, com as mãos nos bolsos e Christopher sentado no sofá, bebendo um copo gigantesco de água.

 — O que estão fazendo aqui?

Arregalei os olhos, sem saber o que dizer. Não estava esperando nenhum dos dois ali, e muito menos estava preparada para dizer naquele instante que estava esperando quatro bebês. 

—  Desculpa não ter dito, eu liguei para o seu pai e mandei ele trazer o Christopher pra cá. —  Disse minha mãe atrás de mim. Tentei me levantar da cadeira de rodas, mas ela me impediu. —  Não esqueça o que a médica disse, ainda não está liberada para andar.

—  O que tá acontecendo aqui? —  Christopher se levantou. Ele estava suado, e nãoe ra pra menos, com aquela camisa social branca infernalmente quente, não tinha como não suar.

— É, Dulce. Conte a ele o que você têm. —  Meu pai disse, e parecia irritado. Quando foi que minha mãe contou a ele? 

— Eu... eu... —  Olhei para minha mãe, suplicando ajuda. 

— Ela tá grávida Christopher. 

—  Oi?

—  Isso mesmo, e não foram meus dedos. —  Meu pa engasgou com a própria saliva e eu balancei os ombros. —  Puta merda, você deixou quatro bebês dentro de mim, tá satisfeito?

Ele piscou algumas vezes, provavelmente tentando associar o que eu tinha acabado de dizer. —  Quatro? —  Assenti. 

Ele parecia atordoado. Terminou de beber a água e deixou o copo cair no chão, partindo-se em mil pedaços, depois ele veio na minha direção, olhou bem pra mim e saiu. Ninguém falou nada, ninguém sequer se mexeu.

Ele voltou um minuto depois e seu semblante era de total espanto, olhou de novo na minha cara e começou a rir. —  Isso é verdade?

— Claro, por que eu inventaria isso? 

— Não! —  Ele coçou a cabeça fazendo uma careta. —  Eu preciso... preciso... —  Olhou apra trás, buscando algum lugar para segurar, mas foi tarde demais.

Ele caiu com tudo em cima de mim, e por pouco não despejou seu peso na minha barriga, pois minha mãe o empurrou para fora, fazendo-o cair no chão, completamente apagado.

— Isso realmente é muito legal! —  Soltei um suspiro, coloquei as mãos nas rodas e as girei até o sofá, vendo meu pai e minha mãe carregarem ele até lá.  


 

[REVISÃO] Inevitável - RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora