Enquanto caminhava pela rua escura, eu observava as pessoas que passavam por mim. Todas sempre tão felizes e conversando alegremente que me dava um pouco de inveja.
Nos últimos meses eu comecei uma nova vida, ou pelo menos tentei. Fiz novas amizades e na última semana até resolvi sair com um cara, mas nada sério. Nada que me fizesse apresentar à minha família... nem mesmo se eu quisesse.
Senti o telefone tocar em meu bolso e o peguei. Fiquei olhando para a tela um tempo até finalmente ter coragem de atender. — Alô.
— Dulce?
— Oi, pai.
—Você vem?
— Já conversamos sobre isso. Eu estou na rua agora e minhas mãos estão congelando, preciso desligar.
— Já é o segundo natal. Estamos com saudades de você.
— Eu sei. — Ficamos em silêncio um tempo, até eu ouvir a voz da minha mãe ao fundo. — Dá um beijo na mamãe por mim. Tchau.
— Dulce eu te...
Mas antes que ele concluisse, eu desliguei. Voltei a guardar celular no bolso e mantive minhas mãos aquecendo ali, até encontrar um bom lugar para ficar.
Era isso mesmo. Depois que eu saí da Cidade do México, fugindo como um cão covarde, eu nunca mais voltei a ir lá. Eu preferi não saber mais nada de ninguém, por que era difícil demais ficar longe deles, mas era necessário. Dezessete meses e nove dias sem ver, falar ou sequer ouvir a voz de Christopher e apesar do tempo, ainda doía.
Depois que fui para Monterrey, demorou um pouco até eu fazer o primeiro contato com alguém e até hoje as únicas pessoas que falei foram meu pai e Marcela. Com Marcela eu costumava conversar mais por SMS, mas eu só respondia algumas perguntas, e meu pai me ligava algumas vezes. A maioria delas para tentar saber onde eu estava morando, mas eu nunca disse meu endereço exato a ele.
Eu estava morando em um loft que tecnicamente ele pagava o aluguel, já que ele insistiu em me manter até eu acabar a faculdade. De início eu não quis, mas foi melhor assim, ou eu iria destruir ainda mais a minha vida ficando presa dentro do quarto da casa dos meus padrinhos. Sim, eles moravam ali perto e eram os únicos da família que sabiam meu endereço correto. Eles e Ivalú.
Eu estava tão mal quando cheguei que minha madrinha me forçou a ir a algumas consultas com um psiquiatra no início e precisei tomar remédios fortíssimos para dormir. Antes disso eu passava o dia inteiro no quarto com crises de choro que só paravam quando eu apagava de tanto beber e até hoje vivo a base de alguns remédios e vez ou outra ainda preciso voltar no psiquiatra. Era isso ou ela me internaria, e o pior, com o consentimento do meu pai.
— Boa noite.
Desejei ao garçom do café em que entrei. Ele me ofereceu um sorriso terno e fui me sentar na mesa de sempre. Eu gostava de ficar ali. Era um lugar rústico e aconchegante, e tocava música típica do local.
— O que deseja?
Perguntou a garçonete que mascava um chiclete e olhava impaciente para o bloco de notas em sua mão.
— Por enquanto um chocolate quente com canela. Sem açucar, por favor.
— Algo para comer?
— Agora não.
Fiquei mais de hora ali, tomando meu chocolate enquanto pessoas entravam e saíam. Na última véspera de Natal eu também fiquei ali, sozinha, olhando homens bêbados reclamarem de suas vidas.
— Está esperando alguém?
A voz era inconfundível, mas meus olhos se recusaram a crer no que estavam vendo. Dei algumas piscadas quando ele se sentou na cadeira à minha frente me encarando como se fosse algo comum.
— O que você... como...
Olhei el volta. Talvez fosse uma miragem minha e as pessoas iriam rir se eu começasse a falar sozinha. Saltei para fora da cadeira quando ele poucou sua mão sobre a minha.
— Ei, calma! — Christopher se levantou e me segurou fazendo-me encará-lo.
— Você não é real!
Fechei meus olhos, desejando que esse momento de insanidade passasse. Sim, isso me aconteceu algumas vezes, mas nunca em público. Várias vezes eu estava sozinha e ele se materializava do nada conversando comigo.
— Tem tomado seus remédios?
— Como você... como você sabe?
— Dulce, sou eu, tá bom? Vem, senta aqui.
Voltei a me sentar, ainda trêmula. Céus! Ele estava ali mesmo? Vi ele chamar o garçom e então pedir um chá de hortelã.
— É você mesmo? — Ele assentiu voltando a se sentar. — O que faz aqui?
— Vim ver você.
— Como soube onde eu estava?
— É uma longa história e não importa. Eu estou aqui agora e quero saber como você está.
— Eu falei há pouco com meu pai, ele não disse nada.
— Ele não sabe.
— O que está fazendo aqui?
— Eu não estava mais aguentando. Foi difícil convencer a Ivalú de me falar o de estava, mas consegui.
— Foi ela? — Ele assentiu.
Fiquei calada e quando o chá chegou eu comecei a tomar, ainda tremendo. Eu não estava preparada para isso.
— Quer conversar? — Neguei. — Onde vai passar o natal?
— Na minha cama, assistindo TV.
— Sozinha?
— Sim. — Desviei meu olhar. Ele estava tão lindo de sobretudo e com aquela barba. Ele era tão lindo.
— Quer companhia? — Neguei. — Eu estou num hotel aqui perto, e não pretendo deixar você sozinha essa noite, Dulce Maria. Então, tem um carro ali fora que vai nos levar diretamente para sua casa.
— Mas eu...
— Não tem mais nem menos. Acho que já passou tempo demais e a gente precisa conversar. Chega de fugir, Dulce.
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[REVISÃO] Inevitável - Redenção
FanficDa saga Inevitável Há um sentimento forte entre eles. Tão forte que facilmente poderia ser confundido com paixão. Há huma atração tão forte que nem mesmo o dinheiro, tempo ou a distância pode interferir. Vidas destruídas, sonhos despedaçados... Não...