Recostei a cabeça no banco e fechei meus olhos, ficando calada o tempo todo enquanto Christopher dirigia até a casa dos meus pais. Eu estava cansada por que mal tinha pregado o olho durante a noite, tava enjoada e mal humorada por ter que acordar tão cedo. Ok, não era tão cedo, mas a gravidez duplicou meu sono, então acordar antes das dez da manhã para mim era uma tortura e o fato de saber que eu iria ficar horas dentro de um consultório médico me deixou ainda mais irritada. Por que não podia ser apenas uma consulta rápida? Mas não, o obstetra que minha mãe queria uma consulta completa, o que levariam horas dentro do consultório, fazendo exames, testes, ouvindo um monte de coisas que eu já sabia.
Abri os olhos quando senti o carro parar e então ele buzinou. Do outro lado da rua estava a casa exatamente como eu me lembrava. A cortina da janela de onde costumava ser meu quarto estava fechada.
— Você quer entrar?
— Não, quero termina logo com isso e ir pra casa, eu estou cansada. — Cruzei meus braços mantendo meu olhar para fora do carro.
— Tenta dormir um pouco até lá, sei que tá cansada, mas essa consulta é importante, tá? Pelos nossos filhos.
— Eu quero dormir. — Minha voz falhou. Christopher soltou um suspiro profundo e abaixou a cabeça sobre o volante. — Trouxe água?
— Sim. — Ele se esticou para trás e pegou uma garrafinha em algum lugar que não consegui ver. — Quer comer alguma coisa? Tem biscoito, pão, maçã.
— Só quero água.
— Você devia comer, vomitou duas vezes de madrugada...
— Christopher, eu ainda estou enjoada, caramba, me deixa!
— Como quiser. — Ele me entregou a garrafinha e ficou quieto no canto dele. Bebi um pouquinho de água e me encolhi no meu, segurando, sem muito êxito, a vontade de chorar.
Minha mãe chegou com toda a empolgação que nem eu nem Christopher estávamos e falou sozinha o percurso inteiro sobre como eu iria gostar do médico e de como ele foi bom quando ela estava grávida. Todo o falatório dela incluiu uma dor de cabeça na lista de como não ficar bem às oito da manhã.
Pelo menos não tivemos que esperar para sermos atendidos, esse era o lado bom de termos uma manhã inteira apenas reservada pra gente. Entramos os três na sala dele, muito bem equipada e ampla.
— Ora, ora, ora, se não é uma das trigêmeas. — O doutor se levantou de sua cadeira e veio na nossa direção. Pela aparência parecia ter a mesma idade que meu pai, ou um pouco mais, então ele era novo quando atendeu minha mãe. — Caramba, eu trouxe você ao mundo, menina!
— Ann, eu devo dizer, oi? — Cruzei os braços.
— Acho que sua mãe deve ter falado de mim, sou o Doutor Henrique. Você deve ser o Christopher, né? — Ele estendeu a mão na direção deles e eles se cumprimentaram.
— Desculpa, ela tá mal humorada hoje, mas é normal né?
— Aposto que ela não faz ideia de como a Blanca era. — Ele me estendeu a mão e eu hesitei, quase me escondendo atrás de Christopher.
— Não explana, doutor.
— Venha, vamos sentar e conversar um pouco. Estou aqui a seu serviço, Dulce, conte-me um pouco de como tem passado esses últimos dias.
Eu não sei como, mas ele conseguiu me fazer ficar à vontade. Talvez fosse o jeito como ele falava, mas me deixou tranquila. Conversamos um monte, tirei tantas dúvidas, falei dos meus medos, das minhas vontades, e quase matei minha mãe e Christopher de vergonha quando falei da minha sede quase insaciável por sexo, o que rendeu ao doutor e a mim boas risadas. Depois ele fez um monte de testes em mim, mediu minha pressão, minha barriga, fez uma ultrassonografia onde eu chorei feito uma manteiga derretida vendo como eles estavam crescendo.
— Vamos falar sobre o parto, agora?
— Claro. — Dei um sorriso. Toda a conversa me deu uma vontade imensa de querer ter meus pequenuxos nos meus braços.
— Eu vou marcar para o final de outubro, mas pode ser possível que adiante. Seus filhos estão indo bem, mas a possibilidade de chegar no final da gestação é mínima. Aliás, eu vou passar uma lista de vitaminas para complementar, vai precisar muito. E um remédio pra enjoo. Geralmente eles passam depois do primeiro trimestre, mas podem voltar ou nem mesmo irem embora.
— Tá, eu quase não tive enjoo antes, agora que estão vindo e é um saco.
— Recomendo passar em um dermatologista e no dentista, muitas mulheres têm problemas durante a gravidez.
— Acho que tá tudo bem nessa parte, mas mesmo assim vou passar, pra prevenir. Deus me livre ficar banguela ou com a pele cheia de manchas.
— Voltando ao assunto do parto, no dia teremos mais um obstetra conosco, que vou te apresentar mais pra frente. Teremos uma equipe grande de enfermeiros, e um anestesista na sala de cirurgia.
— Precisa de tanta gente?
— Sim.
— O Christopher vai poder ficar comigo?
— Claro. E dependendo da situação, você pode arrumar um fotógrafo, mas não será permitido fotografar o corte da barriga.
— Ótimo. Meu irmão é fotógrafo, tenho certeza que ele vai adorar ficar com a gente.
— Pelo visto a família é grande. — Assenti. Fora meus pais, ainda tinha Marcela, Alfonso e Anahí como agregada, o pai de Christopher e a mulher, provavelmente Alexandra e sei lá quantas pessoas mais irão querer estar no hospital no dia. — Vou tentar reservar uma sala de espera particular, e você vai ter um dos melhores quartos do hospital e irá se internar um dia antes para ter você sob observação.
— Nossa! — Era realmente muita informação.
— Eu vou passar meu contato e sempre que precisar, pode me mandar mensagem ou ligar.
— Doutor, o meu cachorro não deixa ela em paz, acha que isso é um problema?
— Depende, em que sentido?
— Ele acha que eu quero fazer mal a ela, age como se quisesse protegê-la sempre.
— Isso é bom. Odeio quando mandam se livrar dos animais de estimação, não faça isso a não ser que eles realmente apresentem perigo a ela e aos bebês. Só tome cuidado com quedas e por favor, nada de carregar peso.
Fiquei mais ou menos meia hora ali ainda esperando Christopher tirar as dúvidas dele e só depois fomos embora. Passou tão rápido que me assustei com a hora e de lá nós fomos almoçar.
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[REVISÃO] Inevitável - Redenção
Hayran KurguDa saga Inevitável Há um sentimento forte entre eles. Tão forte que facilmente poderia ser confundido com paixão. Há huma atração tão forte que nem mesmo o dinheiro, tempo ou a distância pode interferir. Vidas destruídas, sonhos despedaçados... Não...