CAPÍTULO VINTE E SETE

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Desliguei o chuveiro e puxei o resultado roupão, enrolando-me nele. O banho frio naquela manhã ajudou eu me sentir um pouco melhor.

Desde que voltei para Monterrey, eu tenti ser uma pessoa melhor. Foquei-me nos estudos, procurei um grupo de apoio para alcoólicos anônimos e voltei a ter consultas com o psiquiatra, então minha rotina era bem apertada, e no final do dia eu estava sempre cansada demais para pensar em fazer algo errado.

Sentei-me na cama e fiquei olhando para a enorme parede de vidro, observando o sol quente demais para aquela hora da manhã enquanto a água escorria do meu cabelo pelo meu rosto.

Olhei para o relógio digital em cima do criado mudo e vi que eu já estava um pouco atrasada para a primeira aula e eu estava com preguiça demais para sair de casa. Deixei meu corpo cair para trás e fiquei olhando para o teto, sem conseguir pensar em nada além de que eu tinha que ir para a faculdade.

Algum tempo depois o telefone tocou. Estiquei meu braço e o peguei no criado mudo, vendo o nome de Ivalú na tela. Atendi e falei antes que ela pudesse se pronunciar.

— Eu já tô saindo.

— Tá tudo certo aí?

— Harram. Vou comer alguma coisa e já saio para o trabalho.

— Que trabalho, louca?

—Ah, você me entrndeu. — Revirei os olhos. — Ann... ainda tem nachos com ovos na cantina? Se tiver, pede pra mim que estou com uma fome desgraçada.

— Eu vou ver, mas se não me falha a memória você disse que ía comer antes de vir.

— Ah... só pede tá? Não vou demorar.

Mentira, claro! Ainda precisei me vestir, secar o cabelo e sair com um copo de café enorme ou não me animaria para o dia.

Como já não tinha trânsito quando saí, então o caminho não foi tão demorado, mesmo assim, quando cheguei lá ela estava sentada em uma mesa, olhando-me com a cara de brava que ela sempre fazia quando eu aprontava algo.

— Calaho, você disse que já estava vindo.

— Desculpa, você me conhece, né?

— Eu tô perdendo aula, matéria de prova, sua vaca!

— Ai, não seja chata. — Sentei-me, deixei a bolsa de lado e já fui logo puxando o prato para começar a comer. — Tem pimenta?

— Sim. Do jeito que gosta.

— Então tá. Obrigada.

— Tô anotando tudo que tenho comprado pra você nos últimos dias, então trate de me pagar.

— Aff, chata! Não vai matar você, vai? — Bufei. Enchi a boca com aquela coisa maravilhosa e peguei minha carteira na bolsa. Tirei de lá algumas notas e entreguei a ela. — Aproveita e me trás um suco. — Minha voz saiu abafada devido à grande quantidade de comida dentro da minha boca.

— Dulce, eu não sou sua empregada, se vira!

Revirei os olhos enquanto ela jogava sua mochila no ombro e saía em passos largos, bem brava comigo. Dei de ombros e voltei a comer.

Depois de comer tudo aquilo e comprar um suco para fazer a comida descer, eu fui para a aula, e ainda sim cheguei atrasada para a segunda. A porta rangeu alto quando eu a abri, fazendo a maior parte da sala que estava prestando atenção no professor - e o professor - olharem pra mim, e para ajudat, tropecei numa maldita mochila que estava no meio do corredor, caindo de joelhos no chão. Ouvi algumas risadas e um dos meninos da turma me ajudou a levantar.

Com as bochechas coradas, agradeci a ajuda, me encolhi e me sentei no fundo da sala, fazendo o mínimo de movimentos possíveis para não chamar mais atenção.

— E não esqueçam de colocar o nome na prova.

O professor falou dirigindo-se à sua mesa e pegando uma pilha enorme de folhas brancas. Senti uma pontada no estômago vendo aquilo.

— Que prova? — Cutuquei a menina sentada na minha frente.

— A prova dela, oras! Vai dizer que não sabia? Hoje é dia 15, lembra? Ela tá falando dessa maldita prova há semanas.

Droga, droga, droga! Onde eu estava com a cabeça? Por que me esqueci dessa prova? Se eu fosse mal nela, com certeza iria reprovar na matéria dela e isso seria horrível. O lado bom é que passei o fim de semana inteiro fazendo um trabalho para recuperar os dias que faltei quando fui para a Capital, então eu tinha aprendido alguma coisa.

Quando a prova chegou na minha frente eu fiquei ali, parada, olhando para aquelas letras e números pensando se conseguiria fazê-la. Eu ainda queria entender o sentido de tanto texto em uma prova de cálculo. Por quê eu estava estudando aquilo mesmo? Ah, por que meu pai pediu.

Comecei a rabiscar a folha, tentando fazer as questões, que passavam longe de ser fáceis. Tudo aquilo estava me causando nervoso. Com o tempo minhas mãos tremiam e suavam como sempre ficavam quando eu estava nervosa. Precisei piscar algumas vezes quando comecei a ver as letras embaçadas e trêmulas à minha frente e tudo aquilo estava me dando vontade de vomitar.

Olhei para a professora que andava de um lado para o outro na sala. O barulho do ar condicionado estava me irritando, me deixando tonta. Eu não sei, mas parecia ser a única que estava prestes a ter um ataque de pânico ali.

— É só u... — engoli o gosto amargo em minha boca e fechei os olhos. Talvez eu não devesse ter comido tanto antes de entrar na aula.

Então tudo pareceu conspirar contra mim naquele momento. A testa suada mesmo com o ar condicionado fresco, as mãos trêmulas, a visão turva, uma dor na região da barriga e uma vontade imensa é incontrolável de vomitar. Quando dei por mim eu já tinha sujado o chão e todos olhavam para mim como se eu fosse estranha, ou talvez uma louca bêbada que ía em estados péssimos para a faculdade. Mas naquele momento eu estava sóbria.

— Senhorita Saviñon, você está bem?

— Eu acho que não.

Pressionei a barriga. A dor que eu estava sentindo não era nada boa e parecia estar se intensificando ainda mais, a ponto de eu querer chorar de dor. Que merda tava acontecendo comigo?

[REVISÃO] Inevitável - RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora