CAPÍTULO ONZE

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— Covarde!

Deixei o frasco de remédio cair no chão sentindo meu coração palpitar. Pelo espelho consegui ver a imagem de Christopher se materializar atrás e dessa vez ele estava exatamente como da última vez que o vi. Cabelos ondulados, barba por fazer, a roupa de frio... exatamente tudo. 

— O que está fazendo aqui?

— Por que sempre pergunta isso? Não se cansa?

— Não me canso, nunca, por que eu não sou real, querida, eu estou bem aqui. —  Ele se aproximou e apontou o dedo para a lateral da minha cabeça. 

— Sai daqui! — Gritei e saí do banheiro.

Desci a escada e fui até a cozinha, pegando uma garrafa de tequila. Peguei um copo e comecei a beber. 

  — Bu! 

Christophe rse materializou bem na bancada, sentado e me olhando divertidamente, como sempre costumava fazer.

— Você vai desaparecer, você sempre some. — Peguei a garrafa e tomei grandes goles diretamente do gargalo.

— Mas aí é que está, eu sempre volto pra você, minha querida. 

— Por que você vem? 

— Por que você acha que eu venho? 

— Pra me enlouquecer?

— Acha mesmo isso? Você não precisa de mim para fazer o que faz, eu só gosto de assistir você se destruir cada dia mais. Olha só todas essas bebidas e remédios que você toma, acha mesmo que precisa de mim? Você é egoísta, fraca.

  — Cala a porra da sua boca, eu não sou assim! —  Joguei minha garrafa na direção dele, mas ele desapareceu e a garrafa passou direto, terminando no chão em milhões de pedacinhos. 

Irritada por ter perdido uma garrafa praticamente nova de tequila, peguei outra com vinho e fui para o sofá, onde fiquei no escuro apenas bebendo direto na boca do vidro e vendo as coisas girarem. Eu estava quase dormindo quando a campainha tocou.

Jogada no sofá e com uma garrafa de vinho nas mãos, olhei para aporta, em seguida para o relógio e vi que eram quase oito horas da noite.

— Quem é?

Perguntei, mas ninguém respondeu. Talvez algum vizinho sem serviço ou o síndico chato.

— Mas que merda, quem ousa me incomodar a essa hora?

Levantei já estressada e fui abrir a porta, dando de cara com Christopher e... meu pai. Deixei minha garrafa cair no chão, fazendo com que o piso se tornasse roxo e dei alguns passos para trás.

— O que fazem aqui?

— A gente pode entrar?

— Não... você... — Apontei Christopher. — Não tinha esse direito.

— Do que está falando?

— Ah, eu odeio você, Christopher. — Comecei a rir incontrolavelmente e os dois se encararam Depois olharam para mim. — Você tinha sumido, por que voltou a aparecer? A bebida sempre ajuda. — Cambaleei e me apoiei no batente da porta, tentando me manter de pé.

— Você está muito bebada.

— Devo estar, para estar vendo leu pai aqui também. É a primeira vez que tenho miragem com ele.

— Dulce, nós não somos mira...

Tapei meus ouvidos e entrei, batendo a porta ma cara deles. Eu tinha um trato com meu pai e ele não iria aparecer ali daquela forma.

— Dulce! — A porta se abriu e eu me afastei ainda mais. — Para, tá? Somos nós mesmos.

— Saiam daqui, me deixem em paz! — Gritei, indo na direção da pia da cozinha e pegando uma faca.

— Filha, sou eu.

— Não, não é. Vocês vão desaparecer, eu só... eu só preciso...

Soltei a faca no chão e eles recuaram para que não acertasse seus pés, então eu corri para o banheiro e comecei a pegar meus frascos de remédios. Sabia que assim que começassem a fazer efeito, eles desapareceriam e eu voltaria a ter paz, mas quando coloquei alguns comprimidos na boca, Christopher chegou me segurando, enfiando os dedos em minha boca e me fazendo cuspi-los.

— Para com isso, sou eu! Somos nós, tá bom? Não é nenhuma miragem, nenhuma ilusão. Eu edtou aqui agora.

Ele me apertou em seus braços e pude sentir o seu calor. Era real, ele estava ali mesmo. Parte de mim queria ficar aliviada, mas a outra queria matat ele.

— Faz parar. — Deixei minhas pernas amolecerem. — Eu não quero mais, não quero.

—Tudo bem, eu estou aqui agora meu amor. — Ele me pegou no colo e me levou para o sofá, sentando-se comigo no colo e me abraçando forte.

— Não. Faz parar, Chris. Eu não aguento mais, não aguento.

— Tudo bem, tudo bem. 

— Dulce? Meu amor, sou eu, o seu pai.

Escondi meu rosto no peito de Christopher. Não queria que meu pai me olhasse, não queria que ele soubesse o quanto eu estava mal.

— Eu vou levar ela lá pra cima, ela precisa de um banho, está péssima.

— Faça isso.

— Vamos lá em cima? Hum?

Assenti. Christopher me pôs de pé, mas eu não consegui ficar, então ele voltou a me pegar e me carregou até o andar de cima e me levou para o banheiro.

— Não me odeie por isso, vai te fazer bem, ta?

Ele tirou a minha roupa e me enfiou sem pensar duas vezes em baixo da água fria. Tentei escapar no susto, mas ele me impediu. Com aquela água grlada cai do em coma de mim fiquei sem ar e nem mesmo consegui falar nada.

No final do banho eu tremia tanto que foi preciso um pinama de frio, meias, touca e  dois conertores para começar a me aquecer.

Meu pai subiu para o quarto trazendo uma caneca com algo quente. Ele se sentou na beirada da cama e me entregou.

— É um chá, vai ajudar a aquecer e tirar o efeti do álcool.

— Eu sou uma má pessoa?

— Por que... não! Claro que não, filha.

— Mentira!

— Dulce, você é uma pessoa boa, ta? Só está passando por um momento ruim.

— Eu me odeio, pai. — Olhei para Christopher que estava calado. — Eu não sei fazer nada de bom, eu só magoo as pessoas. Todas elas.

— Chega disso. Você não vai conseguir melhorar se pensar assim.

— Me interna?

— O quê?

— Eu vou acabar me matando. Remedios, alcool e sabe-se lá o que eu posso fazer se minha loucura aumentar. E se eu machucar alguém? Eu peguei uma faca pra vocês.

— Só... descansa, tá? Quando estiver melhor, a gente conversa.

— Se eu dormir, ainda estarão aqui quando acordar?

— Claro que sim. Estaremos bem aqui do seu lado. 

[REVISÃO] Inevitável - RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora