A ALUADA DO CAFEZAL

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Os antigos se lembram bem de quando o café era a principal riqueza da região. Havia fartura, mas havia também dramas pessoas e mistérios que desafiam a nossa compreensão. Um dos causos mais lembrados por eles era o da Aluada do Cafezal.

Numa grande fazenda da região, hoje desmembrada em inúmeros sítios menores, havia uma grande colônia, que abrigava o pessoal que trabalhava na lavoura. Um dia chegou ali um casal de nordestinos, pedindo emprego. Como não havia nenhuma casa vaga na colônia, deram a eles uma casa de sapé, próximo a roça, para que morassem. O casa ficava isolada da colônia, mas oferecia o necessário para um casal sobreviver, considerando as agruras daqueles tempos.

Logo começaram os comentários. Os outros colonos achavam o novo casal muito estranho. Os dois não conversavam e não participavam da missa de domingo, na capela da fazenda. A mulher, sempre desgrenhada e falando sozinha, mais parecia uma aluada. Pouco tempo depois que chegaram, ela ficou grávida. Apesar de serem arredios, eram bons trabalhadores e faziam sua parte, capinando o café, plantando o feijão nos entremeios das ruas e todo trabalhado ordenado pelo capataz.

A tragédia, porém, não demorou a se manifestar. Ao remover uns troncos velhos, o marido da Aluada foi picado por uma urutu-cruzeiro perto da virilha. Desesperado, sacou sua faca e tentou fazer um corte para extrair o veneno. Ao invés disso, cortou a veia da perna. O sangue esguichava e não havia o que fazer para estancar o sangue.

Ele correu de volta para a casinha de sapé, gritando pela mulher. Caiu ali, no terreiro, já sem sangue no corpo. Morreu no colo da mulher, que chorava e gemia de dor.

Depois disso, ela ficou ainda mais estranha e arredia do que antes. As crianças passaram a ter medo dela. Ela continuou fazendo seu trabalho até que o filho nasceu. Depois disso, a Aluada simplesmente isolou-se de todos. Não trabalhava mais e ficava trancada em casa. Se alguém aparecia, ela enxotava, atirando pedras e pedaços de pau. Perceberam, então, que o nenê que nascera chorava sem parar. Era dia e noite. Quem passava por perto, ouvia o choro da criança, como se estivesse faminta ou sendo judiada.

— Deixa a muié quieta por uns tempos. Quando ela saí do resguardo, ela vai miorá – decretou o capataz.

E parece que tinha razão. De repente, a criança parou de chorar e quem passava pelo terreiro da casa não era mais enxotado pela Aluada. O silêncio persistiu e gerou desconfiança. As portas e janelas fechadas eram um mau sinal. O capataz chamou alguns homens e algumas mulheres e foram até lá.

— Vamos tê que arrombá a porta – decidiu ele.

Alguém bateu com o olho de um machado e a porta se abriu com facilidade. Um cheiro nauseante fez homens e mulheres vomitarem. A cena macabra à frente deles os fez se persignarem.

— Valha-me Nossa Senhora!

— Virge Maria!

— Meu Deus do Céu!

Estas e outras exclamações foram ouvidas. No fundo da casinha, sentada numa cadeira, estava o corpo em decomposição da mulher. Quando conseguiram entrar, perceberam logo que a criança não estava ali. Procuraram por toda parte, ao redor da casa, no poço, na fossa, mas nada. Por incrível que pareça, o nenê jamais foi encontrado.

Os antigos afirmam que os restos da casinha ainda estão lá. O sitiante que comprou aquela parte, quando a fazenda foi dividida, deixou tudo como estava. Principalmente porque, segundo ele, à noite, depois das dez horas, um choro de criança pode ser ouvido acima dos ruídos do vento. Um gemido de mulher responde de outro lado. Dizem que é a Aluada do Cafezal, procurando seu nenê.

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