A MÁSCARA DO DESTINO

6 0 0
                                    

A CIGANA

Um parque de diversões, com brinquedos e barracas. Muita gente. Três garotas passam, rindo muito e flertando com os rapazes. Param diante de uma barraca com uma placa onde se lê CARTOMANTE em letras retorcidas.

GRAÇA: (Mostrando excitação e encarando as outras.) Vamos ver a sorte?

MAGDA: (Encolhendo-se, como se o assunto a assustasse.) É ruim, hem! Eu tive uma amiga que mandou ler a sorte e a cigana falou que ela ia morrer. E não é que a minha amiga morreu de verdade... Morro de medo disso!

(Graça e Nilsa riem de Magda.)

GRAÇA: (Olhando com decisão para a placa acima da entrada da barraca.) Pois eu não tenho medo e vou entrar.

(Corte para o interior da tenda. Uma cigana, com um capuz da cabeça, de forma que não se veja seus olhos, mantém-se imóvel enquanto as garotas vão entrando. Graça se senta diante da mulher, que embaralha as cartas sobre a mesa, junta-as, depois as estende na direção de Graça. Antes que a garota faça algum movimento, a cigana segura a mão esquerda dela, pondo-a sobre o baralho e fazendo-a cortá-lo. Ao toque da mão da cigana, Graça se arrepia toda.)

CIGANA: (Com as mãos sobre o baralho ainda.) O que deseja saber?

GRAÇA: (Esboça um sorriso e olha para as amigas, antes de responder. Parece perturbada ainda com o toque da mão da cigana.) Quero saber quando vou encontrar meu príncipe encantado.

CIGANA: (Vai virando lentamente as cartas de um baralho Tarô, sem olhar para ele. Todo o tempo ela parece encarar a garota. Saem as seguintes cartas: O DIABO, A LUA e OS AMANTES.) Quando deixar cair a máscara, você vai conhecer seu príncipe encantado.

GRAÇA: (Olhando para as amigas com cara de espanto e demonstrando nada ter entendido.) Cair a máscara? Como assim?

MAGDA: (Rindo.) Acho que ela achou que você é muito mascarada, sabia?

(A cigana recolhe o baralho. Estende a mão aberta. Graça põe ali uma cédula. Saem. A cigana movimenta levemente o corpo e a luz ilumina pela primeira vez os seus olhos esbranquiçados de cega. Câmara se aproxima lentamente até fundir o rosto dela.)

Próxima cena, alguns anos depois...

O ENCONTRO

Dois casais de jovens num carro, diante de uma elegante casa de shows. No cartaz, nome de um artista famoso. O rapaz ao volante está visivelmente drogado. É sexta-feira à noite.

GUIDÃO: (Esmurra o volante do carro. A luz da rua ilumina uma tatuagem do diabo em sua mão direita.) Você viu isso? Além do preço ainda exigem terno e gravata... Que cacete de show é esse?

GRAÇA: É um jantar beneficente, com direito ao show... Vamos embora. A gente nem gosta desse cantor mesmo...

ROBBY: (Sentado no banco de trás, cutuca o ombro de Guidão.) É isso aí, Guidão. Vamos embora! Isso aí não é para nós... Vamos curtir um barato por aí... A menos que aquela...

GUIDÃO: (Virando-se rapidamente e encarando o amigo com o semblante alterado). Se abrir o bico eu arrebento você...

GRAÇA: O que está pegando, Guidão?

GUIDÃO: (Endireitando o corpo.) Nada que interesse.

GRAÇA: (Voltando-se e encarando Robby.) No mínimo aquela piranha granfina está lá dentro... E você, Guidão, andou fumando aquela porcaria de novo...

ROBBY: (Abaixando a cabeça.) Não sei de nada!

GUIDÃO: (Encarando Graça com desprezo.) Fica na sua, gracinha. Fica na sua, tá legal?

CONTOS DO MAGO DAS LETRASOnde histórias criam vida. Descubra agora