12 - inconsequente

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Bernardo

Cíntia, minha professora de português da quarta série, me presenteou com um livro quando eu fui pra diretoria. Eu estava ali porque entrei numa briga com um garoto da turma.

O idiota viu meus hematomas recentes e não perdeu tempo antes de espalhar a notícia na escola. Ryan era seu nome, ele tinha pais de classe média e escapou da suspensão, mas ao menos lhe dei uma bela surra.

Eu estava sentado, observando as paredes, quando a professora entrou na sala.

Pensei que levaria bronca, mas ela me deu a droga de um livro!

— Você precisa repensar sobre o que fez — disse ela com a voz totalmente calma; os cabelos negros presos em um coque no alto da cabeça. — Foi o único jeito que eu achei de convencer a diretora sobre não te expulsar.

— E no que esse livro vai me ajudar? — dei um sorriso forçado. — Posso usá-lo pra limpar a bunda?

— Não seja malcriado! — Ela me repreendeu. — Esse livro é especial. Você pode tomar gosto pela leitura e parar de ser tão inconsequente e impulsivo.

— Hm. — Tomei o livro das suas mãos e fui para casa. Era o único jeito de ser deixado em paz.

Lembro que o deixei jogado em um canto do quarto e resolvi folheá-lo semanas depois. O livro se chamava O Senhor das Moscas de um inglês chamado William Golding.

O enredo basicamente contava a história de algumas crianças, que devido a acidentes isolados, ficavam presas em uma ilha deserta e faziam coisas impensáveis, conforme o ambiente de medo e solidão à sua volta. Elas criaram uma forma distorcida de governo.

Eu o li durante toda a madrugada e não consegui parar.

Aquela coisa chata de determinismo me fez pensar por um tempo. Será que o ambiente a nossa volta pode nos influenciar? Será que essa merda de vazio que eu sinto praticamente o dia todo tem a ver com as ações do meu pai e os lugares que frequento; minhas amizades tóxicas, as drogas?

Eu realmente não sei, nem tenho muita vontade de descobrir. Mas e quando esse vazio diminui consideravelmente perto de uma garota em questão? E eu me sinto... outro?

Ela é como a droga de uma luz ambulante e eu acho que estraguei seja lá o que tivemos.

Um a zero para a minha burrice!

Coloco as mãos atrás da nuca, observando a garota completamente nua se mover sobre mim. Seus seios redondinhos estão praticamente sobre o meu rosto.

— Isso é tão bom, Bernardo! — Priscila solta um gemido alto que preenche o quarto de motel. A cama se choca contra a parede branca e lisa a cada investida. — Amo você.

Ignoro suas palavras e aperto seu quadril, incitando-a a se movimentar mais rápido. Sua expressão satisfeita me faz pensar que ela gostou. Tenciono a mandíbula e deixo escapar um ruído de prazer. Priscila se inclina sobre mim e gruda nossas bocas, iniciando um beijo intenso.

Inverto nossas posições e espalmo o travesseiro, buscando apoio. Movimento o quadril com mais intensidade e consigo ouvir os ruídos que ela solta.

Fecho os olhos, pensando em outra garota. Droga, eu não posso evitar! Os cabelos loiros de Priscila se tornam escuros e seu rosto é substituído pelo da Cecília. Gemo conforme invisto contra ela e o corpo embaixo do meu estremece. Chego ao meu limite um pouco depois.

Eu me jogo de lado sobre a cama e respiro profundamente. Olho para o lado, encontrando uma garota sorridente e suada.

Eu a trouxe para cá após encontrá-la em frente à porta da minha casa. A minha meta era mandá-la embora, mas acabei relembrando minha noite conturbada e só precisava relaxar depois de tudo. Não sei como Priscila conseguiu uma identidade falsa, mas isso facilitou nossa entrada no motel barato, considerando que ela tem dezesseis anos.

— Senti sua falta, gatinho. Sabia que você ia voltar pra mim. — Priscila se inclina sobre meu tórax e eu respiro fundo antes de me empurrar para fora da cama.

— Foi só um momento! — Resmungo. — Não vai mais acontecer.

Encontro uma pequena lata de lixo e descarto a camisinha.

— Você é um chato! — Reclama com um bico nos lábios inchados.

— Mas caso eu me lembre, você não disse isso enquanto gemia no meu pau — murmuro cínico, deixando-a vermelha.

— Cretino! — Ela grita e eu jogo a cabeça para trás em uma gargalhada.

Visto minha boxer e a calça surrada. Ponho a camiseta que estava em um canto do quarto e os coturnos. Procuro algumas notas na carteira e as jogo sobre a cama.

— Pega um táxi ou qualquer outra coisa — murmuro, encarando a garota nua sobre a cama. Ela se embrulha parcialmente com o lençol e fica de pé.

— Eu pensei que você fosse me levar. — Ela espalma meu peito e desliza os dedos sobre a camisa.

— Não vai dar. Estou indo a outro lugar depois daqui. — Enfio a carteira no bolso, seguindo em direção à porta. — Até nunca mais!

— Aonde você pensa que vai? Bernardo?

Giro a maçaneta e saio do quarto, ouvindo xingamentos furiosos atrás de mim.

Procuro a moto no estacionamento e entro na avenida principal em alta velocidade. Preciso ficar sozinho.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora