19 - decisão

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Dia seguinte...

Cecília

Sigo para o refeitório depois das primeiras aulas, procurando um lugar para me sentar. Encontro uma cadeira distante do barulho dos outros alunos.

Até agora não tive sinais do Bernardo por aqui, então ele deve está em qualquer outro lugar da escola.

Eu me sobressalto quando alguém arrasta uma cadeira ao meu lado e, por algum motivo, sei que está bem próximo. O perfume adocicado e enjoativo é familiar.

— Aí está você! — diz Priscila.

— O que você quer?

— Eu só quero deixar um recado — murmura. — Prometo que serei breve.

— Não estou interessada!

Minha cota de paciência está acabando. Priscila é expert em acabar com os nervos de uma pessoa e eu já estou cheia da sua atitude infantil.

— Eu não me importo se você não quiser ouvir.

— Então sai! — murmuro.

— Não. Você tem que saber o que o Bernardo faz pelas suas costas.

É claro que ela está mentindo, querendo me colocar contra ele.

— Bernardo não me esconde nada! — murmuro.

— Você é quem pensa, queridinha. — Ela ri, irônica. — Sabia que enquanto você está pensando nele feito uma idiota, ele está usando droga? Cocaína, pra ser mais específica.

— Mentira! — bufo com a paciência no limite. — Ele nunca faria uma coisa dessas.

— Pergunta pra ele, então!

— Claro que não, eu confio nele.

— Então você é uma otária! — murmura. — Adeus!

Consigo ouvir seus passos contra o piso do refeitório conforme ela se afasta. Essa garota é completamente sem noção, mas não vou acreditar nas palavras dela. Tudo não deve passar de uma mentira horrível.

Bernardo não seria capaz de usar drogas. Às vezes ele até fica temperamental e briguento, mas nunca passou dos limites comigo.

Confio nele.


***


Bernardo

Passo pela janela entreaberta e braços envolvem meus ombros assim que adentro o quarto semiescuro.

— Senti sua falta e não te encontrei na escola — Cecília murmura contra meu peito.

— Eu também — digo contra seus cabelos. — Senti sua falta, ceguinha.

Ela espalma meu torso, afastando-se de mim.

Droga!

— Não me chame assim! — Murmura com o semblante chateado.

— Foi só força de hábito, princesa. Me desculpa. — Eu a puxo de volta para mim, arrependido. — Sou um idiota por ter falado isso. Juro que saiu sem querer.

Ela continua visivelmente magoada e eu me xingo por ser tão imbecil. Eu poderia chutar a mim mesmo.

— Me perdoa, por favor. — Praticamente imploro e ela ri.

Suspiro, aliviado, e a aperto contra mim.

— Está bem, mas não volte a me chamar assim, Bernardo. Eu não gosto. Sei que é a minha condição, mas já estou acostumada com ela e não suporto que me menosprezem por causa disso, sobretudo com apelidos preconceituosos.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora