11 - perdendo a cabeça

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Bernardo

Assim que encontro o banheiro masculino, eu me enfio em uma das cabines, passando a trava na porta frágil. Procuro nos bolsos da calça o que restou de cocaína e um pedaço de papel na carteira.

Eu realmente estou em um dia ruim e até agora estou me sentindo culpado pelo soco que dei em meu pai antes de sair de casa. Tento me convencer de que ele mereceu depois de ter tentado me golpear como fazia antes. Depois que o flagrei tentando destruir os móveis da nossa casa em um ataque de fúria, tive que reagir e falar umas verdades para aquele merda. Ele partiu pra cima de mim, e não pude me controlar. Dois socos seguidos e o cara se deu conta do que tentou fazer. Bruno ficou se remoendo no sofá, e eu só queria um momento sozinho. Pensei até em desistir do encontro com Cecília, mas me dei conta de que não era algo legal de se fazer.

Então vim para cá e a merda da confusão recente não sai da minha cabeça.

Se a droga não conseguir, talvez Cecília me faça esquecer o que aconteceu. Ela é linda. Muito. E acabo divagando sobre milhões de coisas sujas que desejo fazer com ela. Quando nos beijamos na pista de dança, eu fiquei ainda mais viciado. Nunca senti isso por garota alguma. Sério. Era só tesão e mais nada. Cecília tem se tornado meu novo vício, não posso negar.

Uso a droga e quando termino minha vista fica um pouco turva. Acho que exagerei. Espalmo a parede e espero a merda da tontura passar. Mais relaxado, saio do banheiro e procuro a Cecília com os olhos.

A boate está cheia, então vai ser um pouco difícil lembrar onde a deixei. Droga. Sigo em direção ao bar improvisado e semicerro os olhos para o que vejo.

Cerro os punhos com ódio.

Foda-se!

Parto para cima do desgraçado que está com as mãos em Cecília e o jogo no chão, descarregando meus punhos na sua cara.

— Filho da puta! — Grito, acertando diversos socos. Não me importo com a dormência nos meus dedos e nem com o sangue espirrando em minha camisa. Os golpes se tornam frenéticos e descontrolados. Nunca me senti tão fora de controle como agora, tão malditamente irreconhecível.

Os gritos da Cecília ficam distantes enquanto continuo acertando o lixo estirado no chão. Sinto alguém me afastar do cara e respiro pesado.

— Acho melhor você parar. Ele está acabado o suficiente — diz um cara meio careca.

Passo os dedos machucados entre os cabelos, observando o idiota no chão. Ele consegue se levantar, com um pouco de dificuldade e não olha para trás enquanto foge.

Desvio o olhar, encontrando a Cecília. Ela está atordoada; o rosto assustado e molhado pelas lágrimas. Eu me aproximo, segurando seu braço e a arrasto para fora da boate. Ela geme conforme caminhamos.

— Vamos embora!

— Me solta, Bernardo. Você está me machucando.

Eu a ignoro e quando nos aproximamos da moto, solto o seu braço. Ela massageia a área que eu segurei e parece assustada. Muito.

— Você é muito cínica, não é ceguinha? — Volto a usar o apelido que ela odeia.

— Não me chame assim. Eu não gosto! — grita; o rosto vermelho.

— Ah, claro. — Solto uma risada sem humor — Você devia se acostumar porque é isso que você é. Uma cega!

— Por que você está me dizendo isso, Bernardo? — Ela soluça; o semblante magoado.

Eu me culpo, mas não por muito tempo.

— Porque eu quero! Você se esfrega no primeiro que aparece e...

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora