41 - um passo para o caos

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Bernardo

Fecho a porta atrás de mim, passando a chave na fechadura antes de seguir cambaleante para o quarto. Por sorte não derrubo a mesinha de centro da sala.

Tento não fazer barulho e acendo o abajur ao lado da cama. Cecília está deitada, mergulhada em um sono profundo assim como o bebê acomodado dentro do berço.

Sigo para o banheiro e deixo a água do chuveiro amenizar a ressaca. Penso na burrada que fiz ao beber tanto, principalmente ter deixado a Cecília e o bebê, sozinhos. Droga... odeio isso! Mas a raiva acabou sendo mais forte do que eu, e no fim agi como um imbecil inconsequente.

Procuro uma boxer na gaveta e uma bermuda, antes de colocá-las apressadamente. Deito na cama, encarando a Cecília.

Ao perceber, ela desperta desorientada.

— Bernardo?

— Sim, sou eu — murmuro e ela suspira, aliviada.

— Tomei um susto. Pensei que tinham invadido a casa.

— Acabei de chegar.

— Que cheiro é esse? Onde você estava? — inquere, franzindo o cenho.

— No bar — digo simplesmente e ela nega com a cabeça, sentando-se.

— Você sempre vai fazer isso?

— Isso o quê? — pergunto, intrigado.

— Beber sempre que a gente discutir.

— Eu... — Fico sem ter o que falar. Ela está certa. — Me desculpa.

— Estou cansada, Bernardo — diz, magoada. — Você sempre me falou o quanto odiava isso no seu pai e acaba sempre fazendo o mesmo. Não te entendo.

— Me perdoa, amor. — Passo a mão na cabeça, culpado. — Eu só fiquei com ciúmes e não aguentei.

— Ciúmes sem motivo. — Cruza os braços. — Você acha que eu também não tinha ciúmes das meninas dando em cima de você no colégio? Mas a diferença é que eu confio em você e não saio por aí tomando todas, deixando minha família em casa.

— Eu só faço coisa errada, me desculpa, mas eu confio em você, Cecília e me preocupo. O problema é que às vezes me bate uma insegurança do caralho e eu acabo perdendo a cabeça.

— Insegurança?

— Tenho medo de você cair na real e notar que eu não sou o cara certo pra você.

— Pelo amor de Deus, Bernardo! Eu que deveria ser insegura com relação a isso, já que tem tantas garotas loucas por você — murmura. — Mas ao contrário do que você está, erroneamente, pensando, eu não vou te deixar.

— Não te mereço — digo sério, estudando seu rosto cuidadosamente.

— Nada disso. Você é bem impulsivo quando quer, mas eu te amo. Deixa de ficar pensando dessa forma.

— Tudo bem. — Beijo sua testa. — Prometo que nunca mais te deixo sozinha com o nosso filho para encher a cara em um bar. E obrigado!

— Por quê?

— Por não ter me matado quando eu cheguei em casa.

— Ah, mas da próxima vez eu vou te dar uma surra para você aprender — brinca, sorrindo antes de me dar um selinho. — Quando você saiu, eu acabei dormindo, cansada de te esperar. Ainda não jantei.

— Vamos, então. Estou faminto e acho que posso comer um boi.

Ela ri e eu me empurro para fora da cama, antes de seguirmos em direção à pequena cozinha.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora