Cecília
À noite, cerca de onze horas, estou sentada com o Bernardo no sofá, ouvindo o barulho de um filme de ação na TV.
Eu me recosto contra ele, buscando seu calor já que está chovendo muito lá fora e o frio não ajuda. Estou quase cochilando quando ouço o choro do bebê.
Quando já estou me levantando, Bernardo segura o meu braço.
— É a minha vez!
— Obrigada — murmuro, cansada, voltando a sentar.
O bebê não nos deixa dormir muito ultimamente e sempre acorda chorando, querendo mamar ou porque está sem sono.
— Ele está bem agitado — murmura Bernardo com um Carlinhos choroso, voltando para a sala.
— Me dá ele aqui — peço e ele o deposita nos meus braços.
— Quieto, rapaz! — Bernardo o repreende; o que não surte efeito já que o bebê chora ainda mais alto.
Sorrio, cansada, e me levanto, cantando uma canção de ninar que ele adora.
— Não chora, meu amor — murmuro enquanto o embalo nos braços.
Depois, eu o coloco para mamar, mas ele rejeita o peito, chorando ainda mais.
Franzo o cenho, preocupada. Parece que ele não está com fome, o que é uma novidade. Cubro os seios novamente.
— Acho que ele está com cólica — diz Bernardo.
— Também acho — murmuro, preocupada. — Tia Camila me ensinou como fazer um chá pra sanar a dorzinha. Pega ele aqui. Vou preparar logo esse chá. Se não surtir efeito, o levaremos ao médico.
— Verdade. — Ele o pega enquanto sigo até a cozinha, tateando a parede.
Eu o ouço falando todo carinhoso com o bebê enquanto preparo o chá. Deixo na temperatura certa e o coloco na mamadeira. Não posso exagerar, para não correr o risco de o chá substituir a amamentação, como o pediatra alertou.
Logo depois, volto para a sala e o Bernardo pega a mamadeira das minhas mãos para dar ao bebê.
— Toma o chá, filho — murmuro quando o Carlinhos faz birra, chorando alto.
Depois de alguns segundos, como o pai dele tem um poder que eu desconheço para distraí-lo, ele toma um pouquinho. Após deixar a mamadeira na cozinha novamente, sento no sofá.
Carlinhos já está se acalmando, o que é ótimo.
— Ele dormiu. — Bernardo diz suavemente um tempo depois e eu me aproximo, ouvindo a respiração tranquila do bebê.
Suspiro, aliviada.
— Era cólica mesmo, tadinho.
— Esse seu chá é uma maravilha — diz, divertido. — Acho que hoje a gente dorme. — Boceja, cansado.
— Tomara.
— Vou levá-lo para o berço. Vamos? — diz antes de seguirmos para o quarto.
Quando o bebê já está acomodado, eu e o Bernardo literalmente capotamos na cama sem fazer barulho.
Deito a cabeça sobre seu peito nu e adormeço em minutos.
***
Durante a manhã, cuido da higiene do Carlinhos e dou de mamar antes de deixá-lo na cama, enquanto visto uma roupa qualquer. Procuro minhas chinelas embaixo da cama e as calço, caminhando com o bebê até a sala. Tranco a porta por fora e sigo em direção ao mercadinho no fim da rua com a minha camisa canguru, onde o Carlinhos está seguro. Preciso comprar algumas verduras, que o Bernardo se esqueceu de trazer quando foi às compras outro dia.
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Uma Luz Na Escuridão
RomanceCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...