31 - insegurança

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Bernardo

Tranco a porta atrás de mim, após o trabalho.

— Cheguei.

Meus olhos varrem a sala até pararem em Cecília sentada no sofá, zapeando os canais da TV.

Franzo o cenho, estranhando sua atitude, afinal ela geralmente abre um sorriso quando chego.

Ela continua zapeando os canais, distraída, e eu passo por ela, irritado. Entro no quarto e dou um beijo na cabeça do meu filho adormecido, antes de tirar a roupa e ir ao banheiro. Saio de lá vestindo uma calça de moletom cinza e uma camiseta de manga comprida, já que tá fazendo um frio do caralho aqui dentro.

Sigo para a sala e sento ao lado de Cecília no sofá.

— Sua tia já foi deitar? — inquiro, puxando assunto.

Ela está séria e nem parece ter me ouvido.

— Não. Ela está costurando algumas roupas no quarto — diz num tom de voz insolente, me surpreendendo.

Tomo o controle da sua mão, desligando a TV.

— Me devolve isso, Bernardo! — murmura, irritada.

— Não até você me dizer o que está acontecendo! Você está muito estranha comigo — digo entre dentes.

— Não é nada. — Ela cruza os braços, como uma criança mimada faria.

— Tem alguma coisa que você não quer me contar. Desembucha.

— Tudo bem, senhor mandão. — Suspira alto, antes de falar. — Priscila falou comigo hoje de manhã, lá na pracinha do centro.

— Como é? — murmuro, alarmado, e ao mesmo tempo puto de raiva. — O que ela disse?

Cecília permanece em silêncio.

— Fala logo, Cecília!

— Tá bom... ela disse que vocês ficaram juntos em um motel na mesma noite que nós saímos pela primeira vez — diz acusadora.

Merda, a vaca da Priscila abriu a boca. Ela vai me pagar.

— Isso é verdade?

— Sim. — Ela fica boquiaberta. — A gente transou.

— Como você pôde, Bernardo?! Logo depois que ela me humilhou na sua frente!

— Porra, Cecília, eu estava incomodado depois da nossa discussão e ela apareceu na minha casa!

— Se você estava com raiva, foi porque quis — diz entre dentes. — Não te fiz nada naquela noite.

— Você está certa, me desculpa. — Pego a sua mão, mas ela a retira, chateada. Fico tenso na hora. — Eu era um idiota naquela época, Cecília. Mas eu mudei, juro. Nem cocaína eu uso mais.

Ela permanece séria e uma lágrima solitária desce pelo seu rosto, fazendo-me sentir muita raiva de mim mesmo.

— Não chora. — Tento tocá-la, mas ela se retrai. — Eu era um bosta, mas juro que mudei. Nem estávamos juntos ainda, quero dizer, namorando.

— Tudo bem. — Ela funga, enxugando o rosto com a mão.

— Sério? — indago esperançoso.

— Você está certo. Nem estávamos namorando ainda e de lá pra cá você mudou muito. — Pega a minha mão, me deixando surpreso. — Agora você é um ótimo pai e namorado. Só me promete uma coisa?

— Pode falar.

— Promete que não vai mais se encontrar com a Priscila. Eu não vou suportar isso, Bernardo. Talvez por eu ser cega, você se canse e queira...

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora