Bernardo
Às vezes eu me pergunto como posso ter mudado tanto. Realmente não sou o idiota apático de antes, pelo menos não na maioria das vezes. Ter conhecido a Cecília e continuar frequentando a terapia tem uma grande parcela de influência sobre isso. E a notícia recente me pegou de surpresa de uma forma considerável.
— Ela o quê? — Marcelo me encara; os olhos arregalados.
Ignoro a música sertaneja de fundo sobre algum imbecil que levou um par de chifres e está se lamentando no alto falante em uma voz ridiculamente sofrível.
— Eu já falei antes. Cecília está grávida. — Corro a mão sobre o cabelo, observando a movimentação do bar. Encaro a bebida sobre a mesa antes de negar com a cabeça. Eu poderia muito bem beber até cair, mas não farei isso. Cecília precisa de mim e eu não quero voltar a ser o babaca de antes com ela.
— Você está ferrado — murmura Marcelo se recuperando e eu assinto com a cabeça. — Você vai deixá-la?
— Claro que não! — murmuro, categórico. — Isso nem sequer se passou pela minha cabeça, cara. Apesar de tudo, eu gostei da notícia e vou assumir minha responsabilidade.
— Você está certo nessa parte, mas se eu estivesse no seu lugar estaria surtando com isso — diz ele antes de virar um copo cheio de cerveja na boca.
— Bom, acho que se fosse há alguns anos atrás eu fugiria, mas...
— Você mudou! — Completa por mim; surpreso. — Você acha que a tia dela vai fazer o quê?
— Não sei, provavelmente me xingar — murmuro.
— E se ela te proibir de ver a Cecília e...?
— Nem fala uma porra dessas, cara! — Fico completamente tenso. — E se algo assim acontecer, eu, sei lá, fujo com Cecília para bem longe. Eu não posso mais viver longe dela.
— Então, ela te pegou mesmo?
— Como assim? — Franzo o cenho.
— Você a ama?
— Amo — digo sem titubear e Marcelo dá risada antes de eu fuzilá-lo com os olhos.
— Eu ainda não fui pego por esse mal.
— É bom. Você devia experimentar — murmuro, divertido.
— Acho melhor não. Quero aproveitar a vida de solteiro. — Dá de ombros. — Quando você vai esclarecer as coisas com a família da sua garota?
— Hoje. Eu acho que já estou indo. — Dou uma olhada no relógio de pulso.
— Boa sorte — diz antes de se levantar e chamar a garçonete para pagar a conta. — Eu vou seguir para casa. Já estou cheio desse bar.
***
Estaciono a moto na vaga habitual e sigo até a casa pequena mais à frente. Bato na porta algumas vezes e Barbara atende, com um sorriso contido.
— Oi, Bernardo.
— E aí. — Noto que não há ninguém na sala e a casa está estranhamente silenciosa.
— Pode entrar. Estou indo chamá-las — murmura antes de sumir por uma porta no corredor.
Encosto a porta atrás de mim e caminho até o sofá, sentando desconfortável em seguida. Estou louco pra ver a Cecília.
— Boa noite — diz uma mulher morena e baixinha, entrando na sala.
— Boa noite — murmuro de volta e ela senta-se no outro sofá.
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Uma Luz Na Escuridão
RomansaCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...