15 - à beira de um colapso

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Bernardo

Sábado de madrugada, estou em outra festa na casa de Natália. O terceiro ano quase todo está aqui, incluindo Lucas e Jefferson. Hoje faz seis dias após a ida ao parque com a Cecília e eu fui um verdadeiro idiota. As chances que eu tive de me aproximar dela na escola foram muitas, mas eu apenas a ignorei.

Seguro a garrafa de vodca enquanto relaxo as costas contra o sofá de couro preto. Gosto da forma como a bebida me deixa. Anestesiado, essa é a palavra. E isso é surpreendente porque ainda não toquei em outro tipo de droga. Eu tô parando com o lance da cocaína. Na verdade, não consumo desde o meu descontrole com a Cecília na boate e só espero ser forte o suficiente para prolongar isso.

— É sua vez, cara!

Nego com a cabeça quando Nicholas me convida para uma brincadeira ridícula envolvendo uma mesa de bilhar e algum idiota que consiga beber sem entrar em coma alcoólico.

— Já bebi demais. Marcos vai. — Aponto com a cabeça o cara loiro sentado sobre o braço do sofá.

— Estou dentro. — Ele fica de pé. Acho que é o mais sóbrio de todos nós.

Ouço gritos bêbados e entusiasmados conforme a brincadeira continua.

— Oi, Bernardo. — Gabriela passa por ali com um sorriso nos lábios. Ela é a típica patricinha loira e gostosa da escola. Já ficamos e eu lembro que ela beija muito bem.

— E aí.

Com uma baita sede, fico de pé e sigo até a cozinha. Coloco a garrafa semivazia sobre a ilha e Marcelo aparece um tempo depois; a boca manchada de batom e o pescoço marcado me fazendo rir.

— O quê? Perdi alguma coisa?

— a Natália literalmente te atacou — comento, bebendo um copo de água.

— É... — ele sorri sem graça. — Tô muito acabado?

— Um pouco. — Dou de ombros enquanto ele caminha até a pia. Marcelo lava o rosto com a água da torneira antes de enxugá-lo com uma toalha. — E a loirinha? Ainda tá pegando?

— Barbara?

— É.

— Ah, só trocamos um beijo no parque, mas acho que isso não vai levar a nada. — Dá de ombros. — Ela inventou um monte de desculpas sobre não poder sair comigo outro dia, disse que a mãe é rígida com essas coisas.

— Acho que a mãe é um pouco rígida mesmo.

— Ou a garota é inexperiente demais e está com medo. — diz ele. — Mas eu gostei de beijá-la. — Sorri, pensativo.

— Hm. Cuidado. Natália vai te matar.

— Que se dane ela. Nós não temos nada. Natália só quer me usar.

Dou risada da forma como ele coloca isso.

— Fiquei com pena de você agora. Por que não investe na loirinha? Ela é meio doida, mas perece legal.

— É, vou tentar — murmura ele. — Carla estava te procurando. — Decide mudar de assunto.

Franzo o cenho.

— Onde ela tá?

— Sumiu. Mas não parou de perguntar por você.

— Hm. Carla é legal, mas já está me cansando. Acho que preciso de carne nova.

— Você é terrível. — Marcelo ri.

— Claro! — Dou um sorriso preguiçoso.

— Acho que ela é a única garota que você pegou por tanto tempo. Desde o segundo ano, certo?

— Eu sei. Mas o nosso lance não é sério. Eu não faço o tipo que namora. Essa palavra me dá calafrios.

Ele ri, balançando a cabeça.

— Namorar deve ser uma droga — murmura.

— Com certeza. — Bato em seu ombro. — Acho que já vou. Depois a gente se fala.

— Já? Está cedo, cara.

— 02h30 da manhã. — Relanceio o relógio de pulso. — Eu... preciso resolver uma parada aí. Depois a gente se fala.

— Tá certo.

Dou as costas para a cozinha e retorno à sala barulhenta. Giro a chave da moto entre os dedos enquanto sigo até a saída. Preciso muito ir a um lugar.

***

Cecília

Eu tive sorte. Eles estão precisando de uma cozinheira na creche e eu começo na próxima segunda — diz tia Laura, entusiasmada, na sala de jantar.

— Fico feliz pela senhora — murmura Barbara com dificuldade, provavelmente com a boca cheia de comida.

— Ah, obrigada.

— Eu poderia manter a casa. Não teria problema — murmura tia Camila.

— Eu não podia deixar tanta despesa nas suas costas. Você me cedeu a sua casa para eu vir morar com a Cecília e eu sou grata por isso. E quero agradecer te ajudando.

— Você é uma ótima irmã, Laura.

— Uma garota distribuiu panfletos na minha turma sobre uma festa na casa de uma garota chamada Natália. Você acha que ele foi? — sussurra Barbara, me cutucando.

— Quem?

— Bernardo.

— Eu não sei. Provavelmente. Mas ele não me falou nada — dou de ombros.

— Vocês estão namorando?

— Não. Ele nunca tocou nesse assunto — murmuro, incomodada com a direção de meus pensamentos.

Ainda não entendi qual a verdadeira intenção do Bernardo comigo e espero que eu não venha a me decepcionar.

— Não deixa esse idiota te machucar. Não confio nele, apesar de ele ter sido legal no domingo.

— Tudo bem. Vou tomar cuidado.

Após comer o arroz carreteiro acompanhado de pedaços de carne assada, escovo os dentes antes de ir ouvir música no quarto de Barbara enquanto ela pinta minhas unhas. A voz da cantora é tão suave que eu acabo ficando com sono.

Já em meu quarto, deito sobre a cama e meus pensamentos se direcionam para um certo garoto. Sonho com a sensação do nosso último beijo. É impressionante a forma como ele mexe comigo, embora não tenha sido um dos garotos mais educados no início.

***

Ofego antes de acordar do meu sono profundo. Meu coração pulsa na garganta e eu aperto o lençol contra o peito. Tenho a nítida sensação de que estou sendo observada e isso é aterrorizante.

A brisa fria que entra no quarto só torna isso mais tenebroso. A janela está aberta? Eu não posso ter me esquecido de trancá-la!

Não sei quantas horas são, mas eu me lembro de ter dormindo um bocado. Não duvido que já seja de madrugada. Geralmente eu tranco a porta antes de dormir, então qualquer pedido de ajuda é quase impossível.

Reprimo o grito quando ouço passos pesados no quarto.

Ah, Meu Deus! Tem alguém aqui.

Provavelmente um assassino!

O medo me atinge de forma tão forte que por um momento eu acho que vou desmaiar. Se eu pudesse ver o meu estado, acho que estaria completamente pálida.

Quando um grito está prestes a deixar minha boca, ela é abafada por uma mão desconhecida. Meus olhos se enchem de lágrimas de desespero conforme eu me debato sobre a cama.



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Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora