34 - angústia

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Bernardo

Deixo a casa do Marcelo, com o celular parcialmente carregado. Eu o puxo do bolso quando começa a vibrar. Toco na tela e o rosto lindo da Cecília aparece sorridente no identificador de chamadas.

— O que é? — atendo.

— Bernardo! — Eu me sobressalto quando ela soluça, respirando com dificuldade. — Me ajuda, por favor.

Aperto o celular, tenso.

— O que está acontecendo? — Já estou em cima da Harley, morto de preocupação. Enfio a chave na ignição, nervoso.

— É o Carlinhos! — Ela chora. — Ele...

— O que tem ele? — Um alarme soa na minha cabeça e o meu coração fica repentinamente acelerado.

— Alguém o levou, Bernardo! — Ela começa a chorar, desesperada, e a calma que estou tentando manter vai por água abaixo.

— Quem, pelo amor de Deus? Cadê ele, Cecília? — As lágrimas caem dos meus olhos e eu não me preocupo em contê-las.

— Quando você saiu, alguém entrou aqui no quarto. Não sei quem era... empurrou-me e levou o bebê... — Soluça. — Eu tentei correr atrás, mas não o achei, Bernardo. Me perdoa por não cuidar dele.

— Ei, isso não é culpa sua! Você é a melhor mãe do mundo. Tenta se acalmar que estou chegando aí. Fica dentro de casa e tranca a porta, entendeu? — murmuro nervoso, ligando a moto.

— Tá bom. — Cecília funga e desliga.

Piloto a moto como um louco, sem me importar com a velocidade. Preciso recuperar meu filho e dar apoio a minha mulher. Juro que vou encontrar o filho da puta que levou o Carlinhos!

Chego em casa e largo a moto de qualquer jeito na calçada. Cecília abre a porta e se joga nos meus braços, soluçando. Cheiro os seus cabelos, desesperado, enquanto a aperto contra mim.

— Levaram o nosso neném, Bernardo. — Ela enterra o rosto no meu peito; seu corpo estremecendo com o desespero.

— Não chora. — Eu a conforto. — Nós vamos encontrar o nosso filho, eu juro.

— Promete?

— Sim, eu prometo.

Entramos na casa e eu a faço sentar no sofá. Preparo um copo de água com açúcar para nós dois na cozinha, já que eu também estou precisando.

Ela bebe tudo e aperta o macacãozinho do bebê nas mãos.

Quando eu a olho assim, sinto um aperto no peito sem tamanho. Caminho pela casa, passando as mãos no cabelo e ligo para a polícia. Eles atendem quase que imediatamente e dizem que já estão chegando.

Aproveito e aviso a Barbara e as tias da Cecília que ficam igualmente preocupadas. Elas dizem que já estão a caminho. Ligo para o Marcelo e para o meu pai, avisando. Todo apoio é necessário nessas horas.

Guardo o celular no bolso e passo em frente ao meu quarto. Fico estático, observando o berço do Carlinhos. Não consigo me controlar e choro como uma criança, olhando as coisinhas dele.

Nunca pensei que fosse sentir tanto desespero na minha vida, como o que estou sentindo agora. Saio dali relutante e entro na cozinha para deixar os dois copos vazios. Sigo de volta para a sala, sentando ao lado de Cecília que me abraça forte e conta cada detalhe do que aconteceu.

O filho da puta fugiu pela porta da frente mesmo. Nessas horas nenhum vizinho vê nada ou ouve alguma coisa, e isso me enche de raiva, porque Cecília diz que gritou, e eu sei que ainda estava cedo, então com certeza havia vizinhos que poderiam ter ajudado.

Em alguns minutos a polícia aparece e faz uma série de perguntas. Respondo a todas, e eles fazem o possível para ajudar. Até reviram o terreno abandonado ao lado.

Meu pai e Joana chegam para dar uma força e Barbara aparece desesperada com as tias de Cecília, em seguida. Elas se abraçam, chorando muito, e eu passo a mão no cabelo, frustrado pela falta de notícias.

Quando o Marcelo chega, nós dois batemos na porta de vizinho em vizinho, perguntando; buscando alguma pista. Voltamos para casa sem nenhuma resposta.

— Descobriram alguma coisa? — questiona Cecília, apertando minha mão.

— Nada. Desculpa — murmuro em voz baixa.

Cecília soluça, desesperada, e em resposta eu a aperto contra mim, nervoso. Ela está muito abatida, e eu tô tentando me segurar pra dar força a ela.

Mas só Deus sabe que o meu autocontrole está por um fio.

O policial diz que não há mais o que fazer; somente aguardar notícias. Eu me sento no sofá com o rosto enterrado nas mãos, totalmente desolado e, depois de muito tempo, faço uma oração a Deus, pedindo ajuda.

Tomo a iniciativa de revirar o bairro mais uma vez com o Marcelo à procura do meu filho. E falhamos miseravelmente em encontrar alguma pista.

Não sei mais o que fazer!

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora