Bernardo
Deixo a casa do Marcelo, com o celular parcialmente carregado. Eu o puxo do bolso quando começa a vibrar. Toco na tela e o rosto lindo da Cecília aparece sorridente no identificador de chamadas.
— O que é? — atendo.
— Bernardo! — Eu me sobressalto quando ela soluça, respirando com dificuldade. — Me ajuda, por favor.
Aperto o celular, tenso.
— O que está acontecendo? — Já estou em cima da Harley, morto de preocupação. Enfio a chave na ignição, nervoso.
— É o Carlinhos! — Ela chora. — Ele...
— O que tem ele? — Um alarme soa na minha cabeça e o meu coração fica repentinamente acelerado.
— Alguém o levou, Bernardo! — Ela começa a chorar, desesperada, e a calma que estou tentando manter vai por água abaixo.
— Quem, pelo amor de Deus? Cadê ele, Cecília? — As lágrimas caem dos meus olhos e eu não me preocupo em contê-las.
— Quando você saiu, alguém entrou aqui no quarto. Não sei quem era... empurrou-me e levou o bebê... — Soluça. — Eu tentei correr atrás, mas não o achei, Bernardo. Me perdoa por não cuidar dele.
— Ei, isso não é culpa sua! Você é a melhor mãe do mundo. Tenta se acalmar que estou chegando aí. Fica dentro de casa e tranca a porta, entendeu? — murmuro nervoso, ligando a moto.
— Tá bom. — Cecília funga e desliga.
Piloto a moto como um louco, sem me importar com a velocidade. Preciso recuperar meu filho e dar apoio a minha mulher. Juro que vou encontrar o filho da puta que levou o Carlinhos!
Chego em casa e largo a moto de qualquer jeito na calçada. Cecília abre a porta e se joga nos meus braços, soluçando. Cheiro os seus cabelos, desesperado, enquanto a aperto contra mim.
— Levaram o nosso neném, Bernardo. — Ela enterra o rosto no meu peito; seu corpo estremecendo com o desespero.
— Não chora. — Eu a conforto. — Nós vamos encontrar o nosso filho, eu juro.
— Promete?
— Sim, eu prometo.
Entramos na casa e eu a faço sentar no sofá. Preparo um copo de água com açúcar para nós dois na cozinha, já que eu também estou precisando.
Ela bebe tudo e aperta o macacãozinho do bebê nas mãos.
Quando eu a olho assim, sinto um aperto no peito sem tamanho. Caminho pela casa, passando as mãos no cabelo e ligo para a polícia. Eles atendem quase que imediatamente e dizem que já estão chegando.
Aproveito e aviso a Barbara e as tias da Cecília que ficam igualmente preocupadas. Elas dizem que já estão a caminho. Ligo para o Marcelo e para o meu pai, avisando. Todo apoio é necessário nessas horas.
Guardo o celular no bolso e passo em frente ao meu quarto. Fico estático, observando o berço do Carlinhos. Não consigo me controlar e choro como uma criança, olhando as coisinhas dele.
Nunca pensei que fosse sentir tanto desespero na minha vida, como o que estou sentindo agora. Saio dali relutante e entro na cozinha para deixar os dois copos vazios. Sigo de volta para a sala, sentando ao lado de Cecília que me abraça forte e conta cada detalhe do que aconteceu.
O filho da puta fugiu pela porta da frente mesmo. Nessas horas nenhum vizinho vê nada ou ouve alguma coisa, e isso me enche de raiva, porque Cecília diz que gritou, e eu sei que ainda estava cedo, então com certeza havia vizinhos que poderiam ter ajudado.
Em alguns minutos a polícia aparece e faz uma série de perguntas. Respondo a todas, e eles fazem o possível para ajudar. Até reviram o terreno abandonado ao lado.
Meu pai e Joana chegam para dar uma força e Barbara aparece desesperada com as tias de Cecília, em seguida. Elas se abraçam, chorando muito, e eu passo a mão no cabelo, frustrado pela falta de notícias.
Quando o Marcelo chega, nós dois batemos na porta de vizinho em vizinho, perguntando; buscando alguma pista. Voltamos para casa sem nenhuma resposta.
— Descobriram alguma coisa? — questiona Cecília, apertando minha mão.
— Nada. Desculpa — murmuro em voz baixa.
Cecília soluça, desesperada, e em resposta eu a aperto contra mim, nervoso. Ela está muito abatida, e eu tô tentando me segurar pra dar força a ela.
Mas só Deus sabe que o meu autocontrole está por um fio.
O policial diz que não há mais o que fazer; somente aguardar notícias. Eu me sento no sofá com o rosto enterrado nas mãos, totalmente desolado e, depois de muito tempo, faço uma oração a Deus, pedindo ajuda.
Tomo a iniciativa de revirar o bairro mais uma vez com o Marcelo à procura do meu filho. E falhamos miseravelmente em encontrar alguma pista.
Não sei mais o que fazer!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Luz Na Escuridão
RomanceCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...