Cecília
No momento, a minha única meta é conseguir ajuda. A mão ainda pressiona meus lábios e eu tento gritar, mas o som sai abafado.
— Fica quieta. Sou eu. — Uma voz murmura em meu ouvido, fazendo-me suspirar, aliviada.
A pessoa afasta a mão da minha boca.
— Bernardo?
— Sim — diz ele.
— Hm. Como você entrou?
— Pela janela. Eu a encontrei encostada.
— Eu me esqueci de trancá-la — murmuro.
— Isso é perigoso, sabia? Você é muito imprudente.
— O que você está fazendo aqui, afinal? — Decido ignorar o comentário anterior. — Você passa dias sem me dirigir uma palavra e aparece do nada aqui no meu quarto.
— Desculpa — diz ele com a voz meio urgente e eu consigo sentir o cheiro de álcool. — Eu queria te ver.
Ele bebeu! Isso deve tê-lo movido a vir aqui.
— Você andou bebendo?
— Não... quer dizer... sim. — Ele se enrola com as palavras, soltando uma risada baixa em seguida.
— Deu pra perceber! — Murmuro com ironia. — Você é maluco por ter vindo aqui e...
Ah, nossa!
O rosto do Bernardo pressiona a pele do meu pescoço. Um ruído de surpresa deixa meus lábios e eu tento conter o meu corpo traidor. A sensação de tê-lo tão perto é... muito boa.
— O q-que você pensa que está fazendo?!
— Por que o seu cheiro tem que ser tão bom?
Minhas bochechas estão pegando fogo nesse exato momento. E é claro que ele bebeu um pouco além da conta.
— Você está me deixando sem graça.
— Desculpa. Posso dormir com você? — Ele se afasta de mim.
Ele não fez essa pergunta! — penso, chocada.
— Claro que não! — Eu me afasto para trás e me sento sobre a cama; as costas pressionadas contra a cabeceira. Minhas bochechas estão incrivelmente quentes. — Acho melhor você ir embora.
Sinto a cama se afundar e é óbvio que o Bernardo está sobre ela. A sua respiração toca a minha bochecha me deixando arrepiada e eu acho que isso não tem nada relacionado ao clima.
— Por favor. — Ele segura minha mão. Elas estão quentes contra a minha palma. — Me deixa ficar. Eu juro que é só pra dormir. De manhã cedo eu vou pra casa, prometo.
— Bernardo...
— Estou implorando, Cecília. Não estou habituado a fazer isso — murmura. — Preciso de você. Acredita em mim.
Sinto um arrepio intenso.
Ele precisa de mim? Ouvir isso é como um soco na minha capacidade de pensar de forma coerente. Tenho certeza que a bebida está lhe dando coragem o bastante para dizer isso. O Bernardo sóbrio nunca agiria assim.
— Tudo bem. Pode ficar. — As palavras deixam minha boca e eu ignoro a vozinha na minha cabeça dizendo que eu irei me arrepender futuramente.
Sou pega de surpresa por um abraço.
— Valeu! — Diz, animado, enquanto ouço o barulho da chuva contra o teto. — Estou indo trancar a janela. Está chovendo.
O frio bom dentro do quarto me faz relaxar sobre a cama com um suspiro de satisfação.
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Uma Luz Na Escuridão
RomanceCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...