26 - desejo reprimido

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Bernardo

Nos quatro dias subsequentes, estou deitado com a Cecília na nossa cama. Estamos nos beijando alucinados e ela geme sob mim. É realmente incrível senti-la tão perto, sem restrições se eu não levar em conta sua pequena camisola e minha calça de moletom. Mas eu posso facilmente me livrar deles.

— Para! — murmura ela, me empurrando.

Fico confuso quando ela sai correndo para o banheiro. Ainda entorpecido de desejo e sem entender direito o que está acontecendo, sigo atrás dela.

— O que deu em você? — inquiro perplexo. Mesmo assim não consigo esconder a preocupação.

Vejo o seu corpo estremecer enquanto vomita dentro do vaso sanitário e se afasta para acionar a descarga. Ela parece exausta e caminha em direção à torneira sobre a pia.

— Fiquei enjoada — diz após lavar a boca.

— De mim?

— Não, deixa de ser bobo. — Ela sorri. — É por causa da gravidez, amor.

— Hm.

Ela enxuga a boca em uma toalha que eu entrego e voltamos para a cama... para dormir, é claro, porque Cecília não quis mais nada comigo pelo resto da noite.

Na verdade, contando com essa noite, essa é a quinta vez que ela não quer transar. Tudo não passou de beijos molhados e um baita tesão que eu tenho que reprimir, senão vou passar por tarado.

Pela manhã, acordo aborrecido e passo por Cecília na cozinha sem dizer uma palavra. Bato a porta atrás de mim e caminho sobre a calçada, de mau humor. Não tenho um rumo definido para ir agora, só quero caminhar um pouco e tirar essa tensão dos ombros. Também não estou no clima de ir pra sessão de terapia e só quero ficar sozinho.

Após um tempo observando o fluxo de pessoas e carros na rua e estando um pouco afastado de casa, encontro Priscila seguindo justamente na minha direção; a roupa tipicamente curta e um sorriso no rosto.

Merda, o meu dia tinha que ficar pior!

— Que cara irritada é essa, gato? — diz ela, se insinuando em minha direção.

Eu me afasto, colocando uma distância segura entre nós.

— Não é da sua conta! — Passo por ela que continua em meu encalço.

— O que a chata da Cecília fez pra te deixar assim? Eu aposto que...

— Cala a boca, porra! — murmuro sem paciência.

— Apesar de me tratar tão mal, eu sei que no fundo você é louquinho por mim. — Priscila entra na minha frente e se joga em meus braços, esfregando o corpo no meu sem um pingo de vergonha.

Inconscientemente, o meu amiguinho se alegra, já que não tem cérebro.

Eu sou homem, porra! E estou sem sexo faz um tempo.

Eu a afasto de mim, rangendo os dentes quando ela abre um sorriso de satisfação.

— Então quer dizer que a sua ceguinha não tá dando conta do recado? — Ela sorri triunfante.

— Cala a boca.

— Se você estiver se sentindo carente dá uma passadinha lá em casa durante a madrugada. Meus pais estarão dormindo e você pode me ver, na verdade fazer muito mais do que isso. É só pular a janela — diz satisfeita antes de se afastar em outra direção.

— Vá se foder! — digo, irritado.

— Você mesmo pode fazer isso comigo, gatinho. — Ela sorri, sumindo em outra rua.


Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora