42 - sobre ser espontânea

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Cecília

As coisas estão calmas nos últimos dias. Uma semana após aquele susto, nada de inesperado aconteceu.

São umas 09h30 da noite, quando eu dou de mamar ao Carlinhos enquanto tia Laura está na sala. Ela vai ficar com ele para que eu possa ir ao aniversário do Marcelo com o Bernardo. Deixo o Carlinhos com ela enquanto tomo um banho e troco de roupa. Enfio um vestido tubinho e calço um par de sandálias de salto baixo.

Penteio os cabelos, deixando-os soltos.

Logo ouço o barulho da moto do Bernardo e o som de suas botas contra o carpete. Sinto seu perfume e suas mãos em minha cintura um tempo depois, me trazendo em direção ao seu corpo. Espalmo seu peito, sentindo sua respiração cadenciada contra minha bochecha.

— Porra, Cecília!

Franzo o cenho.

— O quê? Não gostou da roupa?

— Claro que gostei. Você fica perfeita de preto. Combina — murmura, divertido. — Acho que terei que arrebentar uns caras nessa festa.

— Não seja bobo. — Eu o abraço, sorrindo.

— Vou tomar um banho.

— Estou na sala, quando sair.

— Tudo bem.

Caminho para o sofá, onde tia Laura está brincando com o bebê. Ele não quer dormir de jeito nenhum. Carlinhos chora muito quando percebe que eu e o seu pai iremos sair, mas minha tia tenta distrai-lo com seus brinquedos, o que ajuda um pouco.

Seguimos até a moto e, como o Bernardo prometeu não beber, estou bem mais tranquila. Ele está se esforçando para parar desde que decidiu voltar a fazer terapia e estou feliz por ele. Bernardo também começou a frequentar uma associação para alcoólatras anônimos e sua força de vontade é admirável.

Minutos depois já estamos na casa barulhenta do Marcelo. Pelos gritos, só posso supor que os convidados estão adorando a música eletrônica em um volume bem alto. Barbara veio muito antes de nós com o próprio aniversariante e a encontramos quando fomos entregar os presentes.

— Eu vou buscar uma bebida — murmura Bernardo quando nos afastamos do casal.

— Vai lá. Mas não demora. — Estremeço ao me lembrar da última vez que isso aconteceu.

— Ok. — Ele beija meus lábios antes de se afastar.

Bernardo realmente cumpre com sua promessa e volta logo depois, entregando-me um copo.

— É refrigerante.

Sorrio, levando a bebida à boca.

— Você está bebendo...?

— Refrigerante também. — Beija a minha bochecha.

Após terminarmos com nossos copos, dançamos algumas músicas até ficarmos completamente exaustos. Não sei quantas horas se passaram, mas acho que já está tarde.

A música cessa repentinamente.

— Chegou a hora de cantarmos os parabéns para o aniversariante da noite. — Ouço a voz de um garoto, através de algum microfone.

— Isso aí. Onde o Marcelo se meteu? — Bernardo grita e eu deito a cabeça em seu ombro, sorrindo.

— Aí está ele. Vem cá, Marcelo. Ainda vai ter um bolo — diz o mesmo garoto de antes.

Ouço vários gritos excitados e risadinhas.

— Já estou pronto. Podem começar, galera — murmura Marcelo, divertido, antes que cantemos a velha música.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora