35 - respostas

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Bernardo

Às 07 horas do dia seguinte, ainda estamos sem respostas. O sol nasceu e não descobrimos nada. Ninguém conseguiu pregar os olhos a noite inteira e durante a madrugada.

Cecília já não chora mais; está sentada quieta no sofá, abatida e sem esboçar qualquer reação. Ela ainda inala o cheiro do macacãozinho e meu peito aperta ao vê-la assim.

Na verdade, todos nós estamos sofrendo. Ninguém diz uma palavra e meu pai já fez uma oração com Joana, mas continuamos na mesma.

Estou completamente vazio por dentro.

Parece que uma parte de mim foi arrancada com violência e eu fiquei só com a casca. A única coisa que ainda me dá forças é o meu amor pela Cecília e a esperança de que vou encontrar o meu filho.

Dou um beijo na cabeça da minha garota antes de me levantar. Passo entre os amigos e o meu pai dá um tapinha de conforto no meu ombro.

Encosto a porta atrás de mim, quando saio, sentindo a brisa fria da manhã contra meu rosto.

Solto um suspiro de cansaço, observando a rua pouco movimentada e sombria. Acho que isso tem haver com o meu humor.

Algumas pessoas costumam dizer que determinada paisagem só fica bonita se você estiver feliz. Mas quando o inverso acontece, vemos tudo de uma forma diferente. Tudo fica estranho e se torna de alguma forma, feio e intimidante.

Uma folha cai lentamente de uma árvore ali perto e uma avó preocupada chama pela neta que está brincando na calçada do outro lado da rua. O carteiro passa na rua com a sua bicicleta amarela e desvia de um cachorro marrom que atravessa na sua frente quase sendo atropelado.

E enquanto as pessoas do bairro continuam com a sua vida despreocupada e normal, eu estou vivendo um verdadeiro inferno porque o meu filho foi sequestrado.

Dou meia volta e me viro para entrar em casa novamente quando um pensamento repentino passa pela minha cabeça. Pode até parecer loucura o que vou fazer, mas é melhor tentar do que ficar aqui esperando.

Puxo a chave da moto do bolso da calça, montando na Harley estacionada na calçada. Giro a chave na ignição e acelero no asfalto, sentindo a moto deslizar sob mim.

Depois de entrar em bairro após bairro, chego ao meu destino.

Estaciono em frente à casa de Priscila, descendo da moto. Seus pais estão na igreja já que hoje é domingo e ela deve estar sozinha em casa.

Dou a volta na casa até estar de frente para a janela do seu quarto. A janela de vidro está escondida pela persiana cor de rosa e não dá pra ver muito.

Pensei que o meu filho estivesse aqui, mas pelo visto me enganei. Espero que Deus me perdoe por ter acusado a Priscila dessa forma. Ela é doidinha, mas não seria capaz de fazer uma coisa dessas.

Desanimado, eu me viro para ir embora.

Estou próximo à minha moto quando ouço um choro.

Um choro familiar de bebê!

Meu coração acelera dentro do peito e eu fico em sentido de alerta quando corro de volta para a janela. O vento joga a persiana para o lado, me fazendo ter o vislumbre de um pezinho de bebê.

Abro um sorriso enorme de alívio e o medo some na mesma hora.

É o Carlinhos deitado naquela cama!

Meu filho!

Ele choraminga e a vagabunda da Priscila o pega nos braços e o sacode como um brinquedo. Ele chora ainda mais, assustado, e o ódio me corrói como fogo.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora