Bernardo
Às 07 horas do dia seguinte, ainda estamos sem respostas. O sol nasceu e não descobrimos nada. Ninguém conseguiu pregar os olhos a noite inteira e durante a madrugada.
Cecília já não chora mais; está sentada quieta no sofá, abatida e sem esboçar qualquer reação. Ela ainda inala o cheiro do macacãozinho e meu peito aperta ao vê-la assim.
Na verdade, todos nós estamos sofrendo. Ninguém diz uma palavra e meu pai já fez uma oração com Joana, mas continuamos na mesma.
Estou completamente vazio por dentro.
Parece que uma parte de mim foi arrancada com violência e eu fiquei só com a casca. A única coisa que ainda me dá forças é o meu amor pela Cecília e a esperança de que vou encontrar o meu filho.
Dou um beijo na cabeça da minha garota antes de me levantar. Passo entre os amigos e o meu pai dá um tapinha de conforto no meu ombro.
Encosto a porta atrás de mim, quando saio, sentindo a brisa fria da manhã contra meu rosto.
Solto um suspiro de cansaço, observando a rua pouco movimentada e sombria. Acho que isso tem haver com o meu humor.
Algumas pessoas costumam dizer que determinada paisagem só fica bonita se você estiver feliz. Mas quando o inverso acontece, vemos tudo de uma forma diferente. Tudo fica estranho e se torna de alguma forma, feio e intimidante.
Uma folha cai lentamente de uma árvore ali perto e uma avó preocupada chama pela neta que está brincando na calçada do outro lado da rua. O carteiro passa na rua com a sua bicicleta amarela e desvia de um cachorro marrom que atravessa na sua frente quase sendo atropelado.
E enquanto as pessoas do bairro continuam com a sua vida despreocupada e normal, eu estou vivendo um verdadeiro inferno porque o meu filho foi sequestrado.
Dou meia volta e me viro para entrar em casa novamente quando um pensamento repentino passa pela minha cabeça. Pode até parecer loucura o que vou fazer, mas é melhor tentar do que ficar aqui esperando.
Puxo a chave da moto do bolso da calça, montando na Harley estacionada na calçada. Giro a chave na ignição e acelero no asfalto, sentindo a moto deslizar sob mim.
Depois de entrar em bairro após bairro, chego ao meu destino.
Estaciono em frente à casa de Priscila, descendo da moto. Seus pais estão na igreja já que hoje é domingo e ela deve estar sozinha em casa.
Dou a volta na casa até estar de frente para a janela do seu quarto. A janela de vidro está escondida pela persiana cor de rosa e não dá pra ver muito.
Pensei que o meu filho estivesse aqui, mas pelo visto me enganei. Espero que Deus me perdoe por ter acusado a Priscila dessa forma. Ela é doidinha, mas não seria capaz de fazer uma coisa dessas.
Desanimado, eu me viro para ir embora.
Estou próximo à minha moto quando ouço um choro.
Um choro familiar de bebê!
Meu coração acelera dentro do peito e eu fico em sentido de alerta quando corro de volta para a janela. O vento joga a persiana para o lado, me fazendo ter o vislumbre de um pezinho de bebê.
Abro um sorriso enorme de alívio e o medo some na mesma hora.
É o Carlinhos deitado naquela cama!
Meu filho!
Ele choraminga e a vagabunda da Priscila o pega nos braços e o sacode como um brinquedo. Ele chora ainda mais, assustado, e o ódio me corrói como fogo.
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Uma Luz Na Escuridão
RomanceCecília é cega. Anos depois de perder a visão e os pais em um terrível acidente de carro, ela se muda para uma bela cidade em Santa Catarina, conhecida pelo inverno rigoroso. Tudo está perfeito, até ele aparecer. O primeiro dia na nova escola acaba...