O medo em mim.

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POINT OF VIEW - CAITLIN BLAKE.

– Me fale, você acertou na cabeça? – Jéssica perguntou pela milésima vez segurando a bandeja vermelha atrás de mim. – Foi na cabeça ou no, sei lá, no braço.

– Eu já te disse mil vezes. – revirei os olhos. – Eu só acertei. Não fiquei pra ver se ela ia acordar.

– É porque se tivesse ficado você teria certeza que a encontraria no refeitório nos encarando como se fossemos peixes prestes a serem comidos. – cruzei o cenho não entendendo. Ela fez sinal com a cabeça e eu virei um pouco o rosto para ver, Vivih estava lá me encarando feito uma louca.

Senti meu corpo estremecer sobre seu olhar em cima de mim junto ao seu grupinho, seja lá o que estaria passando pela cabeça dela agora, não era coisa boa. Mas afinal, que escolha eu tinha? Deixar que ela me matasse? Fiz o que qualquer um faria, mas sabia que iria encarar as consequências cedo ou tarde. 

– Ótimo. – murmurei sentando-me e Jéssica fez o mesmo. – Agora eu vou ter que me preocupar em não ser morta por uma escova de dentes.

– Tecnicamente não dá para ser morta com uma escova de dentes, isso só é coisa de filmes. Não percebeu como a sua escova é curta e flexível, tipo, bem flexível. Não percebeu? Isso é para nenhuma louca inventar de te matar ou se matar.

– Jéssica, eu tenho coisas mais importantes para me preocupar em vez da flexibilidade da escova. – soltei o ar pesado. Olhei a comida servida naquela bandeja e me dava náuseas, “É um bolo nutritivo, aí tem tudo que o seu corpo precisa.” Mas quando você olhasse, parecia um pedaço de tijolo feito de terra e grama.

 – Tipo o diretor Bieber?

– O que? – disse engasgada. Porque ela disse aquilo?

– Dá pra ver que ele fica no seu pé, sempre observando. – deu de ombros. – Foi ele que te prendeu aqui, não foi?

Sim, ele me prendeu aqui, ele me condenou, e eu tinha o beijado dentro da solitária. Como eu tinha deixado aquilo acontecer? Que espécie de pessoa doentia eu era? Tudo que eu tinha que fazer era odiá-lo, simplesmente odiá-lo, mas eu lembrava do cheiro dele e de como o toque dele era quente, e eu tinha medo da maneira que ele me olhava e da forma que  me fazia agir. Eu tinha medo.

– Sim, ele me prendeu aqui. – disse depois de um tempo. – E eu o odeio. – tente se convencer disso.  Ela me olhou de relance dando de ombros voltando a comer. Mas eu não conseguia porque eu pensava nele, eu pensava na boca dele, eu pensava no dia que ele me levou a júri.

Depois de alguns dias sem comer, meu estômago agradeceu por estar cheio. Jéssica continuou sentada quando eu levantei para levar a bandeja de volta, eu ainda recebia olhares por ser nova ali mesmo já não vestida mais de laranja.

Uma garota esbarrou de leve no meu ombro quando iria jogar o que sobrou no lixo, eu a encarei – porque é isso que se faz segundo Jéssica, não se deve demonstrar medo. Eu senti seu olhar do fio do meu cabelo até a ponta dos meus pés antes que ela se virasse de costas por completo. Mulher não tem nada de sexo frágil e sim selvagem.

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