Marcada.

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     A luz piscava a cada dois minutos e o ventilador balançava dando-me a impressão de que a qualquer momento ele cairia. Eu estava sentada em um chão frio que fazia a minha coxa ficar dormente, as mãos geladas e meu rosto inerte a qualquer tipo de reação.

Eu ainda vivia em um... Pesadelo.

    Eu tinha levado uma surra, tive meu cabelo cortado,  fui enforcada pelo promotor e agora apanhar no refeitório tinha entrado para lista. A garota do meu lado batucava as pontas dos dedos na grade e sussurrava alguns trechos de músicas.

– Você pode parar? – pedi a encarando através dos pequenos quadradinhos da grade. Ela encarou o chão e depois a mim. – Por favor.

Ela ergueu as mãos avisando ter parado. Essa garota era simplesmente maluca. Outra briga sem o menor motivo  qual eu fui a mais prejudicada pela segunda vez.

– Foi mal ter brigado com você no refeitório. – disse. – Não foi pessoal. Eu nem te conheço.

– Aqui nada é pessoal. – ironizei. – Ta vendo isso? – segurei as pontas do cabelo, ela se endireitou para ver. – Também não era pessoal para umas dez garotas que me arrebentaram no banheiro.

– É sério, eu não queria ter feito aquilo. – explicou-se e mesmo que não quisesse sua voz tinha arrependimento. Mas se não queria, porque fez? – Eu estava devendo para umas garotas aqui e você foi o pagamento da divida. – deu de ombros como se aquilo explicasse.

– Sou moeda de troca agora.- murmurei.

– Por enquanto é. – afirmou. – Você é nova e tem muita conversa rolando. Vivih vai ficar em cima de você, disso eu tenho certeza. Você tem sorte que fui eu dessa vez e não uma das loucas do bloco C.

– Essa Vivih é uma ruiva? – me ergui na grade ficando de pé, apertando  os dedos entre os espaços quadrados.

– A própria.

– Vamos, chega de conversa. Levante Jéssica que você vai ser transferida. – disse o guarda já abrindo a grade e a tirando de lá.

– E eu? – perguntei rápido.

– Blake, você só sai dai quando o diretor deixar.

A porta bateu e o eco se espalhou. Só estava eu, uma luz fodida e um ventilador pior ainda. Sozinha naquela sala.

*     *     *

     Eu tinha perdido a noção ainda mais do tempo, o rangido constante na minha cabeça e o silêncio apavorante. Sentia falta do meu quarto, do cheiro do meu shampoo, eu sentia falta dos meus pais, mesmo que só brigávamos, eu sentia falta até da escola. Sentia falta de tudo que ficava fora desses muros.

– Levante. – levei um susto chutando a bandeja de plástico no canto, a comida estava intacta. Afinal, quem consegue comer nessa situação? A porta abriu e ele estendeu um saco fino que dentro continha um colchão. – Você está sendo transferida, vamos pegar o uniforme.

Injeção Letal.Onde histórias criam vida. Descubra agora